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Pastoral Carcerária: presença do Papa junto a detentos dá esperança à realidade do Brasil

“O Papa nos aponta o caminho que a gente também quer seguir”, afirma o vice-coordenador nacional da Pastoral Carcerária. Na Semana Santa, uma penitenciária de Roma. No domingo (28), Francisco visitou uma prisão em Veneza, na Itália, encontrou detentas e dirigiu “palavras tão bondosas e cheias de misericórdia. A gente percebe que ainda há esperança”, reforça Pe. Almir Ramos, que atua num Brasil com quase 1 milhão de presos, o terceiro país no mundo com maior população carcerária após EUA e China.

Ouça a reportagem especial com a voz do Papa e compartilhe

O primeiro compromisso oficial de Francisco em Veneza neste domingo (28) foi na Casa Feminina de Detenção na ilha de Giudecca. O espaço sedia até 24 de novembro o Pavilhão da Santa …

Andressa Collet – Vatican News
O Papa Francisco acaba de voltar da visita pastoral a Veneza, no domingo (28), para se programar para uma próxima, marcada para 18 de maio na cidade italiana de Verona. Segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé que anunciou nesta segunda-feira (29) o programa oficial, o Pontífice deve voltar a uma penitenciária, desta vez à Prisão Montorio, que tem virado notícia local nos últimos meses pelos trágicos suicídios registrados, além de uma preocupante superlotação confirmada por dados da Associação Italiana Antigone, já que acolhe cerca de 490 pessoas diante da capacidade de 337 lugares.
Em Veneza, Francisco visitou a Casa Feminina de Detenção na ilha de Giudecca, que abriga 80 mulheres reclusas, privadas da sua liberdade. Em discurso neste domingo (28), insistiu que estava ali para um momento importante de dedicação mútua de tempo, oração, proximidade e afeto fraterno, desejado por Deus, porque Ele conhece a história de cada uma. Não faltou uma mensagem de encorajamento para as detentas:
“Renovemos hoje, eu e vocês, juntos, a nossa confiança no futuro: não fechem a janela, por favor, sempre olhar o horizonte, sempre olhar o futuro, com a esperança. Gosto de pensar na esperança como uma âncora, que está ancorada no futuro, e nós temos nas mãos a corda e vamos em frente com a corda ancorada no futuro. Vamos nos propor a começar cada dia dizendo: hoje é o momento favorável, hoje; hoje é o dia justo, hoje; hoje recomeço sempre para toda a vida!”
As palavras do Papa quando chegam ao Brasil
Para o vice-coordenador nacional da Pastoral Carcerária, Pe. Almir José de Ramos, do clero da Arquidiocese de Florianópolis/SC que atua como agente de pastoral há 20 anos, as palavras do Papa são sempre muito fortes para justamente chamar a atenção da realidade do sistema prisional:
“Isso nos fala muito, para nós, Pastoral Carcerária do Brasil. Primeiramente porque nós estamos no país com a terceira maior população carcerária do mundo e, também, com um número muito grande de mulheres encarceradas no nosso país. As feridas, as cicatrizes, as dores e o sofrimento dessas pessoas no nosso país – e de modo especial, das mulheres – interpelam nós, agentes da Pastoral Carcerária, para que a gente possa fazer algo para ajudar a mudar essa história.”

A atuação da Pastoral Carcerária

Em discurso, o Papa também falou da dura realidade vivida na prisão, com “problemas como a superlotação, a carência de instalações e de recursos, os episódios de violência”. No Brasil, em particular, acrescentou o Pe. Almir, o encarceramento em massa só aumenta, assim como o sofrimento e as dores das pessoas confinadas. A população carcerária no país chega a quase 1 milhão de presos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China:
“Para cada pessoa, a gente conta pelo menos mais 4 pessoas que são atingidas pela prisão. Então, se temos quase 1 milhão de pessoas ou 900 mil pessoas presas, a gente pode contar tranquilamente que 4 milhões de pessoas no Brasil são atingidas: seja uma mãe, seja um filho, seja uma esposa, um esposo, enfim, familiares dessas pessoas que se encontram não presas, mas atingidas de alguma forma pelo sistema prisional.”

“E quando a gente vê o Papa indo ao encontro dessas pessoas, o Papa dirigindo palavras tão bondosas, tão cheias de misericórdia para essas pessoas, a gente percebe que ainda há esperança.”

“Apesar de que nós, às vezes, caminhamos contra toda essa esperança… Mas temos a certeza de que nós não podemos perder a esperança! Nós temos a certeza de que nós estamos indo ao encontro dessas pessoas, que são nossos irmãos e irmãs, e que precisam tanto da gente, que muitas vezes eles não têm outra visita a não ser a da Pastoral Carcerária. Então, que esse exemplo do Papa Francisco para todos nós sirva para que a gente continue lutando, sonhando esse sonho de Deus, que é o mundo sem cárcere, lutando pelo desencarceramento, lutando contra todo sofrimento no sistema prisional.”

As visitas do Papa a unidades prisionais
O Papa Francisco, segundo o cardeal José Tolentino De Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, “é um visitador global de cárceres. Já visitou quase 20 cárceres, mais do que um por ano”. Essa foi a segunda vez no ano que o Papa visitou uma prisão. E feminina. Na Quinta-feira Santa, em 28 de março, com humildade e ternura, o Pontífice imitou Jesus durante a Ceia do Senhor e lavou e beijou os pés de 12 mulheres que cuprem pena na Penitenciária Feminina de Rebibbia, em Roma. Um caminho seguido diariamente no Brasil, como nos conta o Pe. Almir:
“É interessante observar que aqui no Brasil, depois que começamos a acompanhar o Papa Francisco em algumas das visitas dele no sistema prisional, lavar os pés dos presos e das presas, muitos padres e também bispos começaram a fazer isso aqui no Brasil. E hoje em dia já é uma realidade que acontece em muitas dioceses. Na Semana Santa, muitos padres, bispos, leigos, religiosos e diáconos vão nas unidades prisionais, celebram com eles e fazem o Lava-pés. E mais do que isso, também, estão lá no dia a dia, semanalmente, nessas unidades, levando um pouco de dignidade, de paz e de esperança para essas pessoas. E é porque nós temos o exemplo bonito que vem do Papa e a gente também sente que a gente precisa fazer o mesmo, afinal de contas, o nosso grande pai que é o Papa, o nosso grande líder espiritual que é o Papa, nos aponta o caminho e a gente quer seguir também por esse caminho.”

A realidade no Brasil inspirada no Papa Francisco

O cardeal José Tolentino de Mendonça comentou a visita do Papa Francisco à Penitenciária Feminina de Giudecca, que acolhe o Pavilhão da Santa Sé na Bienal de Veneza. O prefeito do …

O caminho é colocar a pessoa humana no centro, porque “todos têm uma dignidade que precisamos abraçar”, disse o cardeal Tolentino em entrevista ao Vatican News. “Todos nós temos erros a serem perdoados e feridas a serem curadas”, reforçou ainda o Papa Francisco em discurso na prisão de Veneza, inspirando a missão da Pastoral Carcerária no Brasil:
“Que essa presença do Papa nessa unidade prisional em Veneza, venha a reforçar a nossa luta. Venha a nos ajudar a sermos cada vez melhores e a fazer cada vez melhor o nosso trabalho, assumir cada vez mais a nossa missão de agentes da Pastoral Carcerária. E que a gente possa também lutar mais junto como essas pessoas pela dignidade, pelo respeito aos direitos humanos que são tantas vezes negados. Principalmente aos direitos das mulheres, às vezes tão esquecidas, tão abandonadas, tão marginalizadas, tão maltratadas nesse sistema e que precisam da nossa presença e da nossa solidariedade.”


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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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