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Eu, ex-fabricante de armas, afirmo: a guerra é uma loucura

Uma conversa com Vito Alfieri Fontana, que se especializou na desativação de minas antipessoais, depois de tê-las produzido com sua empresa. À mídia vaticana, o engenheiro da cidade italiana de Bari afirma o Papa tem razão quando diz que as pessoas querem pão e não armas.
por Alessandro Gisotti

“Manifesto minha proximidade às numerosas vítimas desses dispositivos traiçoeiros que nos lembram a dramática crueldade das guerras e o preço que as populações civis são obrigadas a pagar. Nesse sentido, agradeço a todos aqueles que oferecem sua ajuda, prestando assistência às vítimas e limpando as áreas contaminadas: o seu trabalho é uma resposta concreta ao chamado universal para sermos pacificadores, cuidando de nossos irmãos e irmãs. (Papa Francisco)”

“Pai, então és um assassino?”. A pergunta feita pelo filho de 8 anos ficará para sempre como uma lâmina no coração de Vito Alfieri Fontana. Mesmo hoje, a recordação disso não é fácil para este engenheiro bariense de 72 anos, que viveu duas vidas: a primeira como projetista e produtor de minas antipessoais letais à frente da Tecnovar, uma empresa familiar economicamente bem-sucedida. E depois a segunda, diametralmente oposta: a de responsável pelos desminadores nos Balcãs, um território devastado pelas guerras e infestado por essas armas sutis e mortíferas que são as minas.
Vito contou esta parábola dramática, dolorosa e ao mesmo tempo entrelaçada de coragem e esperança no livro escrito com o jornalista da Famiglia Cristiana, Antonio Sanfrancesco, com o título emblemático “Eu era o homem da guerra”.
Nesta entrevista aos meios de comunicação do Vaticano, o antigo fabricante de armas convertido em agente humanitário também comenta as palavras do Papa Francisco sobre o desarmamento e lança um premente apelo a quem, como ele no passado, produz e vende instrumentos de morte.

Francisco recordou o 25º aniversário da entrada em vigor da Convenção sobre a Proibição de Minas Antipessoais “que continuam atingindo civis inocentes, principalmente crianças”. …

 
Engenheiro, você disse nestes anos – também em seu livro “Eu era o homem da guerra” – que viveu duas vidas. A de produtor de minas e a de desminador, daqueles que tentam neutralizar esses instrumentos de morte. O divisor de águas não chegou de repente, mas amadureceu com o tempo. Antes de tudo graças ao seu filho…
Quando meu filho começou a crescer, ele começou a me fazer perguntas. Quando casualmente se deparou com o fato de eu produzir minas, fabricar armas, ele me perguntou: “Se fabricas armas, então és um assassino…”. São aquelas coisas que te fazem entender a percepção que vem de fora daquilo que você faz. Afinal, é a coisa mais simples de entender: quem fabrica armas, querendo ou não, ajuda a fazer mal aos outros. E meu filho também me disse talvez a coisa mais óbvia: “Pai, talvez outros façam armas, tantas pessoas no mundo, mas por que ru as deve fabricar?”. Estas palavras foram a primeira pedra de tropeço. 
Depois, na sua “conversão”, desempenhou um papel também padre Tonino Bello e em particular um jovem ligado ao bispo da Apúlia, presidente da Pax Christi…
Sim, em 1993, quando começou a campanha internacional pela proibição das minas antipessoal, naquele momento recebi um convite para falar vindo do padre Tonino Bello, da Pax Christi, da qual era presidente. Ele havia escrito no convite: “Procuremos encontrar um ponto de discussão. Será possível falar entre os homens de paz e os que fazem a guerra?”. Padre Tonino, que havia organizado este encontro, infelizmente não participou, porque nesse meio tempo faleceu. No entanto, o seu grupo quis manter esta discussão de qualquer maneira e me deparei com, não estou brincando, com duzentas pessoas que me questionaram fortemente. Respondi sem problemas, até que um jovem, voluntário da Pax Christi, me deixou abalado no final da discussão, ao perguntar: “Engenheiro, você pode até ser simpático, mas à noite, quando vai dormir, com o que sonha?” É possível que sonhes com uma bela guerra, é possível que sonhes com uma guerra para vender muitas minas?”.
Sua empresa, a Tecnovar, faturava bilhões de liras. Uma empresa familiar. Sua mudança de vida também encontrou muitos mal-entendidos e dificuldades. Mas você seguiu seu caminho. O que o levou a percorrer um caminho tão difícil?
Quando o prego bate em ti, o prego na tua cabeça, o verme da consciência, como se faz para colocar de novo a caneta na prancheta e planejar algo que pode prejudicar outras pessoas? A esse ponto, não se consegue mais fazer isso. Por que eu devo fazê-lo? Efetivamente, meu filho tinha razão. Claro que isso comporta mal-entendidos, que há o rompimento com uma parte da família, que te encontra, não exatamente com o vazio ao seu redor, mas tu entendes que os outros não querem entender… Porém, se segue em frente. 
O que você sentiu nas primeiras vezes que se viu do outro lado? Liderar, com a organização Intersos, a desminagem de áreas infestadas com minas antipessoal – particularmente na ex-Jugoslávia – semelhantes às que a sua empresa tinha produzido até recentemente?
É uma sensação ruim porque uma parte de ti se sente embaixo da terra. É uma sensação estranha, ou seja, tu sentes te perguntando por dentro: “Vistes o aprontaste?”. Os primeiros cinco minutos são assustadores, porque tu não sabes se será capaz de ir contra ri mesmo. Aí, no final, o medo passa… Mas, no começo, é constrangedor. Eu me senti muito mal e era muito severo comigo mesmo.
Você contou que, na sua vida de industrial das armas, participou de feiras e eventos onde conheceu mais ou menos sempre as mesmas pessoas. Eventos onde o dano causado com estas armas não era considerado…
Nessas ocasiões nunca se falou em vidas humanas. Uma mina terrestre é uma boa mina se conseguir perfurar uma placa de metal de 50 cm x 50 cm x 5 mm. Não há menção a homens, não há crianças que sejam consideradas. Não há soldados que depois perdem as pernas ou a vida… perfurar a placa, esse é o objetivo e é nisso que trabalhamos.
O epílogo de seu livro intitula-se “O passado que não passa”. O peso da primeira das duas vidas também se faz sentir na segunda, inevitavelmente… Dois milhões e meio de minas produzidas, algumas milhares desativadas. Um balanço desigual, observa com amargura. Também pela sua consciência…
Sim, se considerarmos apenas uma vida… O meu compromisso agora é também a favor de cerca de 10 mil pessoas em todo o mundo que fizeram o meu último trabalho, o de desminador. Pessoas que se esforçam todos os anos, todos os dias, todas as horas do dia para remover minas. Espero ter contribuído também ao destacar esse problema, ao encorajar essas pessoas que estão fazendo “milagres” nos últimos anos. Não estou falando apenas dos Bálcãs, estou falando da Ásia, da América, da África, com sucessos incríveis. Então, claro que o balanço que faço, como pessoa, é desigual, mas faço parte de um grupo incrível de pessoas que estão fazendo um grande trabalho.
A propósito desta última consideração, você também colaborou com Jody Williams, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, em favor da Campanha Global contra as minas antipessoal, que levou à Convenção de Ottawa. Um acordo citado positivamente pelo Papa Francisco na Exortação Apostólica “Laudate Deum”. Hoje não parece existir um movimento de base, popular, sobre o desarmamento como ocorrer para outras questões, por exemplo a crise ecológica…
Digamos que a Convenção de Ottawa tinha, em última análise, um inimigo bastante limitado. Os fabricantes de minas eram uma mínima parte e, sinceramente, nem sequer defensáveis… As questões ambientais envolvem muito mais pessoas e, portanto, naturalmente têm muito mais seguidores. Contudo, digo que pelo menos os cristãos devem ter sempre presente – não creio que me engane – que, no Evangelho, os pacificadores, os agentes de paz são o único grupo humano que Jesus define como “filhos de Deus: “Bem-aventurados os os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus”. Devemos sempre lembrar disso, é uma grande responsabilidade. Poderíamos ser apenas um, poderíamos ser 10 mil, mas se estivermos definidos de uma certa forma não podemos retroceder.
A guerra na Ucrânia, a guerra no Médio Oriente e depois muitos outros conflitos esquecidos, da Síria ao Iêmen. O Papa destacou muitas vezes um paradoxo: armamo-nos para nos sentirmos mais seguros, mas as guerras e, consequentemente, a insegurança global estão aumentando. Também o fez ao dirigir-se ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé em 8 de janeiro.. Na sua opinião, este círculo vicioso pode ser quebrado ou devemos resignar-nos a viver nesta situação?
Nunca resignar-se! Infelizmente, porém, 2024 é um ano conturbado: haverá eleições presidenciais nos Estados Unidos. Portanto, todos os acontecimentos internacionais, na minha opinião, girarão em torno dessa situação e haverá uma grande turbulência internacional. É claro que a certa altura os conflitos devem parar, porque as guerras não podem ser infinitas, e nesse momento será necessário intervir. Teremos um ano difícil, depois do qual será necessário arregaçar as mangas e tentar curar as feridas que todos nós, como comunidade humana, infligimos aos nossos irmãos.
O Papa também disse no dia de Natal que as pessoas querem pão, não armas. Madre Teresa fez um apelo semelhante, recebendo o Prêmio Nobel da Paz, em 1979…
Devemos estar cientes de que as armas são detidas por apenas cerca de 1% da população quando há uma guerra. As armas são operadas, usadas ou programadas por muito poucas pessoas em comparação com os danos que causam. O que vi ao entrar nestes palcos de guerra, nestas realidades devastadas, é que as pessoas precisavam – como diz o Papa – de pão, precisavam de trabalho, de reconstruir, e certamente não precisavam de armas! E isso é verdade para 99% das pessoas. Esse fato sempre me impressionou: que poderias reunir antigos ex-inimigos desde que os colocasse para trabalhar, ou seja, lhes desse um emprego, um salário adequado para que pudessem voltar para casa com dignidade. Então eu realmente vi antigas rivalidades morrerem. Ortodoxos, católicos, muçulmanos, mas também muitos ateus trabalharam comigo na minha atividade de desminagem… E não havia problema quando uma pessoa colaborava com outras e levava pão para casa: essa é a perspectiva que a política deveria ter: distribuir pão em vez de armas ! Não pão – digo eu– dado ou roubado, mas pão ganho. Os trabalhos devem ser planejados, a recuperação, as reconstruções… a irrigação e as energias alternativas devem ser planejadas.
“Para dizer ‘não’ à guerra, devemos dizer ‘não’ às armas”, disse o Papa no dia de Natal. “Porque – acrescentou – se o homem, cujo coração está instável e ferido, encontra nas mãos instrumentos de morte, mais cedo ou mais tarde os usará”. O que você acha com base também na sua experiência pessoal?
Gostaria de completar estas palavras do Papa assim: fazer a guerra é como derrubar uma árvore. Fazer a paz é como plantar uma árvore. Para derrubar uma árvore não se precisa de nada, precisas de uma arma! Para fazer a paz é preciso plantar a árvore, é preciso semear, cuidar para vê-la crescer. Portanto, ao sofrimento do momento de guerra segue-se o desconforto, o cansaço e o sofrimento da reconstrução. É uma loucura. O uso de armas é uma loucura! Existem todas as possibilidades de viver cooperativamente, mesmo que penses de forma diferente. Trabalho e dignidade. Resumindo, não sei por que não se quer entender isso.
Você tem hoje 72 anos e viveu intensamente e com uma trajetória de vida incomum. O que diria àqueles que, como você no passado, produzem e vendem armas? Por que ela pararia de fazer isso, como fez?
Eu me dirigiria mais àqueles que sentem que têm fé. Já conversei com muita gente sobre isso. Se você me disser para produzir o motor de um carro ou o motor de um tanque, eu não terei dúvidas… Digo isto: se você tem fé, você deve ser consistente. Principalmente nós que acreditamos na Palavra de Deus, na Bíblia, como podemos nos odiar a ponto de destruir as esperanças dos outros, dos nossos irmãos? Isso é tudo que eu gostaria de dizer.

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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