Connect with us

Notícias

Celebração dos mártires coptas: Roma e Alexandria reafirmam ecumenismo de sangue

Por ocasião da primeira comemoração na Igreja Católica dos 21 mártires coptas da Líbia, realizou-se uma oração ecumênica na Capela do coro da Basílica de São Pedro. A celebração é realizada em um ano repleto de aniversários que marcam as relações entre a Sé de São Pedro e a Sé de São Marcos, 50 anos depois do primeiro encontro entre um Sumo Pontífice e um Patriarca Copta Ortodoxo desde o Concílio de Calcedônia em 1973, dez anos depois daquele de Francisco e Tawadros II.
Delphine Allaire – Cidade do Vaticano
É uma celebração rara que aquela realizada na Basílica de São Pedro na tarde de quinta-feira, 15 de fevereiro.  Tratou-se da primeira celebração conjunta da memória dos 21 mártires coptas, assassinados na praia de Sirte, Líbia, pelo autoproclamado Estado Islâmico, em 15 de fevereiro de 2015.
Nove anos mais tarde, a Igreja Católica e a Igreja Copta Ortodoxa, a maioria entre os cristãos do Egito, presta a eles uma homenagem conjunta durante a cerimônia presidida pelo cardeal Kurt Koch, prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Oferecidas pelo Patriarca de Alexandria Tawadros II em 11 de maio de 2023 ao Papa Francisco, as relíquias dos mártires foram expostas para a veneração dos fiéis. Presente precioso dada a grande importância dos mártires na fé copta.
Este passo é também significativo para a unidade dos cristãos e para a amizade entre coptas e católicos, reforçada pelos estreitos laços mantidos pelo Bispo de Roma e pelo Patriarca de Alexandria, como evidenciado pelo seu encontro na Praça em frente à Basílica de São Pedro no dia 11 de maio para a Audiência Geral.
No contexto desta celebração, entrevistamos o egiptólogo e orientalista belga Christian Cannuyer, diretor da Solidarité-Orient com sede em Bruxelas.

Sua Santidade Tawadros II veio a Roma a convite do Papa Francisco para celebrar conjuntamente os 50 anos do histórico encontro entre Paulo VI e Shenouda II. Na manhã desta …

 
Que significado tem esta primeira e rara celebração conjunta na Basílica de São Pedro em memória dos 21 mártires coptas ortodoxos?
Devemos vê-la como um sinal dos tempos, uma iniciativa profética. Pela primeira vez, a Igreja Católica inclui no martirológio romano santos pertencentes a uma Igreja que já não está em comunhão histórica com Roma. São mártires que são ao mesmo tempo irmãos separados. Isto corresponde ao ecumenismo de sangue, termo cunhado pelo Papa Francisco. Para além do diálogo teológico institucional, por vezes decepcionante pela sua lentidão, existe esta comunhão no sofrimento e na perseguição partilhada, particularmente no Médio Oriente, face ao fanatismo, por católicos, protestantes e ortodoxos. Este modelo precisa ser mais explorado. Rezo ao Céu para que em breve em todas as Igrejas separadas seja reconhecida a santidade dos mártires que, desde os tempos da separação marcaram a história das Igrejas com as quais infelizmente já não estamos em comunhão.
Suas relíquias foram expostas para veneração. Quão importante é a devoção a estes 21 mártires na Líbia no mundo copta há nove anos?
Os coptas têm uma sensibilidade muito aguçada em relação ao fenômeno do martírio. A era copta não começa com o nascimento de Nosso Senhor, mas no ano 284 dC, com o reinado de Diocleciano, que foi o imperador dos últimos cristãos perseguidos. É chamada de era dos mártires. As igrejas coptas estão repletas de ícones que representam antigos mártires, muitas vezes representados a cavalo, um símbolo do bem superando o mal. Hoje, desde a ascensão do Islamismo e dos problemas enfrentados pelo Egipto, há mártires cristãos regularmente. No Egpto, os coptas têm uma atitude exemplar para com estes santos perseguidos na nossa contemporaneidade.
Muitos dos meus amigos cristãos do Oriente, da Palestina, da Síria, do Iraque, ficam sempre surpreendidos com a reação das famílias coptas na televisão, quando uma delas acaba de perder um dos seus membros num ataque. Há tristeza, revolta, mas também este imenso orgulho de ter na família um santo mártir, um intercessor, um amigo privilegiado de Deus, testemunha por excelência da fé.
Além disso, aos mártires de fevereiro de 2015, foi construída com financiamento estatal uma grande basílica, um martyrium. É um lugar extraordinário onde estão expostos os mártires, há relíquias e estátuas; um lugar onde as famílias vão com as crianças e as crianças brincam entre as testemunhas. Longe de ser um lugar de desespero, é um lugar de fé, oração, comunhão e esperança no futuro da Igreja do Egito.

Em vista do Jubileu de 2025, Francisco decidiu criar um grupo de trabalho no Dicastério das Causas dos Santos para elaborar um catálogo de todos aqueles que derramaram seu sangue …

 
Como o senhor vê a criação, no verão passado pelo Papa, de uma Comissão para os novos mártires-testemunhas da fé, de todas as confissões cristãs?
Esta é uma intuição promissora. Um dia as Igrejas separadas deverão reconhecer a santidade destas testemunhas da fé que marcaram a história destas Igrejas desde a sua separação. Sempre fico surpreso, quando vou à Etiópia, por exemplo, ao ver a devoção que muitos cristãos ortodoxos têm pela pequena Teresinha do Menino Jesus. Da mesma forma, muitos cristãos católicos sentem grande admiração pela espiritualidade de São Serafim de Sarov. No Egito, a tão popular Virgem das aparições de Zeitoun em 1968, é na verdade a imagem da Virgem da rue du Bac que apareceu a Catherine Labouré. Estes capilares de santidade afectam as nossas Igrejas, apesar das separações históricas e teológicas que lhes se opõem.
Como evoluíram recentemente as relações entre Roma e Alexandria? Tawadros II e Francisco criaram um vínculo especial?
Em 1973, Shenouda III e Paulo VI assinaram uma declaração cristológica conjunta, reconhecendo que confessamos o mesmo Senhor Jesus Cristo, apesar das divisões da história. Tawadros II e Francisco decidiram comemorar todos os anos este acordo e torná-lo um dia de amizade e fraternidade entre a Igreja Copta e a Igreja de Roma. Eles são muito próximos e compartilham a mesma perspectiva ecumênica. Tawadros II desempenhou assim um papel nos laços estabelecidos pelo Papa Francisco com o Grão Imã de Al-Azhar Ahmed al-Tayeb, nomeadamente durante a assinatura da Declaração sobre a Fraternidade Humana em Abu Dhabi.
Tawadros II sucedeu a Shenouda III, que não era muito aberto ao ecumenismo e a uma certa modernidade teológica. Tawadros II quebrou essas amarras e comprometeu-se fortemente com o caminho ecumênico. Por exemplo, ele participou da consagração do Patriarca copta-católico Ibrahim Isaac Sidrak. Foi um primeiro gesto inesperado.
Um dos pontos em comum com Francisco é que Tawadros II encontra oposição sobre este assunto por parte de um segmento muito cauteloso da sua Igreja e do seu episcopado, tal como o Papa também encontra resistência. Atrevo-me a acrescentar que o mesmo se aplica ao Grão Imã de Al-Azhar. As relações do reitor da mesquita-universidade de Al-Azhar com Roma são desaprovadas por toda uma secção de ulemás, doutores da fé e do Islã egípcio.
Todos os três estão unidos por esta convicção de que a fraternidade humana deve sempre ter precedência sobre o exclusivismo teológico ou a solidariedade da capela. Todos os três estão convencidos de que Deus não permite que as pessoas se matem e se oponham umas às outras em seu nome. Todos os três encontram oposição nesta questão por parte daqueles que mantêm uma visão muito exclusivista, até mesmo “de guerra”, da religião.

Homilia (em italiano) do cardeal Kurt Koch

Num Oriente cristão com um horizonte obscurecido pelas guerras, qual pode ser o testemunho desta amizade entre coptas ortodoxos e católicos?
Esta é a prova de que as divisões da história e os mal-entendidos teológicos que não podem ser resolvidos em um instante – existem e devemos aceitá-los – não são um obstáculo à fraternidade. Isto aplica-se obviamente a nível ecumênico, entre Igrejas cristãs que partilham a mesma fé no mesmo Senhor e a mesma esperança escatológica, mas aplica-se também entre religiões abraâmicas ancoradas na mesma fonte, a fé do profeta e patriarca Abraão.
É uma ilustração da possibilidade de superar o ódio histórico, as divisões, os mal-entendidos, para reconstruir um tecido humano, fraterno e unido, e para garantir que o peso de Deus não pese demasiado sobre o homem deste Oriente que muitas vezes se distingue por uma dinamismo espiritual em todas as comunidades, longe do lado mais “desbotado” da vida espiritual no Ocidente. A contrapartida é que às vezes Deus é pesado demais e esmaga o homem. O que Francisco e Tawadros II estão fazendo é um exemplo que tem valor universal.
Qual é a atual vitalidade espiritual e pastoral da Igreja Copta Ortodoxa?
Desde a década de 1950, a Igreja Copta Ortodoxa tem experimentado uma extraordinária renovação espiritual que se reflete em particular na renovação da vida monástica. No início da década de 1950, os mosteiros no Egito eram o que são no Ocidente, na sua maior parte habitados por monges de cabelos grisalhos, frágeis e em pequeno número.
E houve um renascimento extraordinário sob a égide do Patriarca Copta Ortodoxo Cirilo VI, então figuras como Matta El Meskin. É uma renovação impulsionada por um fenômeno iniciado no início do século XX no Egipto copta, o das escolas dominicais, ou seja, este esforço de educação cristã que a Igreja iniciou no serviço aos leigos no final da Missa dominical: o estudo da exegese, da liturgia, de grandes figuras espirituais. Neste berço nasceram todas as grandes figuras reformadoras do atual monaquismo egípcio. Quando visitamos o Egipto, não podemos deixar de ficar impressionados com o fervor da população cristã do Egito. Às vezes, esta atitude espiritual faz-nos pensar na piedade dos nossos avós, na fé do carvoeiro, que nem sempre coloca muitas questões filosófico-teológicas elevadas; mas o dinamismo da Igreja do Egito, marcado nomeadamente pela frequência aos serviços religiosos e pelo respeito pelos jejuns, é bastante admirável.

No “Dia da amizade copta-católica”, as palavras de saudação do Papa Francisco ao Patriarca Tawadros, presente na Audiência Geral.

 
No atual contexto regional, como se posiciona a Igreja Copta Ortodoxa no Egipto em relação à guerra que assola as suas fronteiras, nomeadamente o sul da Faixa de Gaza?
Os coptas ortodoxos são árabes. Eles partilham todas as esperanças e ideais do Arabismo desde o início do século XX. A maioria dos cristãos no Egito são solidários com o povo palestino, e não apenas os cristãos em Gaza ou os cristãos na Cisjordânia que hoje atravessam tempos difíceis. Não é uma questão para os cristãos do Egito, nem para os egípcios, sancionarem o que aconteceu em 7 de outubro. Como disse o arcebispo de Argel, dom Jean-Paul Vesco, o drama do 7 de outubro é indesculpável, mas não é sem causa. O sofrimento do povo palestiniano e dos cristãos da Palestina afeta naturalmente os cristãos do Egipto. Durante muito tempo, o papado copta impediu-os de visitar Jerusalém, porque a cidade santa estava sob ocupação israelense. Tawadros II suspendeu a proibição em 7 de janeiro de 2022.

Continue Reading
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Notícias

O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

Continue Reading

Notícias

Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

Continue Reading

Notícias

África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

Continue Reading

Mais Vistos

Copyright © 2024 - Caminho Divino