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O sacerdócio na sociedade do espetáculo

O que significa a sociedade do espetáculo? Como viver o sacerdócio na sociedade do espetáculo? O que significa ser homem de Deus nessa sociedade? O artigo de Dom Edson Oriolo.
Dom Edson Oriolo – Bispo da Igreja Particular de Leopoldina, MG
Sacerdócio, sacerdote, essência do sacerdócio ministerial e homem do sagrado são temas preciosos, que venho aprofundando com maior intensidade, principalmente, depois que fui chamado ao episcopado. A preocupação em aprofundar esses temas é causada por observar os incontáveis cenários que se apresentam e pelos desafios para exercer com ardor o episcopado, isto é, a plenitude do sacerdócio.
Tenho plena certeza de que, exercer o episcopado numa sociedade do espetáculo é um enorme desafio. Essa realidade está ganhando espaço nesse tempo, mas nos ajudará a encontrar razões e solidificará os propósitos que assumimos no dia da ordenação sacerdotal. Papa Bento, na homilia da Quinta-feira Santa- 2006, nos chamou atenção: “O mundo tem necessidade de Deus – não de um deus qualquer, mas do Deus de Jesus Cristo, do Deus que se fez carne e sangue, que nos amou a ponto de morrer por nós, que ressuscitou e criou em si mesmo um espaço para o homem. Esta é a nossa vocação sacerdotal: somente deste modo o nosso agir presbiteral pode dar fruto (…) Ser sacerdote significa tornar-se amigo de Jesus Cristo, e isto cada vez mais com toda a nossa existência”.
Sociedade do Espetáculo
O que significa a sociedade do espetáculo? Como viver o sacerdócio na sociedade do espetáculo? O que significa ser homem de Deus nessa sociedade?
O criador do conceito “sociedade do espetáculo” foi o francês Guy Debard, que definiu o espetáculo como o conjunto das relações mediadas pelas imagens. A palavra “espetáculo”, na raiz, está ligada a espectador, ou seja, “aquele que assiste”. Não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediatizada por imagens.
Na “sociedade do espetáculo”, a aparência torna-se algo importante, bem como a produção de imagens e a valorização da dimensão visual da comunicação como instrumento de exercício do poder e de dominação social. No espetáculo, o fim não é nada, o desenrolar é tudo. O espetáculo não deseja chegar a nada que não seja ele mesmo” (cf. Debard, A Sociedade do Espetáculo, p 13-25)
A imagem, obviamente, é algo para ser visto. Mas nem toda imagem está inserida na lógica do espetáculo. Uma imagem natural – lago, cachorros, montanhas ao fundo, campo – é apenas uma paisagem, ou uma imagem natural. No entanto, se o espaço for loteado para a venda e a paisagem utilizada como sedução para atrair compradores, o cenário se converte em mercadoria e ganha valor de imagem.
Na sociedade do espetáculo, quanto mais a pessoa se apresenta por meio de determinada estética (roupas, maquiagem, gestos ensaiados e palavras de ordem), mais se rende à lógica do espetáculo, à medida que expressa sua rebeldia visualmente. O espetáculo apresenta-se como uma enorme positividade indiscutível e inacessível. Ele nada mais diz senão que “o que aparece é bom, o que é bom aparece”.
A vida é cada vez mais moldada pelo espetáculo: o teatro, a moda, a arquitetura, a gastronomia, o sexo, os jogos, a música, a televisão, o filme, os esportes, as celebridades, a economia. É a espetacularização da realidade, a dramatização da vida e, infelizmente, a compreensão do sacerdócio está entrando nessa onda. Acredito que, muitas vezes, pela ignorância em relação à falta de compreensão e de entendimento sobre a dimensão sacramental do sacerdócio.
Espetacularização do ser sacerdote
Papa Bento nos ensinou que o “ser sacerdote, na Igreja, significa entrar nesta autodoação de Cristo, mediante o sacramento da ordem, e entrar totalmente nela. Jesus doou a vida por todos, mas de modo particular consagrou-se por aqueles que o Pai já lhe tinha confiado, para que fossem consagrados na verdade, isto é, nele, e pudessem falar e agir em seu nome, representá-lo, prolongar os seus gestos salvíficos: partir o pão da vida e perdoar os pecados” (Homilia, 3 de maio de 2009).
No entanto, devido à espetacularização da realidade, alguns valores em relação ao sacerdote e sua missão estão ficando de lado, como por exemplo: a comunhão, a obediência, o sacrifício, a partilha, a corresponsabilidade, a diocesaneidade, o serviço, o grau hierárquico, o mistério, o sagrado, a entrega, a doação, a caridade, a fraternidade, a solidariedade, etc. O sacerdócio não significa status, mas um dom recebido que estimula em fazer o mesmo que Jesus fez: “servir”.
Nesta sociedade do espetáculo, o sacerdote vem perdendo a sua vida interior. O mais importante é fazer shows nas celebrações litúrgicas ou paralitúrgicas e ser show man. O verdadeiro sentido da comunhão com Cristo está ficando em segundo plano. Bento XVI adverte: “(…) o nosso ser sacerdote nada mais é que um novo e radical modo de unificação com Cristo. Esta foi-nos substancialmente concedida para sempre no sacramento. Mas, este novo timbre do ser pode tornar-se para nós um juízo de condenação, se a nossa vida não se desenvolver entrando na verdade do sacramento” (idem).
O saudoso São João Paulo II escreveu que: “o sacerdote não deve ter qualquer receio de estar ‘fora do tempo’, porque o ‘hoje’ humano de cada sacerdote está inserido no ‘hoje’ de Cristo redentor. A maior tarefa de cada sacerdote em todo o tempo é o conhecer, o dia a dia, o seu ‘hoje’ sacerdotal no ‘hoje’ de Cristo, naquele ‘hoje’ de que fala a carta aos Hebreus. Este ‘hoje’ de Cristo está inserido em toda a história – no passado e no futuro do mundo, de cada homem e de cada sacerdote. Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje; Ele o será para a eternidade (cf. Hb 13,8). Se estamos, portanto, inseridos com o nosso ‘hoje’ humano e sacerdotal no ‘hoje’ de Jesus Cristo, não existe o perigo de virmos a ser de ‘ontem’, isto é, desatualizados. Cristo é a medida de todos os tempos” (João Paulo II, PP. Dom e mistério, p. 97-98).
Nesse “hoje de Deus” e nessa sociedade do espetáculo, o sacerdote muitas vezes vem perdendo o significado da vida interior. Muitas vezes, perde o contato com Cristo na Eucaristia e em outros exercícios de piedade. Perde o encanto de estar numa autêntica intimidade com Cristo. O sacerdote deve ser o eterno amigo de Cristo. É muito triste ver um sacerdote que, aos poucos, está perdendo o encantamento em viver e agir in persona Christi.
No entanto, sabendo da força que a realidade do espetáculo nos impõe, somos chamados à compreensão do nosso sacerdócio para sermos e agirmos com maestria nesse mundo do espetáculo. A sociedade do espetáculo nos condiciona a perder o verdadeiro sentido da dimensão ontológica e funcional do sacerdócio.
Ser sacerdote: a configuração com Cristo
“Pelo sacramento da ordem, os presbíteros configuram-se a Cristo sacerdote (…) e por razão especial têm obrigação de adquirir tal perfeição (…) instrumentos vivos de Cristo, eterno sacerdote (…). Como, pois, todo sacerdote faz a seu modo as vezes da pessoa de Cristo, é também enriquecido com uma graça particular para, servindo ao povo a ele confiado e a todo o povo de Deus, possa alcançar mais aptamente a perfeição daquele de quem faz as vezes, e para que a santidade daquele que por nós se fez pontífice ‘santo, sem mancha, separado dos pecadores’ (Hb 7,26) cure a fraqueza da carne humana” (Presbyterorum Ordinis, 12).
“O sacerdote deve ser um homem que conhece Jesus a partir de dentro, que se encontrou com ele e aprendeu a amá-lo. Por isso, o sacerdote deve ser, antes de tudo, um homem de oração, um homem realmente ‘espiritual’. Sem este forte conteúdo espiritual ele não é capaz de perseverar em seu ministério com o passar do tempo. Deve aprender também com Cristo a não construir uma vida interessante e agradável para si, mas trabalhar para Cristo, centro único de toda pastoral” (Ratzinger, J. Compreender a Igreja hoje, p.80).
Bento XVI sempre se preocupou com a identidade do sacerdócio. O sinal mais evidente do seu desejo de reorientar a identidade do presbitério, mediante o significado da vida ministerial e da formação eclesiástica, foi a indicação do ano sacerdotal, que desejou dedicar à figura de João Batista Maria Vianney, mais conhecido como o Santo Cura d’Ars, na circunstância do 150º aniversário de sua morte. Esse homem representava o modelo do “apaixonado por Cristo” e o verdadeiro segredo de seu êxito pastoral era “o amor que nutria pelo mistério eucarístico anunciado, celebrado e vivido, que se tornou amor pelo rebanho de Cristo, os cristãos, e por todas as pessoas que procuram a Deus” (Ganswein, Georg. Nada Além da Verdade, p.133).
O sacerdote, na dinâmica ontológica-funcional
O Papa Bento sempre teve em mente que a visão comum no mundo moderno tem dificuldade em relação ao sagrado, enquanto a funcionalidade se torna a única categoria decisiva, de sorte que a concepção católica do sacerdócio poderia correr o risco de perder sua consideração natural, às vezes inclusive no interior da consciência eclesial.
“Não raro, quer nos ambientes teológicos, quer também na prática pastoral concreta e de formação do clero, confrontam-se e, por vezes, opõem-se dois conceitos diferentes de sacerdócio. Por um lado, uma concepção social-funcional que define a essência do sacerdócio com o conceito de serviço: o serviço à comunidade, no cumprimento de uma função… Por outro lado, existe a concepção sacramental-ontológica que, naturalmente, não nega a índole de serviço do sacerdócio mas, ao contrário, vê-se ancorada no ser do ministro e considera que este ser é determinado por um dom concebido pelo Senhor através da mediação da Igreja, cujo nome é sacramento” (Audiência geral de 24 de junho de 2009).
Destarte, vem o questionamento: Como conciliar as duas perspectivas atuais: a ontológica-sacramental, vinculada ao primado da Eucaristia (binômio “sacerdócio-sacrifício”), e a segunda, a posição sociofuncional, que corresponde ao primado da Palavra e do serviço do anúncio?
Assim, a grande preocupação do papa Bento foi reiterar que “o sacerdote é servo de Cristo, no sentido de que a sua existência, configurada com Cristo ontologicamente, assume um caráter essencialmente de relação: ele está em Cristo, por Cristo e com Cristo a serviço dos homens. Precisamente porque pertence a Cristo, o presbítero está radicalmente a serviço dos homens: é ministro da sua salvação, da sua felicidade, da sua autêntica libertação, amadurecendo nesta progressiva assunção da vontade de Cristo, na oração, no ‘estar coração com coração’, com ele. Assim, esta é a condição imprescindível de todo o anúncio, que requer a participação na oferenda sacramental da Eucaristia e a obediência dócil à Igreja”. (Ganswein, Georg, Nada além da verdade, p.134).
O papa Bento continua especificando que “o sacerdote não é simplesmente o detentor de um ofício, como aqueles de que toda a sociedade necessita, para que possam cumprir nela certas funções. Ao contrário, o sacerdote faz o que nenhum ser humano pode fazer por si mesmo: pronunciar em nome de Cristo a palavra de absolvição de nossos pecados, transformando assim, a partir de Deus, a situação de nossa vida. Pronuncia sobre as oferendas do pão e do vinho as palavras de graças de Cristo, que são palavras de transubstanciação, palavras que tornam presente ele mesmo, o Ressuscitado, seu corpo e seu sangue, transformando assim os elementos do mundo, são palavras que abrem o mundo a Deus e o unem a ele. Portanto, o sacerdócio não é um simples ‘oficio’, mas sim um sacramento: Deus se vale de um homem com suas limitações para estar, através dele, presente entre os homens e atuar em seu favor” (Idem, p.134-135).
Bento XVI alerta que, no mundo do espetáculo, o sagrado é cada vez menos compreendido e o funcional exaltado como única categoria determinante. Ratzinger sempre ensinou que aquilo que é essencial do sacerdócio é um poder do alto e uma missão divina. O sacerdócio é algo estabelecido do alto, não de baixo, de uma eleição popular. Tem sua raiz em Cristo e apontou o risco de se reduzir o sacerdócio a uma mera função ou serviço humano.  
A doutrina católica em relação ao sacerdócio põe ênfase, claramente, no aspecto ontológico do ser sacerdotal, e com isso sublinha o caráter de serviço, isto é, um serviço à comunidade, mas trata-se de uma promoção ao serviço de Cristo Mestre, sacerdote e Rei; é a participação de seu ministério, pelo que a Igreja é edificada como povo de Deus, corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. O caráter ontológico está intimamente relacionado ao caráter funcional do serviço. Ambos não podem se desvincular no exercício do ministério ordenado.
As três dimensões sacerdotais
Papa Francisco, no dia 26 de março de 2014, na Praça de São Pedro, falou de três aspectos da missão do sacerdote. Nesses três aspectos, revela uma missão pastoral, teológica do mesmo em relação ao povo de Deus na sua constituição histórica cultural. Primeiro ele é colocado como “chefe da comunidade” na dinâmica e autoridade do serviço. “Filho do homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgaste por muitos” (Mt 20,25-28; Mc 10,42-45). O sacerdote é “um apaixonado pela Igreja”. Em virtude do sacramento da ordem, o sacerdote dedica-se inteiramente à própria comunidade, amando-a com todo o seu coração: é a sua família. E o terceiro “reavive sempre o seu dom”. O ministério do sacerdote com a oração, com a escuta da Palavra de Deus e com celebração cotidiana da Eucaristia, mas também com a frequência no sacramento da penitência, acaba-se inevitavelmente por perder de vista o sentido autêntico do próprio serviço e a alegria que deriva de uma profunda comunhão com Jesus.
O sacerdote, quando reavive o dom do seu ministério, torna-se um apaixonado pela Igreja de Jesus Cristo e vivencia a dinâmica do serviço e da autoridade na vida da comunidade que lhe foi confiada. Mergulha profundamente na missão e sai para ajudar e dinamizar a comunidade. É capaz de sair da zona de conforto onde se encontra e visitar as pessoas onde elas se encontram, sendo sinal de esperança.
Conclusão
Assim sendo, através das suas homilias, Papa Francisco, nas celebrações das Santas Missas Crismais de 2014 a 2017, nos orientou que o sacerdote é “servo de Cristo”. Sua existência, ontologicamente configurada com Jesus, adquire uma índole essencialmente relacional: ele vive por Cristo, com Cristo e em Cristo, a serviço dos homens. A identidade do sacerdote e a missão são uma realidade unitária e indivisível. Nesse sentido, o sacerdote para uma “Igreja em Saída” é aquele em cujo ministério não há separação e, menos ainda, antagonismo entre ser e fazer, mas justaposição. A eclesiologia e, por conseguinte, o sacerdócio, no pensamento de Francisco, se caracteriza no binômio “identidade-missão”.
Somente vivendo intensamente este binômio, assumindo o viver em Cristo e servindo com generosidade e alegria ao povo de Deus, o sacerdócio poderá enfrentar os desafios da sociedade do espetáculo. Será, então, sinal do Cristo servidor!
Bibliografia
Concílio Vaticano II, Decreto sobre o Ministério e a Vida Sacerdotal Presbyterorum Ordinis
Debord, Guy. A Sociedade do Espetáculo, 14 reimpressão, Rio de Janeiro, Contraponto, 2016
Ganswein, Georg. Nada Além da Verdade, Campinas: Ecclesiae, 2023
Oriolo, dom Edson, Ser Sacerdote, São Paulo: Paulus, 2019
Paulo II, João. Dom e Mistério, São Paulo: Paulinas, 1998
Ratzinger, J. Compreender a Igreja hoje, 4 edição, São Paulo: Editora Vozes, 2014

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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