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Mutirão de padres, bispo e leigos limpa Igreja de Eldorado do Sul–RS

Nos dias 21 e 23 de maio, um mutirão com clero e leigos do Vicariato Episcopal de Guaíba realizou a limpeza da Casa Paroquial e igreja Nossa Senhora Medianeira em Eldorado do Sul, severamente atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Mais de 15 padres, incluindo dom Odair Miguel, bispo referencial do Vicariato de Guaíba, participaram, gesto de profunda fraternidade sacerdotal e solidariedade em tempos de crise.
Pe. Gerson Schmidt* – Porto Alegre
Nos dias 21 e 23 de maio, foi realizado o mutirão com o clero e leigos do Vicariato Episcopal de Guaíba, para limpeza da Casa Paroquial e Igreja Nossa Senhora Medianeira em Eldorado do Sul. Mais de 15 padres auxiliaram na tarefa, de botas e materiais de limpeza, até mesmo contando com o auxílio de Dom Odair Miguel Gonsalves dos Santos, bispo referencial do Vicariato de Guaíba e bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre. A iniciativa contou com a presença do clero e leigos das diversas paróquias do Vicariato, revelando uma verdadeira fraternidade sacerdotal nesse tempo de verdadeira crise no solo rio-grandense.  A cidade foi severamente atingida pelas cheias que assolaram o Estado Gaúcho. Muitos moradores não querem permanecer mais na cidade.
Segundo Pe. Adilson Correia da Fonseca, Vigário Episcopal do Vicariato, de bota e calças sujas de barro pela limpeza, é necessário essa “iniciativa para vivência a comunhão eclesial nas dificuldades e desafios.  Porque como diz a Constituição Gaudium et Spes, as alegrias, dores e esperanças da humanidade são as alegrias e dores da Igreja. Dom Odair Miguel parabenizou a todos pelo mutirão. “Que bom que todos se reúnem para fazer uma primeira limpeza geral na paróquia Nossa Senhora Medianeira. A atitude do Vicariato foi de unidade e solidariedade”, disse.

Situação da igreja antes da limpeza

O bispo vizinho do Rio Grande do Sul, da Diocese de Criciuma-SC, que trabalhou e morou no Vicariato de Guaíba, Dom Jacinto Flach, natural da cidade de Bom Princípio-RS, uma das cidades muito atingidas pela catástrofe, enviou uma mensagem de ânimo ao clero gaúcho: “Olhando essa realidade e olhando também e ouvindo os relatos nessas últimas semanas, é realmente uma coisa que a gente não consegue entender. Também eu queria visitar meus familiares já por três vezes e nunca deu para ir, por causa das estradas, pois não se consegue chegar. Olhando ali para vocês de Eldorado do Sul, que tormento e sofrimento! Mas também nos ensina que a gente vai também aprender com tudo isso a confiar mais em Deus e a solidariedade humana, com certeza, vai crescer com tudo isso. Esperamos que vocês ali na luta limpando, especialmente a casa de Deus, onde as pessoas encontram um pouco de força para esses momentos de sofrimento. Contem com nossas orações. Daqui já mandamos muitos e muitos donativos, caminhões e caminhões para aquela região de toda grande Porto Alegre, as regiões mais atingidas. Eu agradeço de coração ao meu povo catarinense e também a vocês que estão aí na luta, esperando que um coração solitário se manifeste. Deus abençoe vocês aí, muita coragem e força! E não esqueçam a oração e a nossa grande força nessas horas”, expressou com compaixão o prelado ao seu antigo rebanho.
A Paróquia Nossa Senhora Medianeira de Eldorado do Sul é uma das paróquias mais atingidas e que se localiza próxima à Grande Porto Alegre, ao largo da cidade e do Rio Guaíba. A causa de tanta inundação aos arredores da capital gaúcha, pelo Rio Guaíba, são seus afluentes. O Lago do Rio Guaíba, que margeia Porto Alegre, recebe água de cinco rios do Rio Grande do Sul: o Caí, o Taquari, o Sinos, o Gravataí e o Jacuí. Com as chuvas fortes e constantes no Estado gaúcho, o nível de cada um deles subiu rapidamente e a tragédia foi inevitável. Por isso, Eldorado do Sul, Guaíba, Cachoeirinha, Canoas e Porto Alegre, Barra do Ribeiro e Viamão foram atingidas diretamente pelas cheias. O desaguamento do Rio Guaíba atingiu também, nos dias posteriores, a cidade de Pelotas e Rio Grande.

Situação da igreja antes da limpeza

Padre Fabiano Glaser dos Santos, pároco do município do Município de Eldorado, participou ativamente da limpeza do templo e casa paroquial, zelando por aquilo que ainda sobrou. Seu escritório, como vemos em fotos, teve perda total de documentos importantes da paróquia, livro Tombo, livros de estudos pessoais e outros materiais. Pe. Fabiano é Mestre em Teologia Sistemática pela PUCR e Doutorando em Teologia Sistemática pela PUCRS. Estudou cinco meses no Bonn Center for Dependence and Slavery Studies, em Bonn, Alemanha, aprofundando sua Pesquisa do doutorado: “Discursos eclesiásticos antiescravistas no Rio Grande do Sul na segunda metade do século XIX”. Informou que teve perdas de livros importantes de seu aprofundamento, como os autografados por Joseph Ratzinger e Cardeal Gerhard Ludwig Müller.
Sua paróquia fica em uma área urbana e foi 100% atingida pelas fortes chuvas. “Tudo virou um só rio”, disse anteriormente. Das seis igrejas da Paróquia Nossa Senhora Medianeira, somente uma não foi tomada pelas águas porque está em um “distrito chamado Parque Eldorado que não teve inundações”. No bairro onde se situa sua Igreja, a cena é de destruição e de deserto. Muitos entulhos das casas e moradores que, de momento, não estão morando na região.
As chuvas, nessa quinta e sexta feira (23 e 24 de maio), retornaram com toda intensidade no Estado, preocupando a todos. As águas se avolumam de novo e seu aumento, nessa quinta, já destruiu a passadeira flutuante sobre o Rio Forqueta, entre Lajeado e Arroio do Meio, construída recentemente pelo Exército Brasileiro, para acesso aos pedestres das cidades isoladas. Ruas já ficaram alagadas, impedindo acessos. Porto Alegre novamente em estado de alerta devido as chuvas desta semana. Participando da limpeza dos ambientes internos da sede paroquial de Eldorado, depois do almoço improvisado dentro da própria Igreja, o pároco pediu para encerrarmos temporariamente os trabalhos, pois o alagamento começou a comprometer a saída dos carros da cidade. Pe. Fabiano ainda está residindo na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Guaíba, desde o início do mês.

Dom Odair (à esquerda) durante a limpeza da casa paroquial

Imagem da Virgem de Fátima navega pelas águas e permaneceu em pé
Além de incontáveis salões paroquiais, mais de 30 instituições de Ensino, na grande Porto Alegre, localizadas nas regiões atingidas pelas enchentes, abriram suas portas para os desabrigados. Exemplo disso é a rede de Escolas São Francisco, que das dez unidades, duas foram atingidas diretamente pelas cheias, uma que está debaixo d’água e outra ficou ilhada em um bairro de Porto Alegre. O assunto agora passa longe dos problemas estruturais, pois outras cinco unidades cuidam do mais essencial que é a vida de quem perdeu tudo.

Imagem de Nossa Senhora, localizada na capela do Colégio São Francisco, no bairro São Geraldo

Quando as águas baixam, os estragos são vistos em todo o lugar e a situação parece desoladora e, às vezes, desesperadora. Por isso, urge ver sinais de esperança. No Colégio São Francisco – Sagrada Família – do Bairro São Geraldo, na capital gaúcha, um vídeo mostra um aspecto curioso. Uma imagem da Virgem de Fátima, deslocando-se do local de origem da entrada do colégio, foi levada pelas águas, pelo pátio da escola, e permaneceu próxima à capela, não deitada, mais em pé. A imagem de Nossa Senhora foi encontrada intacta em frente à capela após a enchente. De alguma forma, a imagem percorreu uma distância de aproximadamente 100 metros, um fato que deixou todos os funcionários surpresos e impressionados.
Segundo o Diretor Geral da Rede das Escolas São Francisco, Pe. José Luis Schaedler, a imagem com a enchente deve ter flutuado ou sido empurrada através da porta, atravessado o pátio central e foi parar na frente da Capela, no fundo do colégio e ficou em pé e não ficou suja com a lama, nem ficou danificada… E é de gesso!”. Schaedler disse que “a imagem passou o dia dedicado à Nossa Senhora de Fatima, 13 de maio, embaixo d’água! Mãe Maria vigiando! Permaneceu inteira. Em pé. Um belo sinal de que o que é importante e verdadeiro, nem a inundação derruba ou quebra! Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós!”, invocou o presbítero.  E concluiu: “Realmente não tem como entender o que aconteceu… Dia 13 de maio as águas estavam na altura das janelas e provavelmente a imagem deveria estar dentro da água e deslocando-se de um lado para o outro, assim como os móveis, cadeiras, classes, computadores”.
*Pe. Gerson Schmidt é jornalista e Colaborador da Rádio Vaticano

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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