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Igrejas inundadas no Sul do país

O secretário do Regional Sul 3 da CNBB, que envolve 18 Dioceses (4 Arquidioceses) de todo o Estado do Rio Grande do Sul, Pe. Rogério Ferraz, expressou que “nas horas de sofrimento e grande necessidade os cristãos sempre se demonstraram solidários. De todo o Brasil sentimos o calor humano dos irmãos e irmãs que se preocupam e mobilizam as comunidades, paróquias e dioceses para oferecer o que podem aos que mais sofrem.”
Pe. Gerson Schmidt* – Porto Alegre
Inúmeras Igrejas foram atingidas pelas águas agitadas, destruindo o templo, bancos, alfaias e livros litúrgicos, espaços catequéticos. As fortes chuvas que assolam o Rio Grande do Sul desde o fim de abril afetaram mais de 30 igrejas dos quatro vicariatos da Arquidiocese de Porto Alegre. Mas não sabemos ainda calcular o total de igrejas inundadas em todo o Estado gaúcho. 
Uma das paróquias mais atingidas próxima à Grande Porto Alegre, ao largo da cidade e Rio Guaíba, foi a da cidade de Eldorado do Sul-RS. Padre Fabiano Glaser dos Santos, pároco do município, disse que a paróquia fica em uma área urbana que foi 100% atingida pelas fortes chuvas. “Tudo virou um só rio”, disse. Das seis igrejas da Paróquia Nossa Senhora Medianeira, somente uma não foi tomada pelas águas porque está em um “distrito chamado Parque Eldorado que não teve inundações”, como referendou o sacerdote empossado há poucos meses na comunidade. Ele mesmo teve que ser socorrido, junto com a família onde estava pra se abrigar, com um caminhão do exército e permanecer em Guaíba até as águas amenizarem. Segundo Pe.Fabiano, “o povo está bastante desanimado porque é a terceira enchente em nove meses” e as pessoas dizem que vão embora da cidade, inclusive lideranças da paróquia, conforme informa o pároco que está tentando manter contato com os paroquianos pelo WhatsApp, por vídeo e tentando se fazer próximo por mensagens de perseverança e otimismo, nessa hora tão triste e desanimadora. Como a água invadiu a casa paroquial, Glaser disse que está abrigado na paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Guaíba (RS), uma cidade vizinha, que acolhe no salão paroquial cerca de 140 desabrigados.

Igreja Imaculada Conceição- vista interna

A cidade de Canoas tem sofrido a calamidade em cheio, sobretudo no Bairro Matias Velho. A sede da paróquia da Imaculada Conceição, que está há 72 anos no bairro Rio Branco, foi a primeira igreja assolada com as chuvas em Canoas (RS), informa o Vigário Paroquial da paróquia, padre Rodrigo Barroso Spehr Rubi, jovem padre recém-ordenado. “Uma água que ultrapassava os bancos, que entrou também na sacristia e na secretaria da paróquia”, informou. A paróquia foi o ponto de resgate para mais ou menos umas mil e duzentas pessoas que começaram a vir até a igreja para encontrarem o resgate de barco. O colégio da Imaculada, administrada pelas irmãs franciscanas da Penitência e Caridade Cristã, que fica ao lado da igreja, também foi atingido pelas águas impiedosas. As irmãs religiosas tiveram que fechar a igreja porque algumas pessoas estavam “saqueando os lugares e a igreja estava muito exposta”, disse Pe. Rodrigo.
O Frei Juan Miguel Gutiérrez, pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, Harmonia-Canoas, com 13 comunidades, teve todas elas embaixo d’água. Frei Juan conta fez seu relato: “A experiência que vivi em Canoas, foi um pesadelo muito difícil. Até hoje acordo de madrugada pensando que estou no meio da água. É terrível ter que viver esta experiência. São momentos de tristezas, angústias e desespero. A Igreja, secretaria e casa Paroquial, tudo debaixo das águas. Perdemos tudo, menos a fé. A fé que nos dá a força para depois que baixarem as águas das enchentes, encher-se de coragem para recomeçar e reconstruir. Neste momento de dor, o que nos consola é a caridade, a solidariedade e preces dos irmãos de caminhada.  Muitas pessoas morreram, muitas pessoas foram resgatadas. Muitas pessoas estão em abrigos muitos seguros e outras pessoas não foram resgatadas. O que fica até hoje, nos meus ouvidos, é o grito de socorro”. O bispo referencial de Canoas, Dom Juarez Albino Destro, e Frei Natalino e Juan Miguel, na semana visitaram os abrigos, dando uma palavra de conforto e esperança aos desabrigados. Foram visitadas as Paróquias de Canoas São Luiz Gonzaga, São Cristóvão, Santa Luzia e Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora do Caravaggio, Santa Maria Goretti, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora Aparecida e Comunidade Sagrado Coração de Jesus.  Também foi visitado um abrigo que funciona numa casa de Família. Este ponto de abrigo Familiar é acompanhado pelo Frei Cleiton e Frei Lucas. “É muito bonito de ver o rosto dos voluntários servindo com alegria. Por isso, há maior alegria em dar do que em receber”(At, 20,35), reflete um dos freis.

Paróquia Sagrado Coração de Jesus, com suas 13 comunidades em baixo d’água

Pe. Adilson Correia da Fonseca, Vigário Episcopal do Vicariato de Guaíba, disse que “o Vicariato Episcopal de Guaíba foi severamente atingido pelas chuvas e temporais destes últimos dias em nosso Rio Grande do Sul.  Vimos nestes dias comunidades serem submersas pelas águas das chuvas e cidades inteiras sendo alagadas.  Nesta mesma proporção, vimos uma grande solidariedade do nosso povo, somada por uma grande onda de Fraternidade. Uma verdadeira avalanche de entre-ajuda ainda maior que os rios. Estamos testemunhando presbíteros acolhendo nossos irmãos no presbitério em nossas casas paroquiais. Nossos salões se transformando em abrigos e nossas igrejas servindo como hospitais de campanha, curando as feridas do corpo e da alma. Neste tempo, a esperança virou sinônimo de solidariedade”. A vice coordenadora da comunidade Nossa Senhora Aparecida, Márcia Brandão, no Município de General Câmara, não vê a hora das águas abaixarem para arrumar a capela envolvida pela enchente. “Diante de dezenas de narrativas de perdas dos bens materiais as palavras que mais escuto são: vai passar, reconstruir e esperança. Quando vou ao encontro de pessoas que perderam tudo tento espalhar a fé, o amor, a força e a esperança. Deus abençoe”, disse o pároco de General Câmara, Pe. Fabiano Paoli. 
Em Charqueadas, o rio Jacuí inundou, atingindo a Comunidade Santo Antônio, no Bairro Santo Antônio, que fica próximo GkN/Gerdau e dos presídios. A Penitenciária Estadual do Jacuí hoje tem 2 mil presos e é cuidada pela Polícia Militar. A água chegou perto do presídio, mas atingiu mais a área do encarcerados do regime “semi-aberto”, que foram liberados para retornar às suas casas. Segundo o pároco de Charqueadas, Pe. Miguel Faleiro, “muitos permaneceram por não ter casa, por estarem ilhados ou por não terem parentes próximos ou não terem famílias”.  Foram acolhidos na comunidade em torno de 18 presos, com devida assistência da pastoral carcerária marcou presença na oração, evangelização, e a assistência necessárias. Essa comunidade acolhedora chama-se Nossa Senhora de Fátima, dentro da chamada colônia penal que é uma especialidade do bairro com polícia penal (os antigos agentes), família dos Militares e algumas famílias de ex-apenados, informou o padre Faleiro. 

Capela N.Sra dos Navegantes em Arroio do Meio

A Capela Nossa Senhora dos Navegantes, da Cidade de Arroio do Meio, foi novamente atingida pelas águas, que destruíram quase tudo, como vemos em fotos enviadas pelo pároco. Em Estrela, a capela São Pedro Canísio do Bairro Arroio do Ouro foi atingida pelas águas. A cidade de Sinimbu-RS foi completamente invadida pelas águas, entrando dois metros dentro da Igreja da Paróquia nossa Senhora da Glória. “Sinumbi, como disse a prefeita da cidade, não existe: não sobrou um supermercado, uma loja, uma fruteira, um posto de gasolina, nada… muito triste nossa situação”, relatou o pároco da paróquia Pe. Amilton Capaverde. 
O secretário do Regional Sul3 da CNBB, que envolve 18 Dioceses (4 Arquidioceses) de todo o Estado do Rio Grande do Sul, Pe. Rogério Ferraz, expressou que “nas horas de sofrimento e grande necessidade os cristãos sempre se demonstraram solidários. De todo o Brasil sentimos o calor humano dos irmãos e irmãs que se preocupam e mobilizam as comunidades, paróquias e dioceses para oferecer o que podem aos que mais sofrem. A caridade é um bálsamo que consola os que estão em tribulação. O que podemos ofertar são nossas preces a Deus para que ilumine e recompense tanta generosidade e amor”. Segundo ele, a CNBB Sul3 está se organizando, através dos bispos, para fazer chegar aos que mais precisam as ofertas que estão sendo feitas.

Oração do bispo Dom Juarez com voluntários na Paroquia N. Sra. das Graças

A maior enchente do Rio Grande do Sul registrado na história já atingiu mais de 450 dos 497 municípios do Estado do Rio Grande do Sul, cerca de 90%, segundo os últimos boletins da Defesa Civil. O número de morte passa de 150 mortes, mais de 125 desaparecidos, 806 pessoas feridas e mais de 538 mil desabrigadas. Foram resgatadas mais de 76 mil pessoas e 11 mil animais. 
*Pe. Gerson Schmidt é jornalista e Colaborador da Rádio Vaticano

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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