Connect with us

Notícias

Na RD Congo, o ecumenismo acompanha os processos sócio-políticos

Durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que se celebra de 18 a 25 de janeiro, colocamos o nosso olhar na colaboração entre as Igrejas Católica e Protestante na República Democrática do Congo (RDC), partindo de uma experiência significativa: a missão de observação conjunta das últimas eleições de dezembro.
Stanislas Kambashi, SJ – Cidade do Vaticano
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos reveste-se de grande importância na República Democrática do Congo. Neste país da África Central, o trabalho do ecumenismo é particularmente visível no trabalho realizado pelas Igrejas Católica e Protestante face aos desafios geoestratégicos e geopolíticos; a missão de observação eleitoral das duas Igrejas no processo eleitoral de 20 de dezembro de 2023 é um exemplo. É o que explica o Pastor protestante Eric Nsenga, Secretário-geral, porta-voz e chefe da Comissão de Justiça, Paz e Salvaguarda da Criação da Igreja de Cristo no Congo.
Reverendo Eric Nsenga, como vê o ecumenismo na sua Igreja?
Para a Igreja de Cristo no Congo (ECC), a celebração da unidade cristã envolve três considerações. A primeira é o reconhecimento e a celebração da obra de salvação realizada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Isto lança as bases para o reconhecimento da identidade de todos aqueles que acreditam nele como Senhor e Salvador, qualquer que seja a sua tendência, corrente doutrinal ou orientação disciplinar. É o caso, por exemplo, da Confederação das Igrejas Protestantes, onde se encontram pentecostais, evangélicos, baptistas, metodistas, discípulos, presbiterianos, etc. Mas nesta diversidade, nós consagramos a unidade. De facto, o nosso lema é “unidade na diversidade”. Mas para além dos nossos limites. Como cristãos protestantes, também temos tido o que chamamos de ecumenismo, com a nossa igreja irmã católica ou outras denominações religiosas, mas com as quais partilhamos a mesma base bíblica e o mesmo fundamento de unidade, reconhecendo o Senhor Jesus Cristo como nosso Senhor e Salvador. Por isso, para nós, este é, antes de mais, o elemento dos fundamentos da identidade.
A segunda coisa é a abertura do diálogo e, portanto, a alteridade que a unidade cristã nos concede no sentido de nos olharmos como nós próprios. A Bíblia diz-nos, pela boca do apóstolo Paulo, quando lemos a primeira epístola aos Coríntios, capítulo doze, o estilo de unidade que ele propõe, tendo em conta o corpo humano com as suas múltiplas partes. E isto dá-nos também o reconhecimento e o respeito pela vocação, o chamamento de cada um para contribuir para a vida da Igreja universal.
E a terceira dimensão desta unidade é também a missão profética que realizamos como um serviço à sociedade. Nesta dinâmica, trabalhamos como um só corpo para responder às necessidades fundamentais da nossa sociedade. No caso da Igreja no Congo, por exemplo, temos a Igreja Católica Romana e a Igreja Protestante nascida da Reforma, que constituem hoje um vetor importante na ação da sociedade ou para a sociedade, no sentido da promoção da justiça, da promoção da paz, da promoção da verdade, e acrescentamos ainda a salvaguarda da criação.
Um dos três postulados que mencionou é o ecumenismo. Celebrar a unidade dos cristãos é celebrar o ecumenismo. Qual é a importância desta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, e do ecumenismo em geral, para a Igreja Protestante, particularmente no Congo?
É necessário sublinhar que esta unidade, ou a unidade que se celebra este ano, se insere no contexto particular que o nosso país está a atravessar. Por isso, damos-lhe muita importância na medida em que o trabalho da Igreja hoje, desta unidade dos cristãos ou do ecumenismo, demonstra suficientemente o grande contributo das Igrejas na vida e na salvaguarda do nosso planeta em geral, mas também e sobretudo do nosso país. Perante os desafios geoestratégicos e geopolíticos da atualidade. Saudámos o trabalho feito, por exemplo, pelas duas Igrejas no apoio ao atual processo eleitoral, que está a chegar a uma certa fase. Vimos, por exemplo, a constante atenção à verdade e à promoção da justiça.
Através do seu instrumento, a Missão de Observação Eleitoral Cenco-ECC (MOE CENCO-ECC), temos visto grandes contributos a serem dados na ideia de manter um equilíbrio entre as opiniões dos vários partidos e, sobretudo, assegurar a respeitabilidade dos princípios e das normas na organização do processo eleitoral. Para além deste processo eleitoral, ou seja, da fase visível do processo eleitoral, este ecumenismo permitiu também que as Igrejas mantivessem um diálogo, eu diria um diálogo indireto, porque ainda não conseguimos um diálogo direto entre os actores políticos, mas um diálogo indireto com diferentes actores. E conseguimos aproximar as pessoas e persuadi-las a abandonar o caos que alguns viam como a via real. Dada a situação atual, portanto, existe muito trabalho por fazer. O sentido ecuménico das nossas duas Igrejas aqui no Congo.
Referiu a possibilidade de diálogo entre os actores políticos. Como tenciona apoiar os actores políticos do seu país, a República Democrática do Congo, com base nesta missão eleitoral em que o senhor mesmo participou?
É certo que os contextos se tornam cada vez mais sensíveis e complexos no que respeita aos resultados tal como foram publicados, e mesmo ao próprio processo tal como decorreu. Temos também de salientar o facto de várias recomendações feitas pelas nossas duas Igrejas através da sua missão conjunta, a missão de observação eleitoral, não terem sido tidas em conta. Permitam-me que vos dê alguns exemplos claros do processo. Foi-nos pedido, por exemplo, que tivéssemos em conta a publicação dos resultados compilados nos centros locais conhecidos como CLC, mas isso não foi feito. Foi-nos pedido, nomeadamente para as eleições legislativas, que garantíssemos a transparência ou um mecanismo de transparência no cálculo do limiar de representatividade e na distribuição dos assentos.
Tínhamos insistido em que não deveria haver pressões políticas de determinados grupos e partidos políticos sobre a escolha de deputados eleitos em detrimento de outros deputados menos eleitos. Assim, quando analisamos, há muitas coisas hoje que não parecem corresponder às nossas recomendações. Isto significa que vamos assistir a um aumento da taxa de contestação, quer em termos do procedimento institucional conhecido como tratamento de litígios, é muito claro que o volume de litígios continuará a ser muito elevado, mas fora dos procedimentos institucionais, uma vez que algumas pessoas não quererão recorrer à autoridade destes tribunais, seja o Tribunal Constitucional ou mesmo os tribunais de recurso. Quanto às outras eleições, será mais uma vez deplorável assistir a manifestações e protestos políticos. Mas, para além das manifestações, para aqueles que participaram nessas eleições e que se sentirão frustrados com a forma como os diferendos foram resolvidos e os resultados publicados.
Temos outro grupo de pessoas que não participou nas eleições e que, pura e simplesmente, rejeita tudo. Assim, temos, por exemplo, o caso da FCC e do ramo político-militar que acaba de se desenvolver no Leste do país. Atualmente, há uma figura notável. É o antigo presidente da CENI, Corneille Nangaa, para não falar de outros. Portanto, tudo isto significa que temos três pólos de protesto: o pólo dos que participaram nas eleições e que parecem estar frustrados, o pólo dos que não participaram nessas eleições e que apenas pedem a sua anulação; e o pólo dos que hoje pegaram em armas. Ontem, falávamos do M23, com protestos baseados naquilo a que eu chamaria questões étnicas e de identidade, ou mesmo questões de terras.
Mas, atualmente, estas reivindicações estão a transformar-se em reivindicações políticas baseadas na recusa do reconhecimento legítimo das instituições. Portanto, há uma ligação entre os três pólos de protesto, o que, como eu disse, torna a tarefa um pouco mais complexa, mas não impossível. Por isso, as igrejas estão a pensar e a rezar sobre o assunto, especialmente durante esta Semana da Unidade. As duas instituições eclesiásticas do país estão em processo de reflexão ao nível dos seus órgãos. É muito provável que as mensagens sejam transmitidas tanto a nível oficial como não oficial. Continuamos a dialogar com o regime em vigor, e também com os outros pólos, para identificar, com a graça de Deus, as formas e os meios de perspetivar este quadro de diálogo.
Reverendo, com estes pólos de tensão que acaba de referir, não teme que a situação no seu país se torne cada vez mais tensa? Como é que vê o futuro próximo do país em relação a esta situação?
Nós pensamos que precisamos de uma estratégia coordenada com a comunidade internacional. Estou a falar de organizações internacionais, neste caso as Nações Unidas, que também deveriam apoiar o país. Como disse, o que está no horizonte vai para além do jogo político, da arquitetura institucional, mas também das expectativas da população. Por isso, para nós, é necessária uma estratégia concertada, tanto a nível internacional como nacional. Quando falo do nível internacional, não me refiro apenas ao pólo diplomático representado pelas organizações internacionais, mas estamos também a pensar na diplomacia paralela e na diplomacia da igreja. Já tivemos várias experiências em que o apoio ecuménico internacional foi útil para resolver este tipo de problemas.
Em 2018, por exemplo, tivemos uma grande delegação do Vaticano, do Conselho Mundial das Igrejas para África e da AACC, a Conferência das Igrejas de Toda a África. Pensamos que também seria uma boa ideia considerar esta abordagem para encontrar um bom resultado. Não se trata necessariamente de deslocar delegações para as trazer para o Congo, mas de levar a voz das Igrejas a vários organismos internacionais ou a nível nacional. Como já disse, já iniciámos este trabalho. Teremos agora de identificar os resultados do atual processo eleitoral, ou seja, teremos de ver como serão tratados os diferendos e como serão criadas as instituições. Veremos também como reagirão os concorrentes, não para reagir depois das reacções, mas para situar os níveis de risco e avaliar as aberturas para uma saída definitiva da crise. Pensamos que a solução passa por recuperar o equilíbrio perdido no jogo ou na competição eleitoral.
Por exemplo, em relação aos resultados publicados para as eleições legislativas, já temos uma estimativa de quase 450 deputados que formarão a maioria governamental e quase menos de 30 deputados para a oposição. Estou a referir-me aos assentos reservados às províncias ou territórios que não participaram nas eleições. Assim, dos cerca de 460 deputados, excluindo os assentos reservados às regiões que não participaram nas eleições, já temos quase 85% da maioria. Como vêem, em termos de equilíbrio no jogo político, tendo em conta que o nosso sistema político é semi-presidencialista, como a maior parte dos sistemas do mundo, e que o papel do Parlamento, com base no princípio da separação de poderes, é controlar o jogo político ou controlar o exercício do poder e também controlar a gestão das empresas e mesmo do governo, penso que haverá um certo desequilíbrio nesse sentido.
Trata-se de uma questão que diz respeito ao futuro da democracia no nosso país. Portanto, se a arquitetura é esta, o melhor a fazer é ter um Parlamento, mesmo que tenha uma maioria numérica, mas que trabalhe muito mais na construção de consensos sobre as questões fundamentais da existência do país e das expectativas da população, o que não parece muito plausível até prova em contrário, conhecendo um pouco a forma como se faz política no nosso país. Portanto, tudo isto vai ter repercussões noutras instituições, assembleias, assembleias provinciais, províncias e o próprio Senado. Portanto, corremos o risco de ter uma arquitetura muito mais inclinada, para não dizer desequilibrada em termos de maioria, o que corre o risco de reforçar a tese da recusa de participação na gestão das instituições.
E o que temos a temer é que a oposição se torne muito mais extra-institucional. Já passámos por isso no passado, na década de 90, para chegarmos à Transição. O país passou por sete anos de transição sob o regime de Mobutu. A união sagrada radical da altura era também muito mais eficaz porque tinha operado na esfera extra-institucional. Assim, ao reduzir o espaço para o jogo político, para a oposição dentro das instituições, corre-se o risco de criar as bases para uma oposição extra-institucional, ou mesmo uma oposição político-militar que, como disse anteriormente, é suscetível de causar muito mais danos em termos de governabilidade.
Portanto, é provável que o segundo mandato do Presidente passe muito mais tempo a tentar preservar o poder do que a gerir o Estado. No entanto, as expectativas são enormes, tanto para os que votaram nele como para os que não votaram. As questões geopolíticas, internas e geoestratégicas que hoje nos rodeiam, e com as quais o país se confronta, não oferecem oportunidades suficientes para que o atual regime seja confrontado com várias esferas ou flagelos de resistência. Deveria, em nosso entender, reduzir significativamente o espaço para todo o tipo de protestos comprovados que correm o risco de minar a própria possibilidade de uma governação racional e estável. Porque se o país se tornar instável e se a legitimidade for posta de parte, será obviamente difícil governar bem.
Ouvindo tudo isto, podemos dizer que o ecumenismo no Congo é já uma realidade, e é ilustrado em particular no acompanhamento sócio-político do vosso país …
Este é um valor acrescentado que estamos a experimentar como país, como Congo. Porque também temos de sublinhar que os nossos próprios valores culturais são a base deste ecumenismo. Partilhamos uma história comum enquanto confissões religiosas, enfrentamos os mesmos desafios. Mas também tivemos muitas outras aproximações que vão para além, diria eu, das relações ecuménicas. É também a interpersonalidade que entra em jogo. Assim, o ecumenismo no Congo, podemos saudá-lo, está a tornar-se o acordo, a estrada real ou mesmo o último bastião em que a República se apoia para acções que são benéficas para o nosso país.
“Amarás o Senhor teu Deus… e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10,27): este versículo do Evangelho de São Lucas foi escolhido como tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos deste ano. O que é que este tema inspira em si?
A verticalidade e a horizontalidade da nossa fé como tal. Este tema leva-nos a compreender que tudo o que podemos fazer, só o podemos fazer melhor com o apoio e a ajuda do Senhor. Ajuda-nos a voltarmo-nos, a fixar os nossos olhos no centro da nossa fé, que é o nosso Senhor, e a reconhecer nele a sua qualidade de Pai e de Bom Pastor, para nos assegurar que, apesar de todas as dificuldades que enfrentamos, só nele devemos confiar. Devemos amá-lo porque ele nos amou primeiro e pagou o preço mais alto por nós na cruz do Gólgota. É esse o laço que hoje partilhamos com ele, tal como ele partilha com o seu Pai. E isso tranquiliza-nos ainda mais quanto ao facto de estarmos sob um quadro de referência. A segunda dimensão deste versículo é a horizontalidade.
Isso leva-nos a ultrapassar as divisões étnicas, religiosas e políticas, de modo a olharmos uns para os outros como irmãos e irmãs. E gostaria apenas de salientar que, durante a campanha eleitoral, se desenvolveu uma narrativa muito perigosa que está no epicentro de muitos dos conflitos do país. Trata-se da identidade: quem é congolês e quem não é. Com este versículo, podemos ainda renovar os nossos sentimentos de afeto e de fraternidade para nos vermos, como disse na introdução, como filhos e filhas do país. Portanto, este versículo ajudar-nos-á a fortalecer e a reforçar os nossos laços para além das nossas diferenças, para além das nossas divisões. E eu digo, como protestantes, unidade na diversidade. As nossas diferenças não devem justificar as nossas divisões. Ao sermos diferentes, enriquecemos o nosso ser e viver juntos.
Falou da verticalidade e horizontalidade quando explicou este versículo. O que é que pode minar esta verticalidade e horizontalidade no mundo de hoje?
Os anti-valores, questões de identidade, distanciamento da verdade que nos traz a luz da Palavra; isso desnatura-nos como imagem de Deus e conduz-nos de novo a práticas contrárias à vontade de Deus. Em segundo lugar, a nível horizontal, é precisamente esta batalha desordenada de interesses pessoais, esta recusa de ver o outro como a si mesmo e o egoísmo que tem produzido consequências desde o capítulo 4 do Génesis, onde Caim acabou por matar o seu irmão devido à sua incapacidade de aceitar a graça e os méritos ou a diferença que o seu irmão era capaz de mostrar.
Como tencionam celebrar esta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos? Que actividades estão previstas?
Há actividades em diferentes paróquias da nossa igreja. Isto em geral. É também o caso da Igreja Católica. Portanto, são momentos de oração, mas também momentos de encontro, como disse, para reflectirmos juntos sobre o sentido da nossa missão profética e ecuménica para o futuro do país.
Teria alguma palavra para terminar?
Gostaria de aproveitar esta oportunidade para convidar os cristãos de todo o mundo a rezar pela RDC. Vamos ter de atravessar tempos que não serão necessariamente fáceis para nós, mas esperamos contra a esperança, como a Bíblia nos pede que façamos. Assim, esperamos e contamos com a unidade na oração de todos os cristãos do mundo a favor do Congo, que é um país estratégico no coração de África.
 

Continue Reading
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Notícias

O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

Continue Reading

Notícias

Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

Continue Reading

Notícias

África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

Continue Reading

Mais Vistos

Copyright © 2024 - Caminho Divino