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Há 150 anos nascia Guglielmo Marconi, o italiano que ouviu o futuro

Do interior de Bolonha para conectar o mundo inteiro. Os meios de comunicação do Vaticano comemoram o inventor da tecnologia sem fio, ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1909 e responsável pela execução da Rádio Vaticano com um documentário em vídeo. A obra percorre as etapas mais importantes da vida de Guglielmo Marconi: desde os primeiros experimentos na Itália, passando pela consagração internacional e a inauguração da iluminação do Cristo Redentor no Rio, direto da sua casa em Roma.
Michele Raviart e Andressa Collet – Vatican News

“Eu tive a forte intuição. Diria quase que a visão clara e certa de que as transmissões radiotelegráficas seriam possíveis através das maiores distâncias.”

As próprias palavras de Guglielmo Marconi, que nasceu no interior da Itália em 25 de abril de 1874, dão início ao documentário em vídeo produzido em língua italiana pelos meios de comunicação do Vaticano para comemorar os 150 anos de nascimento do inventor da tecnologia sem fio, ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1909 e, chamado por Pio XI, projetista e responsável pela execução da Rádio Vaticano – o primeiro serviço de radiodifusão global com “a missão de levar o anúncio cristão, a esperança no mundo”, comenta Massimiliano Menichetti, responsável da Rádio Vaticano – Vatican News.
O curta-metragem percorre, assim, as etapas mais importantes da vida do italiano: desde os primeiros experimentos em solo italiano, passando pela consagração internacional, e a inauguração da iluminação do Cristo Redentor no Rio, direto da sua casa, na Via Condotti, em Roma. Um dos feitos memoráveis do cientista ao lançar, da Itália, o sinal de rádio que iluminou a imagem no Brasil em 12 de outubro de 1931.
Elettra Marconi: nas ondas elétricas, meu pai viu o mundo de hoje
E foi nessa casa da família que Guglielmo Marconi morreu, em 20 de julho de 1937. Época em que a pequena Elettra tinha 7 anos de idade. Ela era filha do inventor do rádio e da condessa Maria Cristina Bezzi-Scali, com quem Marconi se casou no seu segundo casamento, em 1927.
Elettra relembra à mídia do Vaticano sua vida ao lado do pai, desde os experimentos no iate que leva seu nome até os encontros com Pio XI. Ele costumava dizer:

“Minhas invenções são para salvar a humanidade e não para destruí-la!”

“Guglielmo Marconi era uma personalidade muito complexa. Acima de tudo, ele era muito inteligente e tinha uma inspiração… Ele era atraído pela eletricidade! Nas ondas elétricas, ele teve visões do futuro. Sabia que elas poderiam ser usadas e desenvolvidas. Seu pai havia lhe dado um barco a vela quando morava em Livorno. Com a mãe e o irmão, via esses navios, esses veleiros que se afastavam sem poder pedir ajuda. Quando havia tempestades e naufrágios, eles não podiam pedir ajuda. Os marinheiros não tinham notícias de suas famílias por meses em viagens muito longas. Então, meu pai teve a ideia de usar essas ondas para poder salvar a vida dessas pessoas e se comunicar no espaço por longas distâncias sem fios. Antes só havia fios. E todo o seu trabalho era em física, matemática, química… Ele também era uma pessoa muito leal. Ele havia sido educado na retidão e na sinceridade desde a infância e, durante toda a sua vida, seguiu essa linha.”
Seu pai era um autodidata. Como ele fez seus primeiros experimentos com ondas?
Ele começou aos 14 anos de idade… Ele as fazia de forma rudimentar. Construía antenas com cabos de vassoura, facas e garfos. Ele usava qualquer coisa para atingir o objetivo. Ele era cheio de imaginação… Ele era muito original nisso.
A senhora pode nos lembrar como surgiu a criação do rádio?
Eu nasci bem mais tarde! (risos). Eu sempre ouvi falar sobre isso! Cresci com meu pai. Ele me falou sobre isso a vida toda. Em 1901, ele fez a primeira transmissão sem fio através do Atlântico, mas foi em 1895 que fez a primeira transmissão do interior, perto de Bolonha, na casa dos pais do meu pai. Do que hoje é o Sasso Marconi, do outro lado da colina. Há a história, verdadeira, do disparo do rifle. Ele fez esse transmissor e enviou seu irmão e um fazendeiro com o receptor para o outro lado da colina. Ele lançou três pontos de código Morse e, quando o irmão ouviu o sinal, o fazendeiro disparou o rifle para avisá-lo que o sinal havia chegado. Ele tinha 21 anos de idade e seus pais entenderam imediatamente. Sua mãe, que o adorava e apoiava, acreditou cegamente no filho e foi com ele para a Inglaterra, para Londres. Ela era irlandesa e, em 1895, a Irlanda fazia parte do Reino Unido. Em Londres, havia o chefe dos correios, o inglês William Preece, que, quando viu a invenção, imediatamente entendeu a importância e disse: fique conosco porque na Itália eles não o haviam compreendido. Ele não perdeu tempo. Era muito grato à Inglaterra, mas preferiu ser italiano.
Que tipo de pai era Guglielmo Marconi?
Ele era um pai muito carinhoso. Muito engraçado, tinha humor. E, acima de tudo, era muito inteligente. Ele me tratava como uma pessoa grande, me fez crescer. Ele me deu responsabilidade. Queria que eu seguisse seus conselhos. De fato, quando perdi meu pai, foi mais do que uma mutilação.
Em vez disso, como era o relacionamento de Marconi com sua mãe, Maria Cristina. Que tipo de casal eles formavam?
Eles estavam muito apaixonados. Era um grande amor. Sempre de acordo, em harmonia. Eles tinham as mesmas paixões. Amavam a beleza da natureza. O mar. Paixões que eles passaram para mim também. E a música. Eles tinham uma grande paixão pela beleza artística. Eles eram muito parecidos. E não ficavam enjoados, porque o barco deles era uma casa flutuante. Uma oficina. Era o iate Elettra, que meu pai comprou no final da guerra, em 1919. Quando eu nasci, ele havia se casado com minha mãe e queria me dar o nome do seu lindo iate. E estou feliz com esse nome!
A senhora esteve no navio Elettra. Que experimentos testemunhou com seu pai? Para onde ele a levou?
Ele me explicou a navegação. Os ventos. As correntes… Nós navegamos. Aprendi muito com meu pai. E também moralmente. No navio, ele estava mais comigo e com minha mãe. Estávamos sempre juntos. Ele costumava me dizer: a sinceridade e a retidão são as coisas mais valiosas da vida. Ele me incentivava a realizar meus desejos. Era muito jovem. Preferia conversar com jovens do que com adultos.
A senhora disse que a intuição de Marconi veio da tentativa de ajudar os navios. Há um evento famoso que é o Titanic, no qual as invenções do seu pai foram decisivas…
Por meio dos heróicos marconistas que lançaram um SOS com o radiotelégrafo e pediram ajuda! Por sorte, o navio Carpathia estava a três horas e meia de distância… Infelizmente, o outro navio próximo era o California, que estava a meia hora de distância, mas o operador de rádio era apenas um e, às oito horas, tinha ido dormir. O primeiro navio que foi salvo com a invenção do rádio pelo meu pai, no entanto, foi o Republic em 1909, ano em que recebeu o Prêmio Nobel. Havia 2 mil passageiros lá, todos salvos pelo rádio.
Ele lhe contou alguma coisa sobre o Prêmio Nobel? Ficou feliz? Como ele recebeu a notícia?
Sim, mas depois ele foi embora antes do fim da cerimônia, por causa do trabalho que fazia. Ele sempre se dedicava ao trabalho, que era a coisa mais importante. Portanto, ele ficou muito grato por ter recebido o Prêmio Nobel, mas sua paixão era o trabalho.
Entre as emissoras que Marconi fundou, incluindo a BBC e a precursora da RAI, estava a Rádio Vaticano…
A Rádio do Vaticano! Ele se preocupava muito com ela. Foi o período mais longo em que ele esteve em Roma, com minha mãe e comigo, quando eu era pequena. Só para construir a rádio ele mesmo. Ele acompanhava o trabalho todos os dias. Pio XI pediu a ele que construísse essa rádio, porque assim a voz do Papa seria transmitida para o mundo inteiro. Ele aceitou com grande entusiasmo e se tornou um grande amigo, mas já era, de Pio XI, que também era apaixonado por física e queria estar por dentro e perto do Papa, mesmo quando estava construindo. Há muitas fotografias, há também a Via Guglielmo Marconi no Vaticano, onde ele costumava caminhar… Ele ficou muito feliz com a inauguração, quando o Papa, pela primeira vez, pôde dar a bênção Urbi et Orbi para o mundo inteiro.
Ela também costumava visitar Pio XI…
Eu era muito pequena! Eu sempre fui muito ligada ao Vaticano, porque Pio XI sempre queria encontrar meu pai em audiências particulares, com minha mãe e a pequena Elettra! Eu sempre ia com meus pais visitar o Papa. Isso se tornou uma coisa natural para mim. Eu via o Papa vestido de branco, meu pai sorrindo e minha mãe se desesperando por eu ser tão agitada.
Entre as muitas invenções e percepções do seu pai, há algumas que prenunciaram a vida cotidiana. Estou pensando no telefone celular, no radar e em suas implicações. A senhora pode nos contar algo sobre essas invenções?
O radar a bordo do iate Elettra! Ele nos chamava: ‘Elettra! Cristina! Ajudem a colocar lençóis brancos ao redor dos vidros das janelas da cabine do capitão!”. Com um dispositivo, ele primeiro conectou duas boias, deixando um espaço para o iate Elettra atravessar pela proa. Com esse aparelho, ele “viu” à distância e deu ordens ao timoneiro para deixar passar o belo iate, que conseguiu não tocar nas boias. Os lençóis cobriam tudo. Não havia visibilidade, como na neblina, como se fosse noite. Mesmo antes de fazer esses experimentos, ele conversava comigo e com minha mãe, principalmente, dizendo que a neblina atrapalha a navegação e também causa naufrágios: pessoas que morrem porque colidem de repente. Portanto, ele estava muito feliz. Mas ele havia criado a empresa Marconi na Inglaterra. Assim, ele deu essa invenção à Inglaterra.
Outra invenção que ele antecipou foi a do telefone celular….
O primeiro telefone celular foi realmente para o Papa! Ele tinha um celular enorme em seu carro, um aparelho grande com o qual ele podia falar com Castel Gandolfo, quando estava viajando, ou com o Vaticano. Conheci Martin Cooper, nos Estados Unidos, que é o criador do telefone celular, e ele me pediu que o acompanhasse para explicar a ele o que meu pai costumava dizer: ‘chegará o dia em que as pessoas carregarão uma caixinha no bolso para falar com o namorado, com a família, com o banco’.
Que mensagem seu pai deixaria para os jovens, para as pessoas do mundo, hoje?
Entusiasmo, coragem, tenacidade… insistir quando há uma chance de atingir uma meta. Ele tinha muita fé em Deus. É Deus, dizia ele, que disponibiliza essas forças da natureza para que nós, homens, as utilizemos, salvemos a vida dos homens e a melhoremos. Ele sempre foi grato a esse ser supremo por toda essa beleza, que eu também vi enquanto navegava, esses pores do sol… Então meu pai sempre dizia: “minhas invenções são para salvar a humanidade e não para destruí-la!”.

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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