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Jubileu, história e raízes nas Sagradas Escrituras

No jornal da Santa Sé, L’Osservatore Romano, o cardeal e biblista reconstitui as origens do Ano Santo, desde o Antigo Testamento até os Evangelhos.
De Gianfranco Ravasi
Costuma-se traçar a realidade germinal do “jubileu” ao som de uma trombeta: o eco vinha de Jerusalém, rasgava o ar e saltava de aldeia em aldeia. Ora, no texto hebraico de todo o Antigo Testamento o termo jobel aparece vinte e sete vezes: seis vezes não há sombra de dúvida que significa o chifre de carneiro, enquanto nas outras vinte e uma diz respeito ao ano jubilar. A página de referência fundamental é o capítulo 25 do livro de Levítico. É um texto complexo, inserido no livro dos filhos de Levi, portanto dos sacerdotes, um livro cerimonial, de regulamentos minuciosos e meticulosos, que dizem respeito aos rituais do templo de Jerusalém.
Uma premissa filológica
O termo jobel ressoa sobretudo naquele texto, mas também se encontra no capítulo 27. A antiga versão grega da Bíblia, tradicionalmente chamada de Septuaginta, sendo confrontada com esta palavra – jobel – em vez de traduzi-la com a tradução “jubileu”, ano jubilar, a traduziu segundo um cânone interpretativo: áphesis, que em grego significa “remissão”, “libertação” ou mesmo “perdão”. Este vocábulo será muito importante para Jesus porque – como veremos – ele não fala de jubileu, mas usa o termo áphesis no grego de Lucas. Na verdade, no Novo Testamento nunca há a palavra “jubileu”. Os Setenta, estes antigos tradutores da Bíblia, portanto, passaram de um fato de culto primorosamente sagrado (a celebração do ano jubilar que começa com o som da trompa de carneiro numa data muito específica, em conexão com a solenidade de Kippur, que isto é, da Expiação pelo pecado de Israel) a um conceito ético, moral, existencial: o perdão das dívidas, a libertação dos escravos (que era o conteúdo do jubileu). O tema do jubileu passou, portanto, da linguagem e do ato litúrgico para a linguagem e a experiência ético-social. Este elemento é relevante também hoje para não reduzir o jubileu cristão apenas a uma celebração ou ritual básico, mas para transformá-lo num paradigma de vida cristã. Alguns estudiosos pensam que o termo jobel não deve ser ligado ao som do chifre de carneiro, mas à raiz hebraica jabal, que também significa “adiar, restituir, mandar embora”. A interpretação, porém, parece um pouco forçada porque esse “mandar embora” não indica necessariamente libertação, não tem a amplitude do já mencionado termo grego áphesis, retomado com particular ênfase pelo próprio Jesus. Outras tentativas filológicas ofereceram várias explicações, mas é preciso reconhecer que o elemento inicial é um determinado ritual. Supõe o som do chifre de carneiro que marcou o início de um determinado ano, no décimo dia do mês de outono de Tishri, correspondendo aproximadamente ao nosso setembro-outubro, mês em que também caia o Kippur. É interessante notar que na língua fenícia, de certa forma a irmã mais velha do hebraico, a mesma raiz, ou seja, as três consoantes que são a base da palavra jobel, ou seja, jbl, indica a “cabra”, um componente significativo de Kipur. Portanto, não há dúvida de que o som do chifre, a sua marcação de um tempo sagrado, está na base do termo “jubileu”, mas não se deve esquecer a tensão que conduz ao outro pólo, o da tradução grega. : não é apenas um rito, é um elemento que deve ter um impacto profundo na existência de um povo. Após esta introdução, procuramos recolher e ilustrar alguns temas fundamentais do Jubileu que aparecem de alguma forma interligados entre si.
O repouso da terra
Segundo o texto bíblico, o primeiro tema bastante original é o “repouso” da terra. De acordo com o esquema sabático, com o qual o tempo era medido dentro da tradição bíblica, a terra repousava a cada sete anos. Segundo as indicações de Levítico, 25, a terra deveria repousar também no ano jubilar, que seguia sete semanas de anos, ou seja, no quinquagésimo. O compromisso pareceria bastante impraticável e difícil de aplicar. É possível deixar a terra repousar durante um ano, especialmente numa civilização como a do antigo Oriente Próximo, onde as necessidades eram muito inferiores às nossas e a vida era muito mais frugal. Mas deixar a terra repousar durante dois anos consecutivos (o quadragésimo nono ano sabático e o quinquagésimo jubileu), numa economia substancialmente agrícola, teria colocado a própria sobrevivência em crise. Portanto, ou o ano jubilar foi feito coincidir com o sétimo ano da sétima semana, ou o jubileu, mais do que uma realização concreta, foi antes de tudo uma esperança, um sinal utópico, um olhar para além do modo de vida habitual. Deixar a terra repousar significa não semeá-la e não colher seus frutos. Esta escolha, por um lado, faz-nos descobrir que a terra é uma dádiva, porque, mesmo que em menor quantidade, ainda consegue produzir alguma coisa. Seus frutos serão menores, mas não faltarão. Os ciclos da natureza não dependem apenas da obra do homem, mas também do Criador. É a memória de outra primazia, a transcendente. Por outro lado, neste período houve uma tentativa de superação da propriedade privada e tribal porque cada um podia tirar da terra o que ela oferecia, sem respeitar as fronteiras e os recintos do cadastro. É, na prática, o reconhecimento do destino universal dos bens, onde tudo está ao alcance de todos. Este tema também pode adquirir grande significado na sociedade atual. Nele, a humanidade pode ser representada por uma mesa posta em que há alguns, de um lado, que têm um acúmulo exagerado de bens, e o resto do povo, do outro, uma multidão que fica olhando e só pode aproveitar as sobras e as migalhas. Não existe mais a ideia da disponibilidade universal dos bens, anterior a qualquer propriedade privada. A esta luz, é sugestivo referir-nos às reflexões propostas a este respeito pela Encíclica Laudato si’ do Papa Francisco.
O perdão das dívidas e a restituição das terras
O segundo tema, igualmente original, é o perdão das dívidas e a restituição in pristinum (ao proprietário original) das terras alienadas e vendidas. Na visão bíblica, a terra era propriedade não do indivíduo, mas das tribos e famílias de clãs, cada uma das quais tinha o seu território particular. Tinha sido doado durante a famosa distribuição das terras após a conquista de Canaã, como lemos no livro de Josué (cc. 13-21). Cada vez que, por motivos diversos, o clã perdia suas terras, em certo sentido, a divisão desejada por Deus não era alcançada. Com o jubileu, ou seja, a cada meio século, o mapa da terra prometida era reconstruído, assim como o ‘Deus quis, através do dom divino da divisão do país entre as tribos de Israel. Todos receberam então a sua porção, exceto a tribo de Levi, que vivia das contribuições oferecidas pelas outras tribos pelo seu serviço no templo. Com as dívidas aconteceu essencialmente a mesma coisa. No início do período jubilar, todos se encontravam iguais, com os mesmos poucos bens. Posteriormente, porém, alguns perderam seus bens por infortúnio, outros por preguiça ou incapacidade. Depois de cinquenta anos decidiu-se voltar ao ponto de partida, garantindo que todos se encontrassem num nível de comunhão de bens absoluta, ideal, utópica e em igualdade. Tudo ainda se tornou comum e foi distribuído de acordo com as diversas tribos. Assim, cada família recuperou seus bens, suas terras e todos os seus filhos. Num apelo do livro do Deuteronômio, esta renovação social é continuamente proposta ao judeu para que ele a considere como o modelo social pelo qual viver, apesar da consciência de que é um projeto ideal que nunca poderá ser plenamente alcançado. De fato, no livro do Deuteronômio lemos: «Não haja entre vós nenhum necessitado […] e se entre vós houver algum irmão necessitado, não endureçais o coração nem fecheis a mão» (15, 4.7). Uma escolha que não é apenas uma adesão ideal à fraternidade e à solidariedade, mas que implica a concretude da “mão”, isto é, da ação, do compromisso social concreto. Recordemos o perfil da comunidade cristã de Jerusalém na qual – como Lucas reitera em diversas ocasiões nos Atos dos Apóstolos – “ninguém chamava de propriedade o que lhe pertencia, mas tudo lhes era comum” (4, 32).
 
A libertação dos escravos
O terceiro tema estrutural do jubileu bíblico é igualmente incisivo e desafiador. O Jubileu era o ano da remissão não só das dívidas, mas também da libertação dos escravos. O livro de Ezequiel (46, 17) fala do jubileu como o ano da libertação, da redenção, o ano em que aqueles que tinham ido ao serviço para sobreviver à pobreza regressaram às suas casas, com as dívidas perdoadas e com a reapropriação das suas terras e sua liberdade. Voltava-se a ser o povo do êxodo, o povo livre do manto de chumbo da escravatura e da discriminação. Também neste caso era uma proposta ideal, destinada a criar uma comunidade que não tivesse mais em si laços de abuso de um sobre o outro, não tivesse mais algemas nos pés e pudesse caminhar unida em direção a um objetivo. É claro que a sua relevância se aplica também à nossa história, na qual estão registadas inúmeras formas de escravatura: toxicodependência, tráfico de prostitutas, exploração infantil a nível profissional ou sexual e pornografia e muitas outras formas ferozes de sujeição. Pode-se pensar também em todos aqueles povos que são praticamente escravos das superpotências porque com as suas dívidas são absolutamente incapazes de ser árbitros do seu próprio destino; a atividade de certas multinacionais é muitas vezes uma verdadeira forma de tirania econômica que oprime algumas nações e sociedades. A ressonância da palavra jubilar da liberdade tem, portanto, também um grande significado no nosso tempo, e isto também é verdade considerando o apelo à libertação interna. Na verdade, alguém pode ser externamente livre, mas internamente escravo através de certas cadeias invisíveis, como o condicionamento social da comunicação de massa, a superficialidade, a vulgaridade e as dependências da infosfera. Numa passagem do livro de Jeremias (34, 14-17), o profeta explica com força a derrocada e a escravização de Jerusalém e da Judéia pelos babilônios em 586 a.C., precisamente como o julgamento de Deus sobre o fato de os judeus não terem libertado os escravos por ocasião do Jubileu. O egoísmo significou que a grande norma da liberdade não foi praticada e, como consequência, foi implementada uma espécie de punição de retaliação por parte de Deus que escravizou Israel.
O Jubileu de Jesus
No início da sua pregação pública, segundo o Evangelho de Lucas, Cristo entrou na modesta sinagoga da sua aldeia, Nazaré. Naquele sábado foi lido um texto de Isaías (c. 61) e foi sua vez de proclamá-lo e comentá-lo. Através destas palavras ele se apresentou como enviado do Pai para inaugurar um jubileu perfeito que se estenderia pelos séculos seguintes e que os cristãos deveriam celebrar em espírito e verdade: «O Espírito do Senhor está sobre mim; por isso ele me ungiu e me enviou para proclamar a boa nova aos pobres, para proclamar a libertação aos presos e a visão aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e para pregar um ano da graça do Senhor” (Lucas, 4, 18-19). Esta é a outra raiz – além da do Antigo Testamento – do jubileu cristão. Nas palavras de Jesus, o horizonte do Ano Santo torna-se o paradigma da vida do cristão que amplia e abrange todos aqueles sofrimentos que são o programa da missão de Cristo e da Igreja. O «ano da graça do Senhor», isto é, da sua salvação, inclui quatro gestos fundamentais. O primeiro é “evangelizar os pobres”: o verbo grego é precisamente aquele que tem na sua base a palavra evangelho, a “boa nova”, o “anúncio feliz” do Reino de Deus. Os destinatários são os “pobres”, isto é, os últimos da terra, aqueles que não têm em si a força do poder político e econômico, mas têm o coração aberto à adesão à fé. O jubileu está destinado a trazer de volta ao centro da Igreja os humildes, os pobres, os miseráveis, aqueles que dependem externa e internamente das mãos de Deus e dos irmãos. A liberdade é o segundo ato do jubileu, um ato que – como vimos – já estava no jubileu de Israel. Jesus, porém, também se refere aos presos em sentido estrito e metafórico e aqui antecipamos aquelas palavras que ele repetirá na cena do julgamento no final da história: “Eu estava na prisão e vocês vieram me visitar” (Mateus, 25, 36). O terceiro compromisso é devolver a “visão aos cegos”, gesto que Jesus realizou muitas vezes durante a sua existência terrena: basta pensar no famoso episódio do cego de nascença (João, 9). Este foi, segundo o Antigo Testamento e a tradição judaica, o sinal da vinda do Messias. De fato, na escuridão em que o cego está envolto não existe apenas a expressão de um grande sofrimento, mas também um símbolo. Existe, de fato, uma cegueira interna que não coincide com a física e é a incapacidade de ver profundamente, com os olhos do coração e da alma. Uma cegueira difícil de erradicar, talvez mais que a física, que acomete muitas pessoas em cujas almas é necessário inserir um raio de luz. Por fim, como quarto e último compromisso, propõe-se a libertação da opressão que não é apenas a escravidão mencionada acima em relação ao Jubileu judaico, mas inclui todos os sofrimentos e males que oprimem o corpo e o espírito. É o que todo o ministério público de Cristo atestará. A meta ideal do autêntico jubileu cristão é, portanto, esta tetralogia espiritual, moral e existencial.

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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