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CNBB: cardeal Parolin conduziu o retiro dos bispos em Aparecida

Os bispos presentes na 61ª Assembleia Geral da CNBB em Aparecida, SP, iniciaram seu encontro anual na última quarta-feira, dia 10, com um retiro espiritual conduzido pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin. O retiro se concluiu nesta quinta-feira.
Silvonei José – Vatican News – CNBB – Aparecida
Os mais de 440 bispos brasileiros reunidos para a 61ª Assembleia Geral da CNBB em Aparecida, SP, viveram nos primeiros dias de Assembleia a experiência do retiro espiritual conduzido pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin.
Em sua primeira fala, Parolin relembrou uma declaração do Papa Francisco de 2013 durante sua visita ao Brasil, enfatizando o empenho dos bispos e, principalmente, o compromisso com as regiões mais desafiadoras do país. Ele também expressou o desejo de seguir o mesmo caminho espiritual do Episcopado brasileiro, como um peregrino entre os irmãos.
O secretário de Estado do Vaticano iniciou a reflexão com o tema da sinodalidade, amplamente refletido na Igreja desde 2019 a pedido do Papa Francisco. Parolin destacou as três diretrizes propostas pelo pelo sucessor de Pedro: comunhão, participação e missão. Estes termos representam a essência mais profunda da Igreja e refletem sua origem transcendente. Segundo o prelado, o retiro nos convida a “contemplar em silêncio e saborear nas profundezas do nosso espírito a beleza da Igreja sinodal, como manifestação da própria vida trinitária”.
Parolin ressaltou que a “Igreja, concebida independentemente de Cristo, perde todo o seu significado, perde a sua própria identidade”. Ele lembrou a declaração conciliar da Lumen Gentium (Luz das Nações) de que “a luz dos povos é Cristo” e concluiu sua primeira reflexão apresentando a comunhão, a participação e a missão como três notas e raios dessa luz de Cristo que iluminam o rosto da Igreja.
Link da Introdução
Comunhão: raio de luz no rosto da Igreja
Iniciando a primeira nota sobre a sinodalidade refletiu sobre a importância da comunhão, citando o documento conciliar Lumen Gentium (Luz das Nações), que afirma: “o primeiro raio da luz de Cristo que resplandece no rosto da Igreja é a comunhão”. Ele citou uma fala do Papa Francisco à Cúria Romana em 2021 sobre o fortalecimento da comunhão por meio da oração, da escuta da Palavra e do estabelecimento de relações que ultrapassam o simples trabalho.
Parolin salientou a importância da delicadeza nas relações eclesiais dentro de uma visão de comunhão, frisando a necessidade de trabalhar em equipe, buscando o bem comum, reconhecendo a diversidade como riqueza, e evitando facções, interesses individuais e rivalidade. Ele baseou sua reflexão na primeira carta de Paulo à comunidade de Corinto, explorando a relação entre o corpo e a sinodalidade, e afirmando que “a Igreja é realmente o seu Corpo, o seu ‘prolongamento’ somático na história e no mundo”.
Destacou que a vida de Cristo circula nas veias da Igreja graças aos sacramentos e à ação do Espírito Santo, implicando uma constante necessidade de evolução e crescimento, assim como um organismo vivo. Afirmou ainda que o amor é central em qualquer reforma ou conversão pastoral, pois sem ele se torna apenas um ajuste estético ou expediente organizativo que reduz o sentido de ser Igreja.
Parolin concluiu sua reflexão, no primeiro dia de retiro, sobre a comunhão como uma estima recíproca, fundamentada no amor mútuo, incentivando a prática diária dessa estima na vida cotidiana e pastoral nos ambientes eclesiais. Ele encerrou sua fala, na manhã do segundo dia, destacando a importância de incluir a estima recíproca, pautada no amor, nos programas pastorais, como forma de criar um clima positivo de confiança mútua e de colaboração entre agentes pastorais e membros das comunidades.
Linha da primeira reflexão: Comunhão
Celebração Eucarística
No segundo dia do retiro, a Celebração Eucarística foi presidida pelo cardeal e concelebrada pelos bispos jubilares que celebraram ou celebrarão 25, 50 e 60 anos de Ordenação Episcopal entre o último ano e este ano.
Durante sua homilia, o cardeal meditou sobre as passagens bíblicas de Atos 5,27-33 e João 3,31-36, ressaltando a profundidade do testemunho de São João Batista e a extraordinária grandeza de Jesus Cristo, o Redentor.
Link do vídeo da homilia 
Participação: uma construção conjunta
Durante sua segunda reflexão, dom Pietro Parolin continuou com as reflexões do retiro, enfatizando a segunda nota sobre sinodalidade, a participação. Ele ressaltou que a corresponsabilidade se concretiza em torno de um projeto compartilhado por várias pessoas, nas quais cada uma colabora ativamente. Para ilustrar essa ideia, ele comparou a participação à construção de um edifício, uma “casa de Deus”, que deve ser erguida em conjunto, como família, em comunidade.
Parolin explicou que os primeiros cristãos desenvolveram a convicção de que o Deus de Israel já não habitava no templo de Jerusalém ou nas sinagogas, mas vivia precisamente entre eles, em suas casas e relações domésticas. Assim, graças à presença do Ressuscitado na vida dos primeiros cristãos, a casa onde se reuniam em assembleia tornou-se a casa de Deus. A participação, dessa forma, nos conduz a “edificar juntos” essa casa de Deus.
O secretário de Estado do Vaticano comparou a Igreja a um edifício único, onde cada um tem o seu lugar e papel a desempenhar, enfatizando a necessidade de se ver a Igreja como um “canteiro de obras aberto”, sempre em contínuo crescimento e nunca concluído. Segundo Parolin, os cristãos são “pedras vivas” que devem se aproximar da rocha que é o próprio Cristo, definido como “pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e valiosa aos olhos de Deus” (Sl 118, 22).
Parolin destacou as “implicações eclesiais” dessa metáfora, observando que, se a Igreja está crescendo (Ef 2, 21), ela deve ser considerada um canteiro de obras sempre em construção, jamais concluído de maneira definitiva. Por um lado, isso exige muita humildade, porque nunca se chega ao fim; por outro, requer a colaboração de todos. Cada batizado, ao seu modo, é apenas uma simples pedra, igualmente necessária para a construção do Edifício que é a Igreja de Cristo.
Parolin concluiu a segunda reflexão destacando que a paciência é fundamental nesta participação na construção sinodal e espiritual que a Igreja nos pede. A construção de uma comunidade unida e comprometida com sua missão demanda tempo, humildade e colaboração de todos os membros.
Link da segunda reflexão – Participação 

Assembleia geral da CNBB

Celebração penitencial
Durante o retiro dos bispos, uma Celebração Penitencial presidida por Dom João Inácio Müller, arcebispo de Campinas, teve um lugar especial. Nesta celebração, os prelados brasileiros puderam refletir sobre o caminho proposto pela Quaresma e pela Campanha da Fraternidade, focando na amizade social e na fraternidade entre irmãos. Dom João destacou que, embora sejamos sempre frágeis, somos chamados a reassumir nosso propósito batismal, nutrindo esperança, fé e caridade para vivenciar a fraternidade evangélica.

Confissão

Baseando-se no trecho do Evangelho de Mateus 5:13-16, Dom João refletiu sobre como Jesus forma seus discípulos para a excelência de sua vida. Assim como o sal dá sabor, conserva e preserva os alimentos contra a corrupção, “o discípulo é chamado a manter longe os perigos e os germes corrosivos que poluem a vida das pessoas”. O arcebispo ressaltou o chamado de Jesus para seus discípulos serem “luz do mundo”, afirmando que “é tarefa do discípulo dispersar as trevas e fazer resplandecer a luz de Cristo por meio do anúncio do Evangelho e, principalmente, pelas boas obras”.
Após um momento de reflexão e do sacramento da confissão, em que os bispos ouviram e orientaram uns aos outros, a celebração penitencial foi concluída com um louvor a Deus por sua misericórdia.

Confissão

Missão: raio de luz que emana de Cristo
Na tarde do segundo e último dia de retiro, o cardeal Pietro Parolin continuou suas reflexões, enfatizando a terceira nota da sinodalidade, a missão. Ele comparou essa missão a um raio de luz que emana de Cristo e ilumina o rosto e o percurso sinodal da Igreja. Parolin explicou que essa luz brilha na natureza comunicadora do Povo de Deus, que não caminha pelo mundo e pela história apenas para sua própria preservação, mas com o objetivo de servir à presença do Reino e anunciar Cristo àqueles que não O conhecem.
O cardeal destacou a importância de centrar nossa contemplação no significado do envio missionário e na atitude hospitaleira que a Igreja deve ter a partir dessa missão. Parolin afirmou que “a missão é uma iniciativa do Pai”, que enviou o Filho ao mundo para salvá-lo, não para julgá-lo (cf. Jo 12, 47). Ele enfatizou que o impulso inicial da missão deve estar enraizado na consciência de que a força não vem de nós mesmos, mas da presença de Cristo e do Espírito em nós.
A partir dessa consciência, Parolin destacou que todas as funções na Igreja devem ser articuladas de forma harmoniosa dentro de uma grande tarefa comum: “Todos os batizados, juntos, continuam a obra de Cristo”. Ele ressaltou a necessidade de uma imersão profunda no mistério de Deus para estarmos verdadeiramente junto ao nosso povo e, ao mesmo tempo, uma real imersão nos acontecimentos do nosso povo para estarmos verdadeiramente no coração de Deus.
Dom Pietro Parolin concluiu sua reflexão afirmando que a atividade missionária, como terceiro raio de luz, não pode ser empreendida como tarefa individual, mas deve ser vivida “em conjunto” como uma luz que provém de Cristo e ilumina o caminho sinodal da Igreja. A missão é uma jornada compartilhada que brilha a partir de Cristo, revelando a essência da Igreja e guiando-a em seu caminho de fé e serviço.
Link da terceira reflexão – Missão
Parolin, ao concluir o retiro, enfatizou o desafio dos cristãos de se sentirem como “um único todo, um sujeito coletivo que pensa, reza, ama, sofre, espera, decide e caminha em conjunto”. Lembrou o contexto em que a Igreja vive, destacando os eventos futuros da segunda etapa do Sínodo, em outubro de 2024, e o Jubileu de 2025, precedido pelo Ano dedicado à Oração. Parolin frisou que o itinerário sinodal tem como objetivo final a vida eterna em Deus. Ele expressou o desejo de que a luz divina, que brilha no rosto da Igreja, ilumine o caminho sinodal de participação, comunhão e missão em toda a Igreja.
Com colaboração padre Tiago Síbula (Comissão para a Comunicação da CNBB) – Comunicação 61ª AG CNBB
Fotos: Victória Holzbach.

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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