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Lançamento da Campanha da Fraternidade na PUC-Rio tem participação de jovens

A Campanha da Fraternidade 2024 com o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” foi lançada no final de abril na PUC-Rio com um trabalho especial realizado pelos jovens do NEAM, o Núcleo de Estudos e a Ação Mundo da Juventude.

Vatican News
O que se entende por amizade social? A pergunta ecoou por toda a Universidade trazendo conceitos e reflexões no lançamento da Campanha da Fraternidade 2024 na PUC-Rio, que recebeu o secretário-executivo de Campanhas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Jean Paul Hansen. A campanha nacional havia sido deslanchada em fevereiro, na sede da Conferência em Brasília, com o tema Fraternidade e Amizade Social e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8); mas na PUC ela teve um sabor especial com a cerimônia organizada pela Igreja do Sagrado Coração (Igreja da Puc) e pelo Núcleo de Estudos e a Ação Mundo da Juventude, o NEAM.
Na cerimônia realizada no último dia 30, no Auditório Padre Anchieta, o assessor de imprensa da CNBB e assessor de comunicação da Reitoria da PUC-Rio, padre Arnaldo Rodrigues, cumprimentou os presentes agradecendo a acolhida da Universidade na pessoa de seu reitor, padre Anderson Antonio Pedroso, S.J, e passou a palavra à professora Marina Moreira, coordenadora do NEAM. Orgulhosa do trabalho de seus alunos, Marina observou que o lançamento na Universidade é uma pequena amostra do que ela é capaz para louvar a Deus em um momento tão difícil do país e do mundo: “mas a gente tem sempre um recado de amor pra trocar com os amigos”, pontuou.
Padre Anderson se dirigiu especialmente aos jovens, lembrando que o propósito da PUC-Rio é propiciar um caminho educativo a quem por ela passar: “a finalidade é ser um lugar acolhedor, educador. E o NEAM nos lembra que os jovens precisam estar no centro desse acolhimento. Porque para educar, primeiro é preciso acolher, então eu acho que o primeiro ponto é lembrar dessa vocação da Universidade, uma pequena cidade que nos ensina a ser cidadãos; mas não cidadãos de qualquer cidade, cidadãos do Céu. Vivemos na Terra, mas habitados com os princípios espirituais, de convivência humana e fraterna. Falar de fraternidade significa crer que Deus é Pai e somos todos irmãs e irmãos”.
O reitor registrou ainda que o momento mostra que o ensino superior deve tirar mais proveito das campanhas da fraternidade, de seus subsídios e de suas experiências, a fim de crescer como comunidade educativa. Sobre o lema de 2024, observou:
“Amigo é aquele que a gente ama, quer bem, mas a campanha dá um salto – não se trata de uma amizade pessoal, mas da amizade social. Como nos inspirou São Francisco de Assis, somos irmãos inclusive de quem pensa e vive diferente de nós. É preciso deixar de lado as diferenças para construir uma amizade que vai além do pessoal e que, depois, pode até se tornar pessoal, uma amizade que se estende à sociedade. Para os jovens do NEAM, é bom lembrar que o mundo de hoje tem três P’s; eles criam uma complicação que vocês vão nos ajudar a vencer: a pós-verdade, ou fake-news, a polarização e o populismo. Agora, embaixo de tudo isso, tem um outro P, que é o pior: é o P da pobreza. Nós temos que lutar contra a pobreza. A PUC tem que ter um compromisso contra a pobreza e não pode ser vista como uma universidade de elite. A PUC é a universidade de excelência e vai continuar sendo, mas, para isso, ela tem que estar engajada na luta contra a pobreza, porque o Rio de Janeiro e o Brasil têm situações que agridem muito a população, especialmente os jovens. Todo projeto que tira o jovem de situações de pobreza, que desenvolve o país, que gera empregos é bem-vindo. Ser irmão do outro é promovê-lo e retirá-lo de situações que o machucam.”
Agradecendo o convite recebido, padre Jean Paul Hansen mencionou que uma das coisas que mais o impressionaram, quando assumiu a secretaria de campanhas, foi a adesão da educação católica às campanhas da fraternidade, revelando, em seguida, um pouco de sua história. Inspirada por um movimento espontâneo de solidariedade do pequeno povoado de Nísia Floresta (Natal, RN) – resultante do empenho de três freiras, da paróquia Nossa Senhora do Ó, em arrecadar fundos para a organização Caritas – a primeira experiência da Campanha da Fraternidade aconteceu na própria Arquidiocese de Natal, por iniciativa do então administrador apostólico, Dom Eugênio de Araújo Sales. No ano seguinte, a experiência foi adotada por outras dioceses da Região Nordeste e, em fevereiro 1964, ampliada para todo o País pelo secretário-geral da CNBB, à época, Dom Helder Câmara. E Pe. Hansen continuou:
“Alguém lembra qual foi o lema de 1964? ‘Lembre-se, você também é igreja’; mas eu gosto de dizer assim: ‘não se esqueça, você também é igreja!’. A campanha foi lançada na quaresma, mas só em novembro de 1964 que viria à luz a Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, que diria, pela primeira vez, que ‘a Igreja é o povo de Deus e que todo o povo de Deus é a Igreja’. Até novembro de 1964, quando se perguntava, no catecismo antigo, quem era a Igreja, se respondia ‘o papa, os bispos e os padres’. Diáconos não. Laicato então, nem pensar” – brincou padre Hansen, salientando que a Campanha da Fraternidade já anunciava a boa nova.
De acordo com o secretário, ao pautar determinados temas, a campanha exigiu, ao longo dos anos, posicionamentos da sociedade brasileira que nenhuma outra entidade exigia. Como exemplos, a publicação do Estatuto do Idoso e a criação de um corpus legislativo sobre a questão da água: “o papa Francisco tem uma série de projetos. Tenho certeza que todos já ouviram falar do Pacto Educativo Global, da Economia de Francisco e Clara e assim por diante. A própria Fratelli tutti com a proposta da amizade social. Todos esses projetos fazem parte de um grande projeto chamado Novo Humanismo Integral e Solidário. O que o papa quer com a economia, com a educação, com a fraternidade, com a ecologia, com tantos outros temas importantes do seu magistério, é construir condições para que o ser humano se entenda integralmente e solidariamente. Para que haja uma nova autocompreensão” – esclareceu o padre.
Para ele, as campanhas da fraternidade representam as mais profundas propostas de conversão, em que os seres humanos são desafiados a escolher entre a lógica fratricida de Caim – que eliminou seu irmão Abel na competição pelo agrado de Deus – ou a lógica fraterna de Cristo: “Caim, antes de eliminar Abel da face da Terra, já o havia eliminado do seu próprio coração. Para mim, essa frase é lapidar, pois quem de nós pode se orgulhar de nunca ter eliminado alguém do seu próprio coração? Aquele dito programa que eu não vou mencionar, que toda semana nos faz pensar em quem vamos eliminar, usa o verbo que preside a lógica de fratricida de Caim. É o verbo eliminar. Nós estamos sendo, às vezes inconscientemente, mas é bom que a gente tome consciência, treinados para eliminar os irmãos. Por que nós não fazemos um programa que pergunte toda semana quem é que nós vamos salvar?” – argumentou. E continuou:
“A lógica redentora de Cristo, em oposição a Caim, não resgata só irmão, resgata também as relações sociais desfiguradas ou desconfiguradas. Por isso eu queria, nessa manhã, provocar em vocês a seguinte reflexão. Qual é a sua lógica? Qual é o seu software? Todos nós temos a lógica fratricida, pelo pecado original, mas todos nós, pelo batismo, recebemos de graça a lógica fraterna e redentora de Jesus. A lógica daqueles que se ocupam em salvar, em integrar, em trazer de volta a comunhão, em acolher, em dignificar. Essa é a proposta de conversão, a proposta da Campanha da Fraternidade.”
Campanha da Fraternidade 2024
Em comunhão com a Carta Encíclica Fratelli tutti, do papa Francisco, inspirada pela vida de São Francisco de Assis, Fraternidade e Amizade Social busca incentivar as pessoas a identificarem situações de inimizade que geram violência e destroem a dignidade dos filhos de Deus; a se inspirarem no Evangelho, que as une como família; e a promoverem o esforço para a mudança interior e comunitária. “Como irmãos e irmãs, somos convidados a construir uma verdadeira fraternidade universal que favoreça a nossa vida em sociedade e a nossa sobrevivência sobre a Terra, nossa Casa Comum, sem jamais perdermos de vista o Céu, onde o Pai nos acolherá a todos como seus filhos e filhas”, disse Francisco em sua mensagem e bênção apostólica.
Colaboração: Reitoria da PUCRio

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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