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CNBB: os 70 anos da criação da CRB e os 60 anos da Campanha da Fraternidade

Ato inter-religioso é destaque no nono dia de Assembleia Geral em Aparecida.

Silvonei José – Vatican News – Aparecida
Quinta-feira, nono e penúltimo dia da 61ª Assembleia Geral da CNBB em Aparecida. Depois da celebração eucarística com Laudes no Santuário Nacional, presidida pelo cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus os trabalhos da Assembleia tiveram continuidade no Centro de Evento Padre Vitor Coelho.
A intenção da missa foi pelos 60 anos da Campanha da Fraternidade: a missa foi concelebrada por Dom Ângelo Ademir Mezzari, bispo auxiliar de São Paulo e dom Paulo Jackson, segundo vice-presidente da CNBB, o arcebispo de Olinda e Recife.
Já na vigésima terceira sessão, às 8h30, no Centro de Eventos Pe. Vítor Coelho de Almeida, foram tratadas as Edições CNBB, o trabalho dos subsecretários adjunto geral e de pastoral, da Assessoria de Comunicação, do Centro Cultural Missionário, da Casa Bom Samaritano, do Centro de Convivência e Fortalecimento de Vínculos “Correndo Atrás de Um Sonho” e da Assessoria de Relações Político Institucionais da CNBB. Em seguida, na vigésima quarta sessão, foi realizada a última rodada da Conversa no Espírito, novidade nesta Assembleia.
No final da manhã, como já é tradição houve a Celebração Inter-Religiosa. Dom Teodoro Tavares, bispo de Ponta de Pedras (PA) e presidente da Comissão Episcopal para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso, acolheu irmãos e irmãs de 10 denominações religiosas para o ato inter-religioso. 
Na parte da tarde, na vigésima quinta sessão, serão tratados assuntos sobre a Comissão Especial Ecologia Integral e Mineração e Comissão Episcopal para a Vida e Família. Na sessão seguinte, a vigésima sexta, com início previsto para às 17h, serão apresentados os trabalhos da Comissão Episcopal para a Juventude, da Comissão Especial do Tráfico Humano e a Campanha para a Evangelização. 
Coletiva de Imprensa
O segundo vice-presidente da CNBB, dom Paulo Jackson falou na coletiva desta manhã de quinta-feira sobre os 90 anos do Pontifício Colégio Pio Brasileiro, de Roma; o presidente da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, dom Ângelo Ademir Mezzari, bispo auxiliar de São Paulo, falou sobre os 70 anos da Conferência dos Religiosos do Brasil e dom José Luiz Majella Delgado, arcebispo de Pouso Alegre (MG), apresentou os trabalhos da Comissão para a Causa dos Santos.

Cardeal Leonardo Steiner

Homilia de dom Leonardo
No dia em que a 61ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil fez memória dos 70 anos da criação da Conferência dos Religiosos e Religiosas do Brasil e dos 60 anos da Campanha da Fraternidade, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, refletiu sobre o ser atraídos pelo Pai, pelo “charme transparente do Pai”, que encanta, maravilha.
O Pai “atrai os doentes no corpo e no espírito: famintos, cegos, mudos, coxos, leprosos, aqueles com mau espírito, com espírito mudo; atrai os andantes e desandantes das ruas e caminhos, os das esquinas da vida, para participarem do banquete da atração (cf. Mt 22,1-14). Atrai a todos, mas infelizmente nem todos, talvez até nós, apercebem-se atraídos. Jesus percebendo que eram atraídos pelo Pai, saciou de pão, lhes deu novo horizonte, concedeu mãos, ofereceu pés, caminhos, purificou, transformou no corpo e no espírito. Saiam saciados, carregando seus leitos, retornando à vida familiar e religiosa”, enfatizou dom Leonardo.
Ele destacou “a possibilidade e ser filho no Filho”, enfatizando que “não o procurarias, se primeiro Ele não te tivesse procurado; não O amarias, se primeiro Ele não te tivesse amado”, inspirado nas palavras de São Bernardo. “O que atrai é o amor; atração amorosa! Um amor que procura, que seduz, pois atrai. O texto sagrado insinua que não se trata de uma atração acontecida no passado, mas que no amor, o Pai ‘atrai’ até o encontro amoroso no Reino definitivo. Um convite a estarmos sempre mais em sintonia com esse amor atrativo”, enfatizou o arcebispo.
Segundo o cardeal, “não é com a necessidade, mas com o prazer; não é com a violência, mas com o deleite que somos atraídos. Não so os sentidos têm os seus deleites, mas também a alma. E um deleite para a alma o ‘atrai’ do Pai!”. Ele lembrou alguns daqueles que foram atraídos: “basta ler Francisco de Assis, Teresa de Ávila, Teresinha do Menino Jesus, Hélder Câmara, Dom Luciano, Santa Dulce dos Pobres, basta olharmos para os nossos pobres, que vivem atraídos por Deus, basta acompanharmos os nossos romeiros”. Um ser atraído que nos faz “disponíveis, encantados, ativos, livres e libertos”, ressaltou.
“No ‘atrai’ somos despertados para a gratuidade do seguir Jesus, fugindo de moralismos, da ideologização fé, de acharmos que podemos aprisionar em conceitos e dogmatismos as delicadezas atrativas do Pai”, destacou o cardeal. Isso porque no “atrai há liberdade, a graça de poder corresponder gratuitamente à atração”, advertindo contra a soberba, que nos leva, segundo Santo Agostinho a “considerar que chegamos a Cristo com as forças da própria vontade, por própria decisão, com as próprias forças”.
Um “atrai” que nos faz ter delicadeza “para não sermos reféns de nós mesmos, das nossas ideias, das nossas ideologias, das nossas dogmatizações. Ë que o ‘atrai’ é quase uma tração que impulsiona para fora, o estar a caminho como as mulheres e os homens que buscavam a Jesus”. Um “atrai” que faz ser tomado “pelo contentamento, pela fecundidade da vida”, que “abre constantemente possibilidades existenciais frente à cotidianidade dura e às vezes aniquiladora”, que traz “uma maternidade paterna em relação aos necessitados, aos desvalidos aos que a sociedade rejeita, aqueles e aquelas que andam e navegam sem destino, sem porto, sem estrada, sem rio, sem chegada!”, disse o cardeal. Nessa perspectiva, ele questionou a necessidade de “nas Diretrizes para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil tornar audível, papável, saborável, visível o “atrai” do Pai”.
Falando dos 70 anos da Conferência dos Religiosos do Brasil, o cardeal, religioso Franciscano, definiu a Vida religiosa como “a visibilização na Igreja do quanto o Pai atrai em Jesus”. Segundo ele, “com a CRB fazemos memória do testemunho do ‘atrai’ do Pai, recordamos a mística da gratuidade, agradecemos a profecia da Vida Religiosa e desejamos que ela continue a ser sinal de esperança”. Ele insistiu em ver os 70 anos da CRB como “um convite reconhecer que a vida religiosa consagrada é a expressão da força atrativa de Deus e da correspondência ao amor atrativo”. Também um chamado “para renovar a graça da missão recebida: continuar a viver a liberdade do Evangelho, ser a presença do Reino de Deus em todos os espaços e geografias que o Espírito enviar”, convidando a “agradecer por tudo o que a CRB tem oferecido para a renovação da vida religiosa, para manter vivo o carisma de cada família religiosa, para ser uma presença de proximidade e libertação dos pobres, ser sinal de esperança transformativa do ‘atrai’ do Pai”.
O cardeal Steiner definiu a Campanha da Fraternidade como “uma expressão da forca força atrativa do Pai, pois caminho de conversão e libertação. No caminho salvífico da quaresma somos acordados para a benevolência atrativa de Deus meditando, rezando, discutindo tantas realidades que contradizem o Reino, o cuidado amoroso de Deus”. Fazendo um chamado a sermos em tudo a fraternidade, pois atraídos pelo amor, ele disse que “a fraternidade só é possível quando o amor está a guiar as palavras e as escutas, as nossas relações”.
Lembrando o lema de 2024, “Vós sois todos irmãos e irmãs”, dom Leonardo insistiu que “a irmandade não nasce da dominação, mas da atração”, vendo a Campanha da Fraternidade como convite “a construir uma Fraternidade, uma irmandade, que transforma a vida em sociedade, tornando-a mais saudável, convivial”, a participar do direito de ser cidadão, levar uma vida digna, ser respeitado como ser humano. “Uma fraternidade universal, pois vivemos numa casa comum, e todo ser participa da obra da criação”, insistiu. Ele lembrou dos 60 anos de “realidades visibilizadas que nos fizeram perceber que não correspondem à força atrativa de Deus, em Jesus”, de “realidades discutidas, meditadas, rezadas, dialogadas que puderam nos despertar para a grandeza atrativa de Deus, no cuidado dos mais pobres”. Vida Religiosa e Campanha da Fraternidade que “nos foram enviadas como Filipe, para que pudéssemos fazer a leitura da força do ‘atrai’ do Pai em Jesus, a vida do Reino, e prosseguirmos com alegria o caminho”.
Com informações A12 e Padre Modino

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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