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A eucaristia, alimento material e espiritual em vista da vida eterna

A eucaristia não expressa comunhão só na vida da Igreja, mas ela é também projeto de solidariedade em beneficio de toda a humanidade.
Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
Nós celebramos a solenidade do Corpus Christi, festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. É a grande festa eclesial e é o grande alimento neste mundo e um dia ele dar-nos-á a graça para participar da vida eterna. Esta festa é também a manifestação pública do Senhor sacramentado porque neste dia as comunidades vão para as ruas das cidades ou nos campos com o Senhor presente na eucaristia para que ele seja adorado pelas pessoas e para que ele abençoe a todo o povo de Deus, as famílias, o mundo, pedindo as graças da paz e do amor.
Em 2004, São João Paulo II na sua carta apostólica[1], convocava o episcopado, clero e fiéis, para a reflexão sobre o sacramento da eucaristia e a sua centralidade na comunidade eclesial; Ele também realçava a centralidade de Cristo não só na Igreja, mas na história da humanidade. Tudo é recapitulado nele[2]. A eucaristia não expressa comunhão só na vida da Igreja, mas ela é também projeto de solidariedade em beneficio de toda a humanidade[3]. Por isto mesmo a eucaristia celebrada na comunidade é projeto de missão em direção aos outros. Da mesma forma estes pontos podem ser percebidos em alguns padres da Igreja a centralidade em Cristo e a sua realização na comunidade cristã.
A eucaristia, ação de graças
 A eucaristia(Eucharístia), termo grego referente à ação de graças, designou ceia cristã, a ação eucarística[4]. Na comunidade primitiva a celebração eucarística e a partilha dos alimentos formavam um só conjunto de coisas de modo a chamar-se ágape, ceia fraternal. Ela também foi chamada de fractio panis, a fração do pão[5].
A eucaristia era celebrada na unidade
A Didaqué, um dos documentos mais importantes no período apostólico e após-apostólico, foi chamado de “Legislação das Comunidades”. Esta obra enfatizava a celebração, feita no dia do Senhor, o domingo pois os fiéis se reuniam para partir o pão e para agradecer os benefícios recebidos. Tal celebração era vivida num contexto de reconciliação com o próximo porque aquele que estiver em desavenças com o seu companheiro ou companheira, não poderia juntar-se à comunidade para que o seu sacrifício não fosse profanado[6].
A benção sobre o pão e o vinho
A obra apresentou também uma oração sobre o pão partido e sobre o cálice[7]. Ela previa uma oração de agradecimento depois da eucaristia: “Nós te agradecemos, Pai santo, por teu santo nome, que fizeste habitar em nossos corações, e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelastes por meio do teu servo Jesus. A ti a glória para sempre. Tu, Senhor Todo-Poderoso, criaste todas as coisas por causa do teu nome, e deste aos homens o prazer do alimento e da bebida, para que te agradeçam. A nós, porém, deste uma comida e uma bebida espirituais, e uma vida eterna por meio do teu servo”[8]. Assim este escrito exaltou a eucaristia como alimento sustentador à vida comunitária e espiritual.
A eucaristia e a concórdia
São Clemente foi bispo de Roma de 92 até 100/101. Na Carta aos Coríntios, solicitou a concórdia e a paz entre os seus membros, porque aquela comunidade se revoltou contra os seus dirigentes, bispos, presbíteros e diáconos numa espécie de pedido de demissão dos mesmos. Para isto ele suplicava a todos a unidade: “Como há um só Deus, há um só Cristo, também um só Espírito de graça, que foi derramado sobre nós, e uma só vocação em Cristo”[9]. Ele falou também que Deus ordenou concretizar coisas em sua memória; aos sacerdotes foram conferidos os ofícios litúrgicos, entendidos na ligação da eucaristia, aos levitas os serviços do culto e os leigos os seus próprios serviços[10].
A eucaristia e a caridade
No inicio do segundo século surgiu a figura de Santo Inácio de Antioquia, bispo. A eucaristia é louvor e súplica a Deus; ela exigia fé e caridade, permitindo encontrar o Cristo e a vivência da ágape, do amor.[11] Ela estava ligada ao martírio, forma de seguimento a Cristo até às últimas conseqüências. Desta forma, Santo Inácio suplicou à comunidade de Roma que não impedisse o seu maior desejo que era o martírio para assim ser trigo de Deus, ser moído pelos dentes das feras para assim apresentar-se trigo puro diante de Cristo[12].
Para ele a eucaristia era presidida pelo bispo sem o qual não existiriam batismo, nem ágape, nem eucaristia. Deve-se considerar legitima a eucaristia realizada pelo bispo ou o seu delegado[13].O bispo de Antioquia também realçou os efeitos da eucaristia; na afirmação de que ela tinha um poder de destruição contra Satanás porque as suas forças eram vencidas e o seu poder demolido[14]. Ela levava à unidade porque houve uma carne em Cristo Jesus e um só cálice que nos uniu no seu sangue, como também um só era o altar e um só era o bispo unido ao presbitério, diáconos e o povo[15].
O oitavo dia
A Carta de Barnabé, escrito do século II falou do oitavo dia como o dia no qual Jesus ressuscitou dos mortos e subiu aos céus. Neste dia, ela tinha presente a celebração eucarística, pois era chamado também o primeiro dia da semana. Para o autor deste escrito tratava-se de um dia da nova criação e por isto havia a necessidade de celebrá-lo com fé e amor.[16]
A celebração dominical
São Justino de Roma, martirizado em 165, deu uma importante descrição da celebração dominical e da eucaristia. Ele afirmou que no dia chamado “do sol”, os fiéis que moravam em cidades ou nos campos, se reuniam, liam as Memórias dos Apóstolos, isto é, os evangelhos ou os escritos dos profetas. Um leitor fazia tais coisas, e logo em seguida havia a exortação do presidente. Em seguida, elevavam-se a Deus preces e depois se oferecia pão, vinho e água e o presidente elevava até Deus tais oferendas e todos diziam “Amém”. Depois havia a distribuição e participação para cada um dos presentes dos alimentos consagrados e o seu envio aos ausentes através dos diáconos[17].
Teologia da eucaristia
São Justino deu à tradição uma teologia da eucaristia. Ele afirmava que a eucaristia que os cristãos tomavam através da celebração não era um pão comum ou bebida ordinária, mas ela estava em ligação com Jesus Cristo, feito carne e sangue para a nossa salvação. Tal alimento sobre o qual era dita ação de graças e na qual houve uma transformação, o nosso corpo e sangue se nutriam, é a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado. Este ensinamento, segundo São Justino, foi transmitido pelos apóstolos quando Jesus disse para eles de realizar tais coisas em sua memória[18].
A eucaristia, lugar central do mundo e da história
No final do segundo século houve a figura de Santo Ireneu de Lião, bispo. Ele insistiu na sua doutrina que a eucaristia devia ocupar o centro da visão de mundo e da historia. Ele criticou os gnósticos porque estes negavam a presença de Cristo na eucaristia e da ressurreição da carne. Ele ressaltou desta forma, a presença real do corpo e do sangue de Cristo na eucaristia; assim as espécies do pão e do vinho não eram apenas salvos mas salvadores, veículos da graça, porque neles estavam o corpo e o sangue de Cristo. A eucaristia não possuía um sentido mágico como desejava o mago Marcos quando ele colocava no vinho algo de vermelho[19]; ela era a celebração do amor misericordioso de Deus; era o sacrifício da Nova Aliança dado de uma forma integral.  
A eucaristia, fonte de vida
Santo Ireneu dizia também que a eucaristia fortificava a carne humana. Assim seria impossível negar que a carne fosse incapaz de receber o dom de Deus que consistia na vida eterna pelo fato de ser alimentado pelo corpo e sangue de Cristo. Ele fez uma analogia a respeito da eucaristia; da mesma forma como a cepa de videira frutificava no tempo próprio e o grão de trigo ao cair na terra floresciam em espigas para colher o fruto, tais espécies quando esmagadas ao receberem a palavra de Deus tornavam-se a eucaristia, sendo o corpo e o sangue de Cristo, da mesma forma os nossos corpos alimentados pela eucaristia ainda que serão depostos na terra e decompostos, eles ressuscitarão para a glória de Deus Pai que irá conceder-lhes os dons da imortalidade e da incorruptibilidade ao que estava na fraqueza[20].
A eucaristia como sacramento
Tertuliano foi um dos primeiros escritores de língua latina, o qual  ele falou da eucaristia como sacramentum[21], o convívio, a Ceia do Senhor. Ele era convicto da presença real de Cristo na eucaristia porque confrontou os marcionitas que a negavam pois eles não acreditavam que Cristo tivesse morrido sobre a cruz. Desta forma, se fosse assim, para Tertuliano, Cristo não estaria presente sobre os altares na comunhão.
Tertuliano disse também que Cristo era o pão da vida; aquele que desceu do céu. Assim Ele criticou todos aqueles que o ignoravam, sobretudo os judeus, o pão que veio lá de cima, prometido aos seus fiéis, porque ele ligava-os à vida divina[22]. Ele tinha presente a assembléia eucarística onde se realizava a eucaristia, a qual proporcionava a reconciliação entre as pessoas. Quem comungava era chamado a viver o amor do Senhor no meio das pessoas e da comunidade.
Cristo é o alimento das pessoas
Ainda no terceiro século, Orígenes valorizou o sacramento da eucaristia porque Cristo era o alimento das pessoas, nutrimento de suas almas. Ele reconheceu a presença dele nas espécies do pão e do vinho, em uma forma misteriosa. No entanto esta presença alegrava os discípulos e todos aqueles que o tomavam como um vinho novo, não temperado porque através dele recebia-se a remissão dos pecados[23]. Ele tinha presente o memorial no qual Cristo mandou que os seus discípulos o celebrassem em seu nome, perpetuando desta forma a eucaristia na comunidade cristã.
É possível ver alguns pontos importantes a respeito da eucaristia que ela era o memorial da paixão, morte e ressurreição de Cristo, recordando as coisas que o Senhor fez na última ceia; ela devia ser feita em união com a Igreja e comunidades dos fiéis; ela era alimento para vida divina, a qual preparava à incorruptibilidade. Os escritores colocaram uma manifestação de fé pela presença real de Cristo na eucaristia; quem a recebesse seria impulsionado à uma prática de vida feita em comunhão consigo mesmo, com os outros e com Deus; a pessoa era chamada a fazer caridade sobretudo com os mais necessitados; ela era alimento que possibilitava o ser humano à superação das tentações e por fim a eucaristia devia ser realizada com a presença de um ministro designado pela Igreja: bispo e/ou presbítero. Os ensinamentos que os padres elaboraram a respeito da eucaristia sirvam para iluminar a nossa realidade para que esta fonte da vida no seguimento a Cristo possibilite a comunhão de todos com o Senhor Jesus, pão descido do céu para a nossa vida presente e futura.
 
[1] Cfr. Carta Apostólica do Santo Padre João Paulo II ao episcopado, clero e fiéis. Mane vobiscum, Domine, para o ano da eucaristia. Paulus e Edições Loyola, São Paulo, 2004.
[2] Cfr. Ef 1,10; Cl 1,15; Idem, p. 20.
[3] Cfr. Idem, p. 24.
[4] Cfr. A Hamman. “Eucaristia”, In Dicionário patrístico e de Antigüidades Cristãs, Vozes, Paulus, Petrópolis, RJ, 2002, p. 527.
[5] Cfr. At 2,42-47.
[6] Cfr. Mt 5,23-24; Didaqué, XV, O Catecismo dos primeiros cristãos para as comunidades de hoje. Paulinas, Caxias do Sul, 1989.
[7] Cfr. Idem, IX, 1-3.
[8] Cfr. Ibidem, X, 1-3.
[9] Cfr. Clemente aos Coríntios , 46,6.  In Os Padres Apostólicos, Paulus, São Paulo, 1995.
[10] Ibidem, 40,5.
[11] Cfr. Inácio aos Esmirniotas, 8,2, In: Padres Apostólicos, Idem.
[12] Cfr. Inácio aos Romanos, 4,1, Idem.
[13] Cfr. Inácio aos Esmirniotas, 7,1; 8,1, Idem.
[14] Cfr. Inácio aos Efésios, 20, 2, Ibidem.
[15] Cfr. Inácio aos Filadelfienses, 4, Ibidem.
[16] Cfr. Carta de Barnabé, 15,9, Ibidem.
[17] Cfr. Justino de Roma, I Apol. 67. Paulus, São Paulo, 1995.
[18] Cfr. Lc 22,19-20.
[19] Cfr. Ireneu de Lião. I, 13,2. Paulus, São Paulo, 1995.
[20] Cfr. Idem,  V, 2,3.
[21] Cfr. Tertulliano. De Corona, III, 3. Introduzione, testo, traduzione e note a cura de F. Ruggiero. Arnoldo Mondadori Editore,Milano, 1992.
[22] Cfr. Tertulliano. La resurrezione dei morti, XXVI, 10, Traduzione, introduzione e note a cura di C. Micaelli. Città nuova editrice, Roma, , 1990.
[23] Cfr. Mt 26,28: Origene. Omelie su Geremia, XII, 2, Introduzione, Traduzione e note a cura di L. Mortari. Città Nuova editrice Roma, , 1995.

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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