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A “hora perdida” na Cruz

Em busca de uma resposta ao que se sucedeu imediatamente após a morte de Jesus, descobrimos o maior dos tesouros.
 Fábio Tucci Farah 
Relógio da Paixão. Do lava-pés ao sepultamento de Jesus, aquela janela de uma hora era um enigma intrigante. Após entregar a alma ao Pai e dar o último suspiro, Jesus permaneceria suspenso na Cruz até o golpe do soldado romano em seu peito. Da chaga aberta pela lança, o evangelista João observou jorrar água e sangue (cf. Jo 19,31). E Santos Padres, como São João Crisóstomo, enxergaram ali o sacramento do Batismo e da Eucaristia. Do lado rasgado de Cristo, brotaria a sua Igreja – a nova Eva surgindo do novo Adão.
Mas o que teria acontecido entre o momento em que Jesus expirou até o “nascimento da Igreja”? Em minha pesquisa sobre a Coroa de Espinhos, encontrei a primeira pista. Ele havia sido crucificado com uma Coroa de Espinhos em forma da tiara e do turbante que o sumo sacerdote usava para presidir as solenidades no Templo de Jerusalém, entre elas, o Yom kipur (cf. 16,4). Uma vez por ano, a maior autoridade religiosa dos judeus podia entrar sozinha na área mais sagrado do Templo, o Santo dos Santos, onde ficava custodiada a Arca da Aliança.
Não se tratava de um mero objeto devocional. Deus havia dado a Moisés instruções precisas para a sua confecção (cf. Ex 25, 10-22). Na parte de cima da arca original, dois querubins estendiam as asas sobre o propiciatório – também conhecido como Trono da Misericórdia. Deus havia escolhido aquele espaço exíguo para manifestar sua Presença ao povo da Primeira Aliança. Na época de sua confecção, a Arca da Aliança guardava as Tábuas da Lei. No tempo de São Paulo, ela havia se tornado o relicário dos maiores tesouros do Povo Eleito. As tábuas da aliança dividiam espaço com o cajado de Aarão e um vaso de ouro com maná, o pão milagroso que havia caído do céu e alimentado o povo no deserto (cf. Hb 9,4). Um grande sinal da divina Providência.
O Santo dos Santos era tão sagrado que um véu espesso o separava do resto do Templo. Apenas no Yom kipur, aquele limiar era atravessado pelo sumo sacerdote. Durante a cerimônia anual, ele oferecia sacrifícios por si, por sua casa e pelo povo. E ali, se fosse digno, poderia pronunciar o santo Nome de Deus (1). Uma única vez, uma vez por ano. No sacrifício simbólico de animais, os pecados do povo eram expiados e a aliança com o Senhor, renovada. 

Jesus

O primeiro véu rasgado 
No instante em que Nosso Senhor expirou na Cruz, um fenômeno extraordinário foi registrado por dois evangelistas.
Jesus, porém, tornando a dar um grande grito, entregou o espírito. Nisso, o véu do Santuário se rasgou em duas partes, de cima a baixo, a terra estremeceu e as rochas se fenderam. (Mt 27, 50-51)
Jesus, então, dando um grande grito, expirou. E o véu do Santuário se rasgou em duas partes, de cima a baixo. O centurião, que se achava bem defronte dele, vendo que havia expirado desse modo, disse: “Verdadeiramente, este homem era filho de Deus.” (Mc 15, 37-29)
Segundo São Mateus e São Marcos, o véu que separava o Santos dos Santos se rasgou de cima a baixo quando Jesus deu o último suspiro na Cruz. Conforme observei em meu estudo sobre a Coroa de Espinhos, divulgado pelo Vatican News (2), o fenômeno era um sinal de que Jesus havia entrado, sim, naquela construção feita por mãos humanas para dar pleno cumprimento à promessa do Pai. E o que Ele teria feito ali? 
Interessante notar que São Vicente Ferrer observou, em um de seus sermões, que a Coroa de Espinhos – mais apropriadamente a Mitra de Espinhos – havia deixado setenta e duas lacerações sobre a cabeça de Jesus. Setenta e dois é um número simbólico e se presta a algumas interpretações. Em Os Números na Bíblia, o padre Micael de Moraes oferece uma explicação oportuna sobre o simbolismo do número setenta e dois:
O número setenta e dois dos discípulos enviados poderia ser interpretado como doze (o número do povo) multiplicado por seis (o número do ser humano). Na dimensão universalista lucana, os discípulos são enviados a tornar o povo de Deus (cf. Lc 10,1). (3)
A Coroa de Espinhos havia deixado setenta e dois ferimentos sobre a cabeça de Jesus – um número que representaria a totalidade da humanidade. Segundo o autor Alfred Edersheim, com base na literatura rabínica, o véu confeccionado para encobrir o Santo dos Santos apresentava o número setenta e dois em sua gênese. Não enxergo aqui uma mera coincidência, mas uma clara mensagem divina cosida no misterioso traçado desse véu. (4). No espaço que Deus havia escolhido para manifestar sua Presença no meio do Povo Eleito, o Sumo Sacerdote divino entrava após o sacrifício na Cruz para interceder por toda a humanidade, entregando-Se a Si mesmo como vítima em reparação perpétua pelos pecados do mundo. Mas não de forma abstrata. No mesmo lugar em que o sumo sacerdote poderia pronunciar o santo Nome de Deus, o Sumo Sacerdote divino pronunciaria o nome de cada um de seus filhos, de cada um dos homens de todos os tempos. O sacrifício na Cruz foi por cada um de nós. 
O segundo véu rasgado 
E por quanto tempo Ele ficaria no Santo dos Santos? O rasgar de outro véu nos oferece a resposta. Pelos parâmetros humanos, o Yom kippur divino teria uma curta duração. Ela iria do instante em que Nosso Senhor expirou – e o sacrifício foi consumado na Cruz – até o golpe do soldado romano. Segundo a tradição, a lança teria atingido o coração de Cristo. Naquele momento, outro véu se rasgou: Deus escancarava seu coração aos homens e, em vez de receber o sangue de animais no propiciatório da Arca da Aliança, derramava o Sangue do Filho sobre nós, no único sacrifício capaz de nos redimir plenamente. E aquele Sangue sagrado continuaria sendo oferecido aos homens na Santa Missa. Após interceder por nós no Santo dos Santos e oferecer ao Pai o próprio Sangue pela redenção de cada um de nós, Ele nos entregou a herança no Reino. 
A tradição sobre o soldado romano também carrega uma importante mensagem do Alto. Segundo o beato dominicano Jacopo de Varazze, Longino teria sido curado de um grave problema na visão assim que o Sangue de Jesus atingiu seus olhos (5). Se antes a divina Presença entre os homens era encoberta por um espesso véu e apenas um eleito poderia se aproximar de Deus, o sacrifício do Cordeiro abriu os olhos de todos os homens à Presença do Senhor – cujo nome não precisava mais ser sussurrado na penumbra do Santo dos Santos; é um Pai que pode ser chamado a qualquer hora do dia, em qualquer lugar do mundo.
Quando me debrucei sobre a “hora perdida” na Cruz, encontrei um grande tesouro. E os olhos do meu coração se abriram ao Senhor expirado na Cruz, para o qual costumo me voltar todas as noites. Apesar de fechados, seus olhos estão abertos diante do Pai. Apesar dos lábios cerrados, Ele faz uma prece fervorosa por cada um de nós, na qual Se entrega plenamente. E antes de ser tirado do madeiro sagrado, Ele nos revela a resposta do Pai. De seu coração misericordioso, todos os nossos pecados são perdoados e nós recebemos uma herança nos céus. Nessa “hora perdida”, nós ganhamos a eternidade. 
O Crucifixo do Sumo Sacerdote 
Após uma intensa meditação sobre a “hora perdida” na Cruz, enxerguei o Crucifixo do Sumo Sacerdote. Trazido à luz pelo renomado artista sacro Sérgio Prata, ele retrata o período em que Nosso Senhor expirou e compareceu diante do Pai no Santo dos Santos até o golpe que rasgou o véu de sua carne. 
Pregado com quatro cravos, conforme fontes mais antigas, o Sumo Sacerdote divino ostenta a Coroa de Espinhos em forma de mitra sacerdotal. E não é retratado na agonia que precedeu a morte. Seu rosto está ligeiramente inclinado para baixo, olhando cada um dos que buscam ali o Caminho para chegar ao céu. Em seu olhar, contemplamos a Misericórdia do Pai que acolhe as súplicas de Jesus por cada um de nós. 
No alto da Cruz, o Espírito Santo em forma de pomba nos recorda um episódio ocorrido no início da vida pública de Jesus. Ao ser batizado por São João Batista, o céu se abriu, o Espírito Santo desceu sob a forma de pomba e Deus disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3,17). 
O Espírito Santo indica que, no instante em que Cristo expirou na Cruz – e o véu do Templo se rasgou de cima a baixo – o céu também se abriu. Mas nesse momento não é Deus quem fala. E sim, o Filho. Ele nos apresenta ao pé da Cruz e diz ao Pai: “Esses são os seus filhos amados, em quem nos comprazemos”! O sacrifício da Cruz nos tornou filhos adotivos de Deus e nos abriu as portas da Casa do Pai (cf. Jo 1,12; Ef 1,5). 
O corpo repleto de chagas já exibe o golpe de São Longino, sinal de que jaz morto na Cruz. A ferida no peito, bastante evidente, nos ajuda a entrever o coração de Cristo (6). O Crucifixo do Sumo Sacerdote retrata a hora aparentemente perdida na Cruz, quando Nosso Senhor intercedia ao Pai e nos gerava como filhos do Altíssimo.
Oração a Cristo Sumo Sacerdote (7)
Senhor, ajoelhado diante de vossa Santa Cruz, vos suplico:
Vós que carregastes as nossas culpas e vos sacrificastes por nossos erros, acolhei-me debaixo de vossos pés crucificados e purificai-me com vosso preciosíssimo Sangue. 
Vós que vos apresentastes no Santo dos Santos como o Sumo Sacerdote perfeito, intercedendo por cada um de nós, abri os meus ouvidos para que eu ouça o meu nome em vossos lábios. E jamais hesite em seguir o vosso chamado. 
Vós que recebestes um golpe no peito, desvelai aos meus olhos o coração misericordioso de Deus e guardai-me em vossa santa chaga. E, nesse santo refúgio, curai as feridas profundas do meu coração e reconstruí-me como um templo digno ao Espírito Santo. 
Vós que nos recriastes à imagem e semelhança de Deus e nos gerastes na Cruz como filhos do Altíssimo, dai-me a graça de ser, neste mundo, uma testemunha fiel do tesouro preparado aos vossos santos no céu.
Vós que estais à direita do Pai e não cessais de interceder por cada de um nós, fazei-me forte para vencer às tempestades deste mundo e livrai-me das ciladas do Inimigo. Que meus passos estejam cada vez mais firmes no caminho à Jerusalém Celeste.
Vós que nos alimentastes com a verdadeira vida em sua Carne e em seu Sangue, aumentai em meu coração o desejo de participar do banquete no Reino e, enquanto não completar a corrida, fazei de mim uma fagulha de vossa Presença neste mundo e um sinal de vosso amor pelos homens.
Amém! 
Oração a Cristo Sumo Sacerdote para a conversão das almas 
Senhor, ajoelhado diante de vossa Santa Cruz:
Entrego-me inteiramente a vós como meu Senhor e Salvador. Não somente a mim, mas a todos os que se confiam às minhas preces (mencionar os nomes) e peço pela conversão dos que vagam por atalhos escuros (mencionar os nomes). Lembrastes de todos no Santo dos Santos na terra, intercedei por cada um de nós no céu, onde estais sentado à direita de Deus Pai.
Deposito aos vossos pés crucificados todos os talentos recebidos de Deus. Que não sejam enterrados neste mundo, mas rendam os frutos mais agradáveis aos olhos do Senhor. Dai-me forças para realizar todas as missões que me confiar. E que as obras de minhas mãos ajudem a erguer os olhos dos homens ao Templo Celeste.
Amém!
Notas
(1) Gniwisch, Leibel. “O Sumo Sacerdote na Tradição Judaica.” Chabad-Lubavitch Media Center, 1993-2021.(2) Andressa Collet. “Especialista brasileiro em relíquias sagradas faz pesquisa inédita sobre Coroa de Espinhos de Jesus Cristo”. Vatican News, março de 2020. O artigo pode ser conferido, na íntegra, no sítio: 
(3) Moraes, Pe. Micael de. Os Números na Bíblia. São Paulo: Palavra e Prece, 2012, p. 119. (4) Edersheim, Alfred. The Life and Times of Jesus the Messiah. Vol. II. Londres: Longmans, Green & Company,1886, p.611.
(5) Varazze, Jacopo de. Legenda Áurea – Vidas de santos. São Paulo:
Companhia das Letras, 2003, p. 296.
(6) Segundo São João Crisóstomo: “O soldado, traspassando-lhe o lado, abriu uma brecha na parede do templo santo, e eu, encontrando um enorme tesouro, alegro-me por ter achado riquezas extraordinárias” (Evaristo, Carlos & Farah, Fábio. Relíquias Sagradas – Dos tempos bíblicos à era digital. São Paulo: Paulus, 2020, p. 278)
(7) Orações compostas pelo autor do artigo com aprovação eclesiástica de Dom Odilo Pedro Scherer, cardeal e arcebispo de São Paulo, concedida em março de 2024. (*) Fábio Tucci Farah é perito em relíquias sagradas da Arquidiocese de São Paulo, delegado brasileiro da International Crusade for Holy Relics (ICHR) e curador adjunto da Regalis Lipsanotheca, em Ourém.
Imagens:  Sérgio Prata 

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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