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Igreja na Amazônia e Adveniat: uma comunhão de solidariedade e aprendizado

Para a Adveniat, uma organização da Igreja católica da Alemanha que apoia projetos sociais e de evangelização no Brasil e na América Latina, é importante colocar os pés no chão e ter um contato vivo com o povo. Por isso da visita, que costuma ser feita a cada três anos, de 3 a 8 de abril em Manaus. Em particular, a delegação conheceu a comunidade indígena Muray, no desejo de continuar apoiando projetos na Amazônia, especialmente com os povos indígenas.

O cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da CNBB, agradece a visita, de 3 a 8 de abril, da direção da Adveniat – ação da Igreja Católica da …

Pe. Luis Miguel Modino
A Comissão Episcopal da Adveniat, composta por quatro bispos da Conferência Episcopal Alemã, o Conselho Fiscal, o diretor e a vice-diretora, visitou Manaus de 3 a 8 de abril. A viagem costuma ser feita a cada três anos, em visita à Amazônia brasileira, visto a importância dada à Amazônia e à implementação das propostas do Sínodo para a Amazônia.
Para a Adveniat, uma organização da Igreja católica da Alemanha que apoia projetos sociais e de evangelização no Brasil e na América Latina, é importante colocar os pés no chão e ter um contato vivo com o povo, o que levou a comitiva a visitar a comunidade indígena Muray no município de Autazes, na periferia de Manaus, e a fazer uma reunião com a Equipe Itinerante e uma visita à Casa Amazônica da Economia de Francisco e Clara. Além disso, houve uma reunião com representantes de várias instituições que ajudaram a aprofundar o conhecimento da realidade sob diferentes perspectivas.

A delegação da Adveniat, da Alemanha, em visita à Igreja na Amazônia

Entre as várias realidades visitadas, Tanja Himer, vice-diretora da Adveniat, destaca a visita à comunidade indígena e a possibilidade de ouvir as vozes das pessoas, como elas se sentem, suas lutas pela vida, algo que ela diz ser novo para ela. Ela ressalta que, da Alemanha, eles podem lutar junto com a comunidade e conscientizar a população alemã de várias formas, já que muitas pessoas na Alemanha não sabem da situação dos povos amazônicos.
Aqueles que vivem sua fé na Igreja alemã sabem sobre a Querida Amazônia e o que o Papa Francisco diz sobre o cuidado com a nossa casa comum, segundo Himer. A vice-diretora da Adveniat mostra o desejo dessa instituição de continuar apoiando projetos na Amazônia, especialmente com os povos indígenas, ajudando-os em sua defesa em processos judiciais e em outras situações vividas por esses povos.
De acordo com o jesuíta Martin Maier, diretor da Adveniat, a visita “nos dá uma visão do que está acontecendo na Arquidiocese de Manaus”, insistindo no papel da Adveniat como ponte de solidariedade, inspiração e intercâmbio, ressaltando que as pontes são usadas em ambas as direções, na medida em que na Adveniat se dá, mas também se recebe, dizendo-se muito convencido da dimensão universal da Igreja, e que “somos uma comunhão de solidariedade, somos também uma comunhão de aprendizado”.
O diretor da Adveniat, que diz ter publicado recentemente um artigo em uma igreja alemã intitulado “A Igreja na América Latina, um laboratório de mudança”, enfatiza que “a Igreja na América Latina nas últimas décadas tem desempenhado o papel de precursora e de laboratório”. Ele cita como exemplos a fundação da primeira Conferência Episcopal do mundo no Brasil em 1952, o desenvolvimento de um magistério continental nas Conferências Gerais dos Bispos em Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida. Ele também menciona a Assembleia Eclesial Continental em novembro de 2021, o Sínodo para a Amazônia, que ele vê como um aprendizado para o atual Sínodo.
Sobre a Igreja latino-americana, disse ter a impressão de uma Igreja viva e jovem, em contraste com a crise na Igreja alemã, com muitas saídas da Igreja. Ele também destacou que eles receberam inspiração, encorajamento e testemunho de fé, algo que se manifesta nos muitos mártires das últimas décadas, entre eles, o salesiano alemão Rodolfo Lukenbein e a irmã Dorothy Stang, que deu sua vida pela proteção do meio ambiente.
Insistindo que eles não querem mártires, o jesuíta enfatiza que “os mártires mostram que o caminho de Jesus está sendo seguido”. Maier, que diz ter uma história de mais de 30 anos com El Salvador, refletiu sobre a figura de São Oscar Romero, que abriu nele, sendo um jovem jesuíta, o horizonte para a Igreja na América Latina.
Sobre o que a Adveniat pode dar, ele enfatizou a solidariedade, a ajuda recolhida na coleta de Natal. Nesse sentido, ele lembra a ajuda que a Alemanha, devastada pela fome e pelo sofrimento, recebeu da América Latina após a Segunda Guerra Mundial. Quando a Alemanha se recuperou, os bispos decidiram dedicar a coleta de Natal à América Latina, que foi institucionalizada, conseguindo administrar atualmente cerca de 1.200 projetos, com um volume de mais de 30 milhões de euros.
A Igreja alemã também oferece à América Latina seu caminho sinodal iniciado em 2018, tendo como ponto de partida os escândalos sexuais principalmente por parte de clérigos na Igreja, descobrindo a necessidade de um caminho de conversão e renúncia, que considera o elemento fundamental do Sínodo na Alemanha, que determinou quatro áreas de reflexão: o poder na Igreja, a vida sacerdotal e a formação de sacerdotes, a moral sexual e o papel da mulher na Igreja, o que levou a decisões que foram tomadas após um processo de trabalho. Um caminho sinodal que está contribuindo para o Sínodo universal, insistindo na coincidência dos temas e no fato de que a Igreja alemã pode contribuir com esse caminho sinodal para a Igreja na América Latina.
Uma visita que tem ajudado a continuar dando passos comuns, a conhecer problemas presentes na Amazônia, como o tráfico de pessoas, uma realidade que é vista como algo natural na região e que está inter-relacionada com o tráfico de armas e drogas e a destruição do território, em cujo combate a Igreja Católica tem ajudado decisivamente, sobretudo após o Sínodo para a Amazônia, especialmente com o trabalho da Rede Um Grito pela Vida, em relação com a Cáritas e o Regional Norte 1 da CNBB que tem esse combate como uma de suas ações permanentes.
A Igreja Católica também tem contribuído para o estudo de questões relacionadas à violência sexual e ao tráfico de pessoas, com contribuições como o Projeto Iça de Ação e Proteção, em parceria com a Cáritas da Alemanha, buscando desenvolver tecnologia social de qualidade para o atendimento de crianças vítimas de violência sexual em comunidades amazônicas. Isso deu lugar a projetos comuns nas igrejas locais da Regional Norte 1, dando respostas mais consistentes.
A Igreja da Amazônia tem uma longa trajetória comum, que começou em 1952, antes da criação da CNBB, com o primeiro encontro dos bispos da Amazônia. Nessa caminhada, vale destacar o Encontro de Santarém, de 1972, que optou por uma evangelização encarnada na realidade e libertadora, pensando em uma mudança na dinâmica da evangelização, tornando-se mais transformadora e comunitária. Da mesma forma, a Conferência de Aparecida, a criação da REPAM, que está completando 10 anos, e depois a CEAMA, buscando articulações internacionais e luzes para uma aliança de ação, a defesa dos direitos humanos dos povos e a Justiça Socioambiental e o Bem Viver.
Da mesma forma, a Laudato si’ e os seminários realizados para sua implementação, o processo de escuta do Sínodo para a Amazônia, que não é um ponto de partida, nem um ponto de chegada, mas um ponto alto no caminho, e sua posterior implementação, a partir do Documento Final e da Querida Amazônia, um caminho em que ajudou o encontro em Santarém em 2022, querendo avançar nos ministérios, no diaconato permanente entre os indígenas, no rito amazônico, no papel da mulher e no diaconato feminino. Junto com isso, o trabalho do Conselho Indigenista Missionário e da Vida Religiosa na Amazônia, buscando ser uma Igreja cada vez mais inculturada e próxima da realidade e da vida dos povos.

A visita da Adveniat aconteceu de 3 a 8 de abril

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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