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Fernández: com novas normas, mais fácil chegar a conclusão sobre Medjugorje

O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, durante a coletiva de imprensa de apresentação das novas regras para discernir alegados fenômenos sobrenaturais, respondeu aos jornalistas sobre o “caso Medjugorje”
L’Osservatore Romano
“Medjugorje ainda não foi concluída, mas com estas normas pensamos que será mais fácil seguir em frente e chegar a uma conclusão”. Foi o que afirmou o cardeal Víctor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, durante a coletiva de imprensa de apresentação das novas normas para discernir supostos fenômenos sobrenaturais, respondendo à pergunta de uma jornalista, acrescentando que “sobre outros casos que estão presentes há muitos anos no Dicastério, com estas normas será mais fácil chegar a uma conclusão prudencial”. Depois acrescentou: “Em muitos casos estes fenômenos cresceram bem e normalmente. Às vezes um fenômeno pode ser facilmente gerido, não existem problemas, há frutos positivos: foi o que aconteceu na maior parte dos santuários. Muitos santuários muito frequentados pelos fiéis tiveram originalmente uma experiência” semelhante. “Nunca houve uma declaração, nem do bispo, nem do Dicastério, de ninguém e cresceram normalmente sem problemas como devoção popular”. Em suma, “para que um belo fenômeno cresça”, explicou o cardeal, “não é necessária uma declaração de sobrenaturalidade. No caso de Lourdes, Fátima, Guadalupe, o enorme crescimento não dependeu de uma declaração de sobrenaturalidade”.

Do nulla osta ao julgamento negativo: são seis os votos diferentes para discernir os casos previstos no documento do Dicastério para a Doutrina da Fé aprovado pelo Papa. Como …

 
E a uma segunda pergunta relativa ao mesmo tema o purpurado respondeu: sobre “Medjugorje, vejamos. Porque, por exemplo, eu não li o material que está no Dicastério, conheço alguns detalhes, mas devemos começar a estudar para chegar a uma conclusão com estas novas normas. Levem em consideração que um fenômeno pode ser considerado bom, não perigoso na origem e pode apresentar alguns problemas no seu desenvolvimento posterior. Por isso, por vezes, uma declaração deve esclarecer estas diferentes fases: essa é uma diferença que deve ser considerada. E depois também suponhamos que exista um nulla osta, um nihil obstat, ao mesmo tempo talvez será necessário esclarecer que alguns detalhes não devem ser levados a sério. Porque se bem me lembro, creio que Nossa Senhora também dava algumas ordens ali, especificando a hora, o local, o que o bispo tinha que fazer, etc. Isso terá que ser esclarecido.”
O caso “Medjugorje”
 
As vozes e os testemunhos das pessoas devotas da Gospa – a Senhora, a Madonna, em croato – são a narrativa mais forte, que dura há quase 43 anos, do “fenômeno” Medjugorje. Até 24 de junho de 1981, o nome desta pequena localidade da Bósnia e Herzegovina (então na Jugoslávia comunista), na Diocese de Mostar-Duvno, era conhecido apenas por aqueles que viviam na região. Hoje é um ponto de referência espiritual, mas também uma peregrinação física, para um grande povo.
Duas meninas de 15 e 16 anos, Ivanka Ivanković e Mirjana Dragičević, contaram ter visto – enquanto caminhavam em uma colina pedregosa chamada Podbrdo, às 16h do dia 24 de junho de 1981 – uma figura feminina em uma pequena nuvem. Pouco depois, Vicka Ivanković, prima de Ivanka, juntou-se às duas meninas. Todas as três disseram que viram a figura misteriosa novamente, desta vez com uma criança nos braços, identificando-a imediatamente como a Virgem Maria. Ivan Dragičević, Jakov Čolo e Marija Pavlović são os outros três jovens que compunham o grupo dos chamados “videntes”. Os seis jovens falaram das aparições de Maria que teria se apresentado como a “Rainha da Paz” com uma mensagem que, fundamentalmente, é um convite à reconciliação e à conversão.
A partir daquela tarde e daquelas narrativas – em um pedaço de terra remoto que em breve testemunharia uma guerra sangrenta – começou uma história que está deixando uma marca na vida da Igreja, atingindo, de diferentes formas, milhões de pessoas: entre adesões e conversões – com longas filas nos confessionários e participação extraordinária na Adoração Eucarística – mas também entre fortes ceticismos e intensa oposição.
A declaração de Zara
 
Precisamente diante do crescimento das experiências ligadas a Medjugorje, em 1991 os bispos da Jugoslávia afirmaram, na chamada “Declaração de Zara”, que, com base nas investigações realizadas até então, não era possível afirmar que eram aparições e fenômenos sobrenaturais.

Um comentário sobre as novas normas relativas a presumidos fenômenos sobrenaturais.

 
A Comissão Internacional de investigação
 
Para esclarecer os acontecimentos de Medjugorje, Bento XVI criou, em 17 de março de 2010, uma Comissão internacional de investigação na então Congregação para a Doutrina da Fé. A Comissão, presidida pelo cardeal Camillo Ruini, havia reunido e examinado, em 17 reuniões, “todo o material” sobre o tema e apresentoado ao Papa “um relatório detalhado”, com o voto relativo sobre “a sobrenaturalidade ou não” do aparições e indicando as “soluções pastorais” mais adequadas.
Para chegar às suas conclusões, a Comissão examinou toda a documentação depositada no Vaticano, na paróquia de Medjugorje e também nos arquivos dos serviços secretos da ex-Jugoslávia. Foram ouvidos os supostos “videntes” e testemunhas. Além disso, em abril de 2012, havia realizado uma averiguação em Medjugorje. Este trabalho prosseguiu durante quase quatro anos, até 17 de janeiro de 2014: o relatório conclusivo foi entregue ao Papa Francisco.
A respeito de Medjugorje, respondendo a uma pergunta durante a coletiva de imprensa no avião de regresso da Viagem Apostólica a Fátima, no dia 13 de maio de 2017, o Papa Francisco lembrou que “todas as aparições ou supostas aparições pertencem à esfera privada, não fazem parte do magistério público ordinário da Igreja”. E fez referência, em particular, ao trabalho da Comissão de Investigação, distinguindo três aspectos: “Sobre as primeiras aparições, quando [os “videntes”] eram jovens, o relatório diz mais ou menos que se deve continuar a investigar. Em relação às alegadas aparições atuais, o relatório tem as suas dúvidas” e “terceiro – disse o Pontífice – o próprio cerne do relatório-Ruini: o fato espiritual, o fato pastoral, pessoas que vão lá e se convertem, as pessoas que se encontram com Deus, que têm uma transformação em sua vida. Para isso não existe varinha mágica, e este fato espiritual-pastoral não pode ser negado”.
A nomeação de Hoser: enviado especial e depois visitador apostólico
 
Com esta consciência, o Papa decidiu confiar, no dia 11 de fevereiro de 2017, ao arcebispo polonês Henryk Hoser a missão de “enviado especial da Santa Sé” para “adquirir um conhecimento mais aprofundado da situação pastoral” em Medjugorje e, “ sobretudo, das necessidades dos fiéis que ali chegam em peregrinação” para “sugerir possíveis iniciativas pastorais para o futuro”. Uma missão, portanto, de “caráter exclusivamente pastoral”.

No livro-entrevista com Vittorio Messori ‘Relatório sobre a fé’, o futuro Bento XVI falava sobre os critérios para julgar os presumidos fenômenos sobrenaturais. Os mesmos que agora …

 
Em 31 de maio de 2018, Francisco – sem entrar nas questões específicas relacionadas às supostas aparições – nomeou o arcebispo Hoser como visitador apostólico de natureza especial para a paróquia de Medjugorje, por tempo indeterminado e ad nutum Sanctae Sedis. Uma missão sempre “exclusivamente pastoral”, em continuidade com a missão de enviado especial da Santa Sé que a havia levado a seu termo. “A missão do visitador apostólico – anunciou a Sala de Imprensa da Santa Sé – tem por objetivo garantir um acompanhamento estável e contínuo da comunidade paroquial de Medjugorje e dos fiéis que ali vão em peregrinação, cujas necessidades requerem uma atenção particular”.
Peregrinos em Medjugorje para encontrar Cristo e sua Mãe
 
Entrevistado pelo Vatican News, dom Hoser explicou que peregrinos de todo o mundo vão a Medjugorje “para encontrar Cristo e sua Mãe”: “O caminho mariano é aquele mais certo e seguro” porque leva a Jesus. Em Medjugorje, de fato,. os fiéis têm “no centro a Santa Missa, a adoração do Santíssimo Sacramento, uma frequência massiva do Sacramento da Penitência”. Para o arcebispo era um verdadeiro culto “cristocêntrico”, vivido com proximidade à Virgem Maria, venerada com o nome de “Rainha da Paz”.
Papa Francisco autoriza peregrinações
 
Também nesta linha, no dia 12 de maio de 2019, o arcebispo Hoser e o núncio apostólico na Bósnia e Herzegovina, dom Luigi Pezzuto, anunciaram a decisão do Papa Francisco de autorizar as peregrinações a Medjugorje, que podem assim ser oficialmente organizadas pelas dioceses e paróquias e não mais acontecerão apenas de forma “privada”, conforme indicado até então pela Congregação para a Doutrina da Fé.
A este respeito, o então diretor “ad interim” da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti, havia precisado que a autorização do Papa deve ser acompanhada “pelo cuidado de evitar que estas peregrinações sejam interpretadas como uma autenticação dos conhecidos acontecimentos, que ainda requerem exame por parte da Igreja. Deve-se, portanto, evitar que tais peregrinações criem confusão ou ambiguidade do ponto de vista doutrinal. Isto também diz respeito aos pastores de todas as ordens e graus que pretendem ir a Medjugorje e lá celebrar ou concelebrar, mesmo que de forma solene”.
Gisotti também havia sublinhado que, “considerando o notável fluxo de pessoas e os abundantes frutos de graça que dela surgiram, esta disposição insere-se na particular atenção pastoral que o Santo Padre quis dar a essa realidade, com o objetivo de encorajar e promovendo os bons frutos.” E assim o visitador apostólico “terá maior facilidade em estabelecer relações com os sacerdotes encarregados de organizar as peregrinações a Medjugorje, como pessoas confiantes e bem preparadas, oferecendo-lhes informações e indicações para poderem conduzir fecundamente tais peregrinações”.
Dom Aldo Cavalli novo visitador apostólico
 
Em 27 de novembro de 2021, o Papa nomeou o arcebispo Aldo Cavalli como sucessor do arcebispo Hoser – falecido em 13 de agosto – como visitador apostólico, funcionário da Santa Sé, encarregado da pastoral dos peregrinos que viajam para rezar em Medjugorje.

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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