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Jubileu 2025, Fisichella: testemunhar a esperança é uma necessidade

Depois da apresentação da Bula de Proclamação, o pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização retomou o apelo de Francisco para reacender a esperança em um mundo marcado pela guerra, pelo desespero e pelo desafio das novas tecnologias: “Diante de tantas formas do mal e morte, devemos ser anunciadores e testemunhas de vida e de esperança”
Marie Duhamel – Vatican News
Na noite de quinta-feira, 9 de maio, o Papa entregou a Bula de Proclamação do Jubileu de 2025 “Spes non confundit” aos arciprestes das basílicas papais. A bula foi lida na Basílica de São Pedro antes da celebração das Segundas Vésperas da Solenidade da Ascensão, deste modo foi oficialmente proclamado o Jubileu de 2025. A partir da abertura da Porta Santa no próximo dia 24 de dezembro, até o seu fechamento em 6 de janeiro de 2026, Roma, cidade dos Santos Pedro e Paulo, espera receber 32 milhões de pessoas, incluindo pelo menos 100 mil fiéis a pé, “peregrinos da esperança” que viverão a experiência do perdão e da indulgência. Fundamentais em todo Ano Santo, como diz Dom Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, ao Vatican News.
Entrevista
Dom Rino Fisichella, o perdão e a indulgência ainda são os principais significados do Jubileu?
O Jubileu ainda mantém sua característica ao longo dos séculos, poucas coisas mudaram na história do Jubileu. O Jubileu do Papa Bonifácio VIII continua sendo o início da grande indulgência. O termo indulgência, séculos antes, já era sinônimo de misericórdia, de perdão, e o Papa Bonifácio oferece, como ele mesmo escreve na Bula, não apenas um perdão, mas uma indulgência plena. Acredito que essa ainda é a experiência que pode ser vivida no Jubileu de 2025, ou seja, a experiência do perdão e a experiência da misericórdia. Afinal, vivemos em uma cultura que fala pouco sobre o perdão e há um número cada vez maior de casos de ressentimento, casos de ódio, diante de formas de violência em que cada vez mais a pessoa se fecha em si mesma, enquanto encontramos uma oportunidade, com o Jubileu, de refazer com força o grande caminho do perdão.
Por que a graça do perdão ainda é um caminho a ser seguido nos dias de hoje?
Em primeiro lugar, o perdão é um compromisso concreto do amor cristão. Não podemos nos esquecer de que o perdão é o fruto do amor. Quem ama perdoa, quem não ama não é capaz de perdoar, e quem não perdoa não é capaz de amar. Os dois termos estão intimamente relacionados um ao outro e um é consequência do outro. Portanto, em um contexto como o nosso, que culturalmente prospera com a violência – não nos esqueçamos das guerras que estão presentes, mas também não nos esqueçamos dos atos de violência que fazem parte da vida cotidiana em nossas comunidades, especialmente para aqueles que vivem nas grandes cidades – tudo isso deve ser um compromisso que dê esperança de acesso ao perdão.
Sabemos o quanto a misericórdia, o sacramento do perdão, está no coração do Papa, que propõe justamente a palavra esperança. Por quê?
Porque o mundo de hoje precisa de esperança. A esperança é a grande esquecida em nossa pregação. Sempre falamos de fé e caridade, nunca falamos de esperança. No entanto, a esperança é o que o mundo mais precisa hoje. E não apenas por causa da violência, mas também de forma mais positiva. Quem poderia se comprometer a começar a olhar para o futuro sem ter esperança? A esperança pertence aos estágios da vida de cada um de nós, a criança espera, o adolescente espera, o jovem espera, o adulto espera, o idoso espera, a esperança acompanha os estágios da vida das pessoas. E devemos ser capazes de acompanhar essa esperança com conteúdos e com sinais que a tornem concreta. O Jubileu quer ser isso, quer ser um lembrete e uma provocação, porque o anúncio da esperança, que é o anúncio da ressurreição de Jesus Cristo, como diz o apóstolo Paulo, para nós cristãos, Cristo é a nossa esperança. A esperança nasce para nós da certeza da ressurreição de Jesus e, portanto, diante de tantas formas do mal, diante de tantas formas de morte e diante até mesmo de uma cultura da morte, devemos ser anunciadores e testemunhas com sinais concretos de vida e de esperança.

“Spes non confundit” é o título da Bula de proclamação do Ano Santo de 2025. Os apelos de Francisco são pelos prisioneiros, migrantes, doentes, idosos e jovens dominados pelas …

O Papa desafia os fiéis, convida-os a dar testemunho dos sinais de esperança, mas também desafia os que estão no poder a dar ao mundo esse impulso de esperança. Obviamente, pensamos nos prisioneiros a serem libertados, nas dívidas a serem canceladas. De que forma o Papa desafia os líderes de hoje?
O Papa tem algumas expressões muito fortes na Bula e se dirige àqueles que são responsáveis pelo governo das nações para que possam implementar, diz ele, formas de anistia, ele usa uma expressão que se abre a muitos significados e muitas possibilidades e pede o perdão da dívida que os países pobres contraíram com as instituições internacionais. E também pede que seja dada consideração àqueles que morrem de fome enquanto os recursos financeiros são gastos na violência da guerra. Há vários apelos que também são combinados com o compromisso concreto de cada cristão, porque o Papa diz para não esquecermos que todos aqueles que trabalham pela paz com suas mãos são verdadeiramente abençoados, ou seja, fazem parte do Reino de Deus.
Em “Spes non confundit”, Francisco também fala do Jubileu como uma caminhada para Roma, colocando-se a caminho dos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo. Qual é a importância desse deslocamento físico?
A peregrinação é um dos sinais que pertencem à vida da Igreja, mas a peregrinação também é o ícone da vida de cada pessoa, crente ou não crente. Muitas vezes somos errantes, ou seja, caminhamos, mas não temos um destino, e é isso que distingue o peregrino. O peregrino tem um destino à sua frente, e a vida não pode ser a de um andarilho que não tem direção nem significado. A vida precisa ter um significado, precisa ter uma direção, e é por isso que se torna uma peregrinação. A peregrinação pertence, acima de tudo, ao mundo dos jovens de hoje. O mundo da juventude está entusiasmado com a partida. Vemos isso toda vez que há iniciativas para peregrinações e isso pode ser visto diariamente. Em Roma, esperamos cerca de 100 mil pessoas, 100 mil peregrinos que virão a pé e farão sua peregrinação, caminhando de diferentes países e mostrando como é verdadeiro o significado da palavra peregrino, ou seja, aquele que cruza os campos, aquele que cruza as fronteiras, porque as fronteiras são superadas pelo sentido de unidade de toda a raça humana e da fraternidade que deve unir a todos nós. E a peregrinação ao túmulo de Pedro e Paulo para os fiéis é uma confirmação da fé, pois vivemos em um momento de crise de fé que todos podem ver. A peregrinação pode realmente ser uma ferramenta para refletir sobre nossa existência, para voltarmos a nós mesmos e entendermos que realmente precisamos do Senhor Jesus.
Falando sobre os jovens, há outra palavra que o Papa usa, que ele apresenta, que é a paciência. Por que essa paciência é importante à luz da esperança?
O Papa escreve que, na era da Internet, a paciência desapareceu completamente de nossas vidas. Queremos tudo e agora, e essa é a nova cultura digital, entre seus aspectos negativos. A paciência à qual o Papa se refere é um conteúdo bíblico profundo. Paciência não significa sofrer ou suportar, paciência bíblica significa outra coisa, significa ter a coragem de enfrentar situações e, portanto, significa ter a capacidade de saber esperar. A esperança fala de espera e, portanto, a espera também exige de cada um de nós esse sentimento de paciência, que é a tenacidade com a qual vemos o passar do tempo, mas não falhamos na certeza da esperança que nos foi dada.
Como devemos viver esse momento de Jubileu que chega em pleno caminho sinodal? Como o Sínodo e o Jubileu estão ligados?
Em primeiro lugar, porque o Sínodo e o Jubileu são um caminho, um caminho comum, um caminho de todo o povo de Deus. O Jubileu nasceu por causa de um movimento do povo, o Jubileu não nasceu porque o Papa queria um Jubileu; ao contrário, Bonifácio VIII nem sabia o que era um Jubileu e temos documentos que atestam isso. Portanto, foi o povo de Roma que pediu o Jubileu e o caminho sinodal é o caminho de um povo, é um povo em caminho para anunciar a esperança e a certeza da esperança com a ressurreição do Senhor. Ambos têm o mesmo propósito: levar o Evangelho do anúncio da ressurreição de Jesus Cristo, que é a nossa esperança.
Em 2025, o ano do Jubileu, todos os cristãos celebrarão a Páscoa no mesmo dia. Esse ano, como o Papa menciona na bula, é também o 1700º aniversário do Concílio Ecumênico de Niceia. Como esse Jubileu pretende ser ocasião para levar adiante a unidade entre os cristãos?
O Papa diz que a sorte de celebrarmos a Páscoa todos juntos no próximo ano também se torna uma oportunidade de fazer com que as pessoas percebam que as diatribes do passado não são mais compreendidas por muitas pessoas hoje. Portanto, seria necessário um esforço comum para que, pelo menos todos os cristãos, comemorassem a Páscoa no mesmo dia. Mas esse também foi um debate em Niceia. Em Niceia, a data da Páscoa também foi discutida. Aqui, penso e espero que, desse ponto de vista, estou convencido de que a celebração do 1700º aniversário do primeiro Concílio da história da Igreja também pode se tornar um compromisso ecumênico muito forte para todos os cristãos. Em primeiro lugar, porque Niceia, apesar das diatribes, das dificuldades, das lutas e das divisões, escreveu a profissão de fé pela primeira vez usando a expressão “Cremos”. Até então, todas as profissões de fé que temos dizem ‘eu creio’, porque são as fórmulas batismais de fé. Pela primeira vez, a Igreja em Niceia tomou consciência do que é o ‘nós’ da Igreja e, portanto, um ‘nós’ que, no decorrer dos séculos, pode ter sido esquecido, pode ter sofrido algumas deficiências, certamente devemos notar algumas divisões, mas a consciência, a responsabilidade, diante do mundo, de que somos a Igreja, nós que cremos, nós que esperamos, nós que damos testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, não pode falhar.

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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