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Cardeal Marc Ouellet faz conferência na PUC-Rio

‘Para uma teologia fundamental do sacerdócio’ é o tema de conferência ministrada pelo cardeal Ouellet na PUC-Rio.
Luiz Casemiro e Vinícius Arouca – Rio de Janeiro
“Para uma teologia fundamental do sacerdócio” foi o tema do simpósio realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), na Gávea, na manhã do dia 15 de março, apresentado pelo prefeito emérito do Dicastério para os Bispos e presidente emérito da Pontifícia Comissão para a América Latina, cardeal Marc Ouellet, que também foi arcebispo metropolitano de Québec e primaz do Canadá.
O tema faz parte de uma obra em dois volumes, impresso em Portugal pelas Edições Paulinas, que reúne as atas de um simpósio internacional realizado no Vaticano, em fevereiro de 2022, promovido pelo Centro de Pesquisa e Antropologia das Vocações.
O cardeal Marc Ouellet, que também participou de simpósios nas arquidioceses de São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, foi acolhido no Rio de Janeiro pelo arcebispo metropolitano e grão-chanceler da PUC-Rio, cardeal Orani João Tempesta.

Cardeal Marc Ouellet faz conferência na PUC-Rio

Estavam presentes no simpósio o presidente do Regional Leste 1 da CNBB e bispo de Nova Iguaçu (RJ), dom Gilson Andrade da Silva, e representando a PUC-Rio o reitor, padre Anderson Antônio Pedroso, e o diretor do Departamento de Teologia, padre Waldecir Gonzaga. Também a presença de bispos, sacerdotes, religiosos, seminaristas, professores e fiéis leigos.
Ainda houve uma segunda conferência, que teve como tema sacerdócio e missionariedade, proferida pelo vigário geral da Arquidiocese de Florianópolis (SC) e professor de Teologia da Faculdade Católica de Santa Catarina, padre Vitor Galdino Feller.
Após o simpósio, o cardeal canadense presidiu missa na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, onde também foi realizado o simpósio. No mesmo dia, visitou a Paróquia São Benedito, no Morro dos Cabritos, em Copacabana. No sábado, dia 16 de março, o cardeal Marc Ouellet participou da ordenação de 18 sacerdotes na Catedral de São Sebastião, no Centro, e visitou pontos turísticos da cidade. No domingo de manhã, dia 17 de março, presidiu missa na capela do Palácio São Joaquim, na Glória, e partiu para compromisso na Colômbia.

Cardeal Marc Ouellet faz conferência na PUC-Rio

Ministério eficiente e funcional
Na abertura, dom Orani enfatizou que o evento foi idealizado pelo próprio cardeal Ouellet, que já apresentou a temática “Para uma teologia fundamental do sacerdócio” no Vaticano e em outras dioceses, inclusive no Brasil.
“É pertinente observarmos que uma visão pretensamente atualizada do sacerdócio acaba por reduzi-lo ao exercício de um ministério eficiente e funcional, bem ao modo da mentalidade produtivista que domina o nosso mundo e considera como fim único a ‘produção máxima’ que números e estatísticas podem comprovar”, disse.
“Enfrentando esta distorção, cardeal Ouellet tem a audácia de voltar às raízes mais profundas do sacerdócio quando aponta seu fundamento, que é primordialmente doação de si mesmo; uma doação que tem seu modelo e origem na doação mútua das pessoas trinitárias, realiza-se na Igreja e nos chama a participar desta comunhão de amor. Esta é justamente a vocação nupcial que se expressa na relação com Deus desde o Antigo Testamento e se plenifica na entrega que o próprio Deus, o próprio Jesus Cristo faz de si mesmo, totalmente por amor, como São Paulo fala na Carta aos Efésios: ‘Progredi na caridade segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor’ (Ef 5, 2)”, ressaltou Dom Orani.

Cardeal Marc Ouellet faz conferência na PUC-Rio

Sacerdócio, mistério que é dom e tarefa
Dom Gilson exaltou que o cardeal Ouellet “traz consigo uma longa experiência pastoral no contato direto com bispos, padres, especialmente na missão que desenvolveu durante tantos anos no Dicastério para os Bispos. As primeiras décadas que se sucederam ao Concílio Vaticano II, o tema da identidade presbiteral foi amplamente debatido e aprofundado. A literatura sobre o assunto é vastíssima e muito rica, mas creio que a tarefa existencial continua sendo aquela indicada pelo Papa São João Paulo II numa de suas visitas apostólicas à África: ‘a maior tarefa do sacerdote é crer no próprio mistério, um mistério que é dom e tarefa, e que se realiza no cotidiano na vida do padre, no qual ele é chamado a sempre mais identificar-se com a sua identidade’”.
PUC, instrumento privilegiado da Igreja
O padre Anderson Pedroso, reitor da PUC-Rio, na sua mensagem de boas-vindas recordou um trecho da carta magna da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro: “Como universidade católica, a PUC-Rio assume claramente sua missão evangelizadora e de instrumento privilegiado da Igreja na Pastoral da Cultura, procurando ser fiel na doutrina de Cristo transmitida pela Igreja Católica”.

Celebração Eucarística

Temática do simpósio
O cardeal Ouellet iniciou sua fala lembrando que no simpósio de 2022 o Papa Francisco discorreu sobre a espiritualidade sacerdotal, ressaltando sobre as quatro proximidades essenciais na vida dos sacerdotes: a proximidade de Deus, a proximidade do bispo, a proximidade dos colegas sacerdotes e a proximidade do povo de Deus. “Os três dias intensos de conferências e debates forneceram elementos muito importantes para a reflexão sobre todas as vocações. Uma verdadeira atualização das orientações do Concílio Vaticano II sobre a teologia do sacerdócio, incluindo o sacerdócio comum dos batizados e o sacerdócio particular dos ministros ordenados”.
Empenhado em divulgar pelo mundo as atas resultantes deste simpósio, cardeal Ouellet destacou que o principal objetivo do Centro de Pesquisa e Antropologia das Vocações, fundado por sua iniciativa, é “apoiar as vocações, todas as vocações, e lançar luz sobre o sentido da vida como vocação. Isto parece-me muito importante no momento atual para  apoiar a procura de uma Igreja mais sinodal, pois a maior participação do povo de Deus na comunhão e na missão da Igreja pressupõem uma maior consciência vocacional; um compromisso de cada batizado com sua missão no projeto de Deus. Sem o compromisso pessoal dos batizados como discípulos-missionários, na linha do que foi estabelecido na Conferência Geral (Celam) em Aparecida, em 2007, o desenvolvimento de uma Igreja sinodal não passaria de uma moda passageira. Com a contribuição dinâmica de discípulos-missionários bem motivados, a renovação sinodal sonhada pelo Papa Francisco torna-se um novo modo de ser Igreja, mais participativa, mais fraterna, mais consciente de que a missão da Igreja não é primariamente clerical, mas batismal”.
Nas três etapas em que dividiu sua conferência, cardeal Marc Ouellet procurou enfatizar a primariedade do sacerdócio comum de todos os batizados como aspiração para as demais vocações ministeriais. Na primeira etapa, tratou das questões relativas ao sacerdócio na América Latina, na segunda, sobre as novidades do Concílio Ecumênico Vaticano II quanto ao sacerdócio ainda pouco exploradas, e na terceira parte tratou a teologia do sacerdócio à luz da pneumatologia, ou seja, o sacerdócio como mediação do Espírito Santo.
“Todos os batizados, homens e mulheres, tendo recebido o selo da filiação divina, participam, enquanto filhos e filhas de Deus, no Filho, na sua vida trinitária-filial, que inclui a participação no mistério da sua coexpiração do Espírito Santo com o Pai. Esta participação de cada batizado na relação entre Cristo e o Espírito é, a meu ver, o fundamento e a essência do sacerdócio comum dos fiéis”, disse.
Cardeal Ouellet ressaltou ainda os principais aspectos da missão sacerdotal dos fiéis leigos: “adorar a Deus em espírito e em verdade; consagrar o mundo a Deus; difundir e infundir o espírito do Evangelho nas estruturas, instituições e empresas deste mundo através do seu testemunho de fé, esperança e de caridade. Desta forma, os leigos ajudam a desenvolver um clima de fraternidade em todas as suas relações humanas, como o Papa Francisco nos convida vivamente a fazer na ‘Fratelli Tutti’. Eles participam assim na ação santificadora do Espírito Santo no mundo. É o seu modo sacerdotal de participar ativamente na vinda do Reino de Deus”. Por fim, enfatizou que “o Concílio Vaticano II convida-nos a alargar nossa visão do sacerdócio, reenquadrando o sacerdócio hierárquico ao serviço do sacerdócio filial e fraternal dos batizados”.
A missionariedade do sacerdócio cristão
Na segunda conferência, com o título “A missionariedade do sacerdócio cristão”, padre Vitor Galdino Feller dividiu sua fala em cinco pontos: 1. A missionariedade da divina trindade; 2. A missão de pastor, semeador, pescador; 3. A missionariedade do sacerdócio de Cristo; 4. A missionariedade do sacerdócio comum dos fiéis; e 5. A missionariedade do sacerdócio ministerial ordenado.
“A missionariedade do sacerdócio de Cristo reflete-se na missionariedade do sacerdócio batismal e na missionariedade do sacerdócio ministerial. Um grande convite a sermos não apenas pastores das ovelhas que já são nossas, mas também semeadores do Reino de Deus no vasto campo que é o mundo e também pescadores nesses mundos tão difíceis, tão conflitivos, tão complicados, onde somos chamados hoje a anunciar o Evangelho do Senhor”, disse padre Vitor Galdino Feller.
 

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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