No dia 17 de maio de 2024, uma manifestação em Bissau organizada pela “Frente Popular” (FP), resultou na detenção e tortura de 93 pessoas, incluindo ativistas, duas jornalistas e uma grávida.
Casimiro Cajucam – Rádio Sol Mansi, Bissau
Dos 93 detidos, 84 foram libertados, no final da noite de domingo, segundo a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), que tem mantido contactos a mais alto nível com as autoridades políticas e da segurança, com vista à libertação de todos os detidos. 9 pessoas continuam detidas, incluindo o Líder da Frente Popular (FP), Armando Lona e seu staff.
A manifestação tinha como objetivo protestar contra o aumento dos preços dos produtos básicos, a limitação da liberdade de expressão, a fome, a violência, a destruição da democracia e a liberdade sindical no país.
A Frente Popular, um movimento que surgiu para “salvar a democracia” na Guiné-Bissau, acusa o governo de práticas autoritárias e de manter o país em um estado de “absolutismo e miséria”
Durante a manifestação, os detidos foram submetidos a torturas, conforme relatado pelas organizações dos direitos humanos.
A Frente Popular já reagiu sobre este acontecimento através de um dos seus coordenadores Fernando Mandinga da Fonseca.
“Entre os cidadãos presos e submetidos a torturas física e psicológica ao mando do regime, encontram-se alguns dos líderes da sociedade civil reunidos na Frente Popular”, denuncia.
Detidos libertados durante as manifestações da Frente Popular (FP), na Guiné-Bissau
A Frente Popular chama a responsabilidade aos organismos internacionais sedeados no país sobre o que considera de passividade, perante o comportamento do atual regime instalado na Guiné-Bissau.
“Responsabilizar os organismos da comunidade internacional sediados na Guiné-Bissau, nomeadamente, a união Africana, a Comunidade dos Estados da África Ocidental (CEDAO), a Organização das Nações Unidas, a União Europeia, a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP) bem como a Amnistia internacional face aos seus silêncios”, afirma.
Fernando Mandinga exige a libertação urgente e incondicional dos detidos que ainda permanecem sob custódia e exorta as forças da defesa e segurança a assumirem as suas responsabilidades na defesa, paz, e a ilegalidade constitucional e democrática.
“A Coordenação da Rede Nacional dos Defensores dos Direitos Humanos condena a atuação abusiva do Ministério do Interior contra os manifestantes e chama atenção ao presidente da república e ao primeiro-ministro em assumirem as suas responsabilidades enquanto governantes”, afirma Vitorino Indeque.
A Rede Defensora dos Direitos Humanos também reagiu condenando a atuação das forças policiais.
Os manifestantes foram reprimidos de maneira violenta pelas forças de segurança, o que gerou preocupações sobre violações de direitos humanos e a liberdade de imprensa no país. Confrontado com esta situação, horas depois quando presidia a um comício popular em Farim (região norte do país), o Ministro do Interior e da Ordem Pública, Botche Candé, atribuiu a responsabilidade da repressão à marcha dos jovens da Frente Popular ao seu Secretário de Estado da Ordem Pública, José Carlos Macedo.
“Eu não sou o ministro que entrega ao Secretário de Estado poder. Neste momento, o Secretário de Estado é a única pessoa que pode falar sobre o que realmente aconteceu hoje em Bissau”, assegurou.
Além disso, o Partido da Renovação Social (PRS) e o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), o maior partido do país, também condenaram as ações policiais. Essas entidades destacaram que o uso da força contra manifestantes pacíficos é inaceitável e um atentado contra os direitos democráticos dos cidadãos.
Uma outra reação é do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) que diz que “é chegada a hora de toda a juventude guineense fazer uma intervenção direta, para repor o direito de todos viverem numa nação livre, e que esta intervenção deve ser agora”, finalizou.
O apelo do CNJ foi ouvido esta segunda-feira, 20/05, em conferência de imprensa, quando reagia às prisões e detenções arbitrárias de manifestantes do dia 18 de maio, que reclamavam entre outros, as melhorias das condições de vida, o respeito pelas leis do país, e contra a subida de preços dos produtos da primeira necessidade no país.
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