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Frei Patton: a Terra Santa precisa de uma liderança que trabalhe pela reconciliação

Entrevista com o Frade Custódio da Terra Santa: as feridas causadas pela guerra, a hipótese de dois Estados, o papel dos cristãos, os caminhos para a paz
Andrea Tornielli
Oração e intercessão. Permanecer, apesar de tudo, entre as partes em conflito, para dar testemunho do anúncio pascal e da consciência de que o mal já foi vencido. É isso que emerge das palavras de Frei Francesco Patton, Custódio da Terra Santa, nesta entrevista à mídia do Vaticano.
Frei Patton, qual é o ar que se respira atualmente em Jerusalém?
Desde o dia 7 de outubro, respira-se um ar muito pesado, porque é como se tivesse sido rompido o equilíbrio dentro do Estado de Israel entre a parte judeu-israelense e a parte árabe-palestino-israelense. E também o equilíbrio que existia entre Israel e a Cisjordânia: havia a possibilidade de ir e vir, sem grandes problemas, e também para os palestinos da Cisjordânia era muito fácil vir trabalhar. Podia-se sair de Gaza, para trabalhar nos kibutzim vizinhos. Era possível sair para tratamento em Jerusalém com terapias não administradas em Gaza. Após o ataque de 7 de outubro, todos esses equilíbrios se romperam. Agora, dentro do próprio Estado de Israel, os judeus-israelenses começaram a olhar com desconfiança para os árabes-israelenses, e os árabes-israelenses começaram a se sentir cada vez mais inseguros, mesmo no local de trabalho e na vida cotidiana, até mesmo ao andar pela rua. Vários de nossos cristãos me disseram: “Quando ando pela cidade, em Jerusalém, evito falar árabe”. Isso diz muito sobre o clima que foi criado.
Como está sendo vivenciada a tragédia dos reféns sequestrados pelo Hamas?
A situação dos reféns testou severamente essas famílias, que são quase todas – com raras exceções – de mente muito aberta: não eram famílias hostis à presença palestina em Israel ou na Cisjordânia, pelo contrário. O sofrimento deles foi e continua sendo terrível, porque se faz uma triste contagem regressiva perguntando-se quantos ainda estarão vivos.
E no que se refere à tragédia de Gaza?
Obviamente os palestinos solidarizam com Gaza: eles pertencem ao mesmo povo e sofrem ao ver tanta destruição: 35 mil mortos, dos quais provavelmente mais de 15 mil são crianças, e não sabemos quantos ainda estão sob os escombros… Uma destruição sistemática. Isso criou um sentimento de frustração, raiva, um conflito interior. E não podemos esquecer que há até cristãos, especialmente da Galileia, que fazem parte do exército, lutando em Gaza. Há um desconforto e uma grande dificuldade em abordar essas questões também para nós, cristãos da Terra Santa, porque compreendemos muito bem o sofrimento de ambos os lados. Sabemos as razões e os erros de um lado e do outro. Queremos que essa guerra termine, pois, caso contrário, o sulco do ódio se aprofunda a cada dia, e juntar as peças depois será realmente muito difícil.
Nos últimos meses, também testemunhamos a escalada de atos violentos por parte dos colonos.
Na Cisjordânia, vimos uma escalada sem precedentes: enquanto antes suas ações eram um pouco mais controladas, durante esses seis meses, não foi assim. Também sabemos que vários milhares de palestinos na Cisjordânia foram detidos sob detenção administrativa, ou seja, essencialmente sem direitos. E há também várias centenas de palestinos que foram mortos na Cisjordânia, no decorrer de operações militares, por colonos ou de outra forma, e, portanto, não em circunstâncias relacionadas a ataques, atentados ou, de qualquer forma, ações violentas, mas também na vida comum: agricultores que foram colher azeitonas e encontraram colonos que atiraram neles. Levará muito tempo para superar esse tipo de ferida, porque a dimensão emocional desse conflito foi muito forte.
Voltando ao dia 7 de outubro: que explicação pode ser dada para o que aconteceu?
O que aconteceu em 7 de outubro precisará ser estudado e investigado em profundidade, porque os próprios jornais israelenses acusaram tanto o governo quanto o exército de ignorar os documentos que a inteligência do exército havia fornecido e que falavam de uma possível operação desse tipo por parte do Hamas e dos sinais já nos dias anteriores. Acredito que seja do interesse de Israel esclarecer essa questão.
As consequências desse hediondo ataque terrorista contra civis são o que temos visto, ou seja, a carnificina em Gaza…
A reação foi tão forte exatamente porque houve um choque. Mesmo do ponto de vista das escolhas militares, a dimensão mais emocional parece ter prevalecido, o desejo de reafirmar uma forma de supremacia militar, o desejo de reafirmar uma dissuasão que, de alguma forma, foi desafiada e questionada. É possível perceber o desejo de dizer: “No futuro, ninguém ousará tentar algo assim”.
São fatos que deixam um rastro de ódio. Para reconstruir as casas, a ajuda financeira é suficiente; para reconstruir a paz nos corações, é necessário muito mais tempo.
As feridas permanecerão por muito tempo; para serem curadas, elas precisarão de uma liderança esclarecida, de ambos os lados, que saiba como trabalhar pela reconciliação. Na Europa, no século XX, foram combatidas duas guerras mundiais com milhões de mortos. Depois, em vez de lutar por recursos, eles os compartilharam: esse foi o grande golpe de gênio de Schuman, De Gasperi e Adenauer quando decidiram criar a Comunidade do Carvão e do Aço. Foi um caminho que garantiu à Europa um período de paz. No momento, não vejo a possibilidade de fazer algo semelhante em Israel e na Palestina, porque eles não compartilham o mesmo quadro cultural. A Europa, bem ou mal, até meados do século XX, era um continente que se referia aos valores cristãos e, portanto, também aos valores de reconciliação, paz, cooperação e afins. Agora, estamos nos deparando com culturas que não são tão compatíveis umas com as outras.
Qual é a sua opinião sobre os “Acordos de Abraão”?
Eu os via de forma positiva: países que estavam em posições diferentes por motivos ideológicos começaram a cooperar, mesmo sendo por interesses econômicos ou defensivos. Para mim, foi um primeiro passo e pensei que, uma vez concluídos os Acordos de Abraão, também seria necessário lidar politicamente com a questão palestina. Em vez disso, enquanto estava na reta final também um acordo com a Arábia Saudita, houve o ataque de 7 de outubro. Uma operação que não apenas sabotou os Acordos de Abraão, mas que, na verdade, tornou mais difícil lidar politicamente com a questão palestina. E, ao mesmo tempo, tornou isso necessário.
Na verdade, mesmo aqueles que consideravam a hipótese de dois Estados ultrapassada agora estão voltando à posição que sempre foi a da Santa Sé.
Certamente é mais difícil agora do que era há dez ou vinte anos. Mas, ao mesmo tempo, existe agora uma consciência de que a questão palestina deve ter uma solução política. E, portanto, o retorno da teoria dos dois Estados também está ligado ao fato de que, neste momento, acredito que não seja provável pensar em um único Estado. Saber como estabelecer concretamente o segundo Estado, o Estado da Palestina – porque já existe um, o de Israel – certamente precisa da contribuição, em primeiro lugar, dos diretos interessados, ou seja, os palestinos. Não se pode criar o Estado da Palestina na pele dos palestinos, porque essa operação já foi feita no passado e não deu certo. Eles precisam estar envolvidos. Então, é necessário que os países mais influentes – principalmente os Estados Unidos, mas também os países árabes do Golfo – ajudem a encontrar a forma correta. Os problemas, se sabe, são solucionáveis. Na sua época, Sharon, quando decidiu pela retirada dos colonos de Gaza, também foi capaz de implementá-la de fato.
Como esse cenário é possível hoje?
Na Cisjordânia, se o Estado de Israel aceitar a solução de dois Estados, terá de optar pela retirada dos colonos ou pela integração dos colonos em um Estado palestino, já que em Israel há parte da população de língua árabe no Estado, ou alguma outra forma a ser estudada. Sabemos que há muitos tipos de modelos de Estado, alguns dos quais preveem regiões autônomas. Isso não é algo que possa ser feito em poucos meses, mas também não pode ser deixado em perene indeterminação. Para também dar esperança aos palestinos, devemos estabelecer uma data certa para que esse Estado comece a existir e, consequentemente, devemos estabelecer uma road map. Obviamente, primeiro a guerra deve terminar e também deve haver apoio internacional, porque os que vivem na Cisjordânia, e mais ainda os que vivem em Gaza, estão passando por dificuldades inimagináveis.
Como os cristãos vivem o que está acontecendo?
Os cristãos são uma realidade muito diferenciada entre eles. Por um lado, sentem que pertencem a um povo, mas, por outro lado, também sentem, como cristãos, que são chamados a ir além de uma visão étnica. Os cristãos também estão sofrendo muito no momento porque estão no meio do conflito e estão sendo puxados pelos dois lados. Há pessoas de ambos os lados que gostariam que os cristãos assumissem uma posição unilateral. Os cristãos procuram ser mulheres e homens de paz e, em geral, os cristãos da Terra Santa são – eu ousaria dizer – a parte da população culturalmente mais pacífica e, portanto, aquela que, de alguma forma, poderia contribuir, no futuro, para o caminho da reconciliação de que estávamos falando. Porém, eles se sentem frustrados porque, muitas vezes, além das declarações oficiais e daquelas com fins de marketing político, o mundo judeu os considera simplesmente árabes e o mundo árabe não os considera suficientemente árabes por serem cristãos. Atualmente, voltou o desejo de emigrar. Dos que vivem em Gaza, acho que muito poucos permanecerão, e isso é uma pena, porque Gaza está nos Atos dos Apóstolos, é um dos lugares onde o monaquismo floresceu nos primeiros séculos. Também na Cisjordânia, muitos estão pensando em ir embora. Mas o mais surpreendente é que também na Galileia, por causa da criminalidade local, muitos estão pensando em emigrar.
O que significa, diante de tudo isso, acreditar na Ressurreição?
O cristão, antes de tudo, acredita na mensagem da Ressurreição, mas sabe que o tempo da história ainda não é o tempo da plena comunhão de todos os povos na Jerusalém celestial. Ainda estamos em uma fase intermediária, o tempo da história ainda é um tempo de tensões: assim é descrito nos Evangelhos, assim é descrito nas Cartas de Paulo, e assim é descrito nesse texto maravilhoso que é o Apocalipse, que descreve o confronto na história entre aqueles que seguem o Cordeiro imolado e aqueles que seguem outras lógicas e transformam tudo em um mercado, chegando até a comprar e vender vidas humanas. O que devemos manter vivo nesse campo de batalha que é a história é a esperança certa que vem do fato de que Cristo já venceu o mal e a morte com sua Ressurreição. Ser cristãos na Terra Santa representa uma vocação especial. Os cristãos aqui estão intimamente ligados à dimensão histórica da revelação e da Encarnação. Se são poucos ou muitos, não importa, mas é essencial que os cristãos da Terra Santa sempre ajudem toda a Igreja a se lembrar da dimensão histórica do cristianismo, que é uma dimensão muito importante para evitar a dissolução do cristianismo em formas de gnosticismo ou formas de religiões de mitos.
Após o ataque aos Estados Unidos de 11 de setembro, em sua Mensagem para o Dia da Paz de 2002, João Paulo II escreveu: “Não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão”. Qual é a importância da reconciliação e do perdão?
A reconciliação é fundamental. Acho que essa mensagem é, de longe, a mais importante mensagem para o Dia da Paz já dada por um pontífice. E ela está ao lado da encíclica Pacem in Terris, de João XXIII, que lista quatro pilares para a construção da paz: justiça, verdade, caridade e liberdade. A reconciliação, como afirma o Papa Francisco na encíclica Fratelli tutti, tem uma dimensão não apenas de justiça, mas também de verdade. Portanto, é necessário, para que se possa trilhar um caminho de reconciliação, ser capaz de chamar as coisas pelo nome. O mesmo se aplica ao perdão. O perdão não é uma anistia, não é fingir que nada aconteceu. Perdoar é assumir todas as consequências negativas, de sofrimento, de maldade, que o mal produz. Quando pensamos em perdão, pensamos em Cristo na cruz, da cruz que perdoa. Para poder perdoar, tenho de aceitar o tipo de sofrimento que me permite não reagir. Ao tapa, como Jesus fez na hora da Paixão, não respondo com o tapa.
Como pode ser criado um caminho assim na Terra Santa?
Será muito longo porque, para nós, cristãos, a reconciliação é universal, diz respeito a todos. O mundo judeu e o mundo muçulmano têm a categoria de reconciliação, mas ela é aplicada principalmente em suas próprias comunidades. Portanto, mais uma vez, a presença dos cristãos se torna fundamental, porque ela leva além do horizonte étnico e do horizonte da própria comunidade religiosa. E os cristãos também devem estar dispostos a pagar um preço de sofrimento por isso. Não se pode exigir isso de todos, por isso entendo aqueles que não conseguem mais lidar com a situação e deixam o país, como aconteceu no Iraque, na Síria e no Líbano, porque temem por suas próprias vidas ou dos próprios familiares. Ao mesmo tempo, quando me perguntam, especialmente os jovens, por que devem ficar, respondo assim: “O seu país, sem a presença cristã, será melhor ou pior?”. A resposta que sempre me dão é: “Vai ser pior”. Aqueles que ficam sabem que precisam pagar um preço: o preço de ser fiel a Cristo e também de dar a vida, no sentido de que, no final, é isso que acontece.
Nesses meses, o que significou para o senhor ser Custódio da Terra Santa?
Mudou minha abordagem à realidade. Antes de 7 de outubro, eu achava que era possível avançar lentamente e fazer crescer as iniciativas de diálogo que haviam sido iniciadas tanto do lado do mundo judeu israelense quanto do lado do mundo muçulmano, especialmente, nesse segundo caso, nas escolas. Nesses seis meses, vi que muitas das iniciativas encaminhadas de alguma forma “congelaram”, e isso me leva a dizer que é preciso ter paciência no sentido de saber esperar pelo momento em que será possível reiniciá-las. Depois, senti muito mais importante o serviço da oração, o valor da intercessão: é uma questão de caminhar entre duas realidades, pedindo a Deus que, de alguma forma, faça com que haja um ponto de encontro. Muitas vezes conversamos com o Patriarca Pizzaballa e também percebemos que nessa realidade não está em jogo apenas a vontade humana, mas há um mistério do Mal que está em ação. Por isso, sinto ainda mais a necessidade de rezar. Por fim, tento encorajar os frades, em primeiro lugar, e depois as pessoas, para manter viva a esperança.
Diante do que está acontecendo, é fácil ser pessimista…
O pessimismo é uma falta de fé. Deixar-se devorar pelo pessimismo significa não acreditar no poder da Páscoa. Eu acredito no poder da Páscoa: acredito que Cristo realmente venceu o mal e a morte, e acredito que aqueles que hoje tentam resolver os problemas de uma determinada maneira já perderam no começo. Sei que aqueles que optam por usar a violência de alguma forma já perderam. Porque Cristo, que morreu e ressuscitou, nos diz que essa é outra perspectiva de vida e também de enfrentamento dos problemas.
Vocês se sentiram apoiados durante esses meses de guerra?
Muitas pessoas demonstram sua proximidade, escrevem para nos dizer que se lembram de nós, que rezam por nós. Nós nos sentimos muito apoiados, sempre, pelo Papa, porque ele nunca deixou de falar sobre a paz, mesmo sabendo que era um tema impopular, mesmo sabendo que era um tema mal compreendido. E ele sempre mencionou a Palestina, Israel, a Terra Santa… Já disse em mais de uma ocasião que, em alguns aspectos, somos privilegiados, pois há muitas outras realidades que estão sofrendo e não são lembradas como nós. E também temos recebido muito apoio da nossa Ordem. Portanto, eu diria que, no geral, senti o apoio. O que temos e precisaremos nos próximos tempos, além de proximidade, também será apoio concreto para ajudar os cristãos e a população local diante das dificuldades econômicas que a guerra trouxe.

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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