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Martin Scorsese no Vaticano, um novo diálogo com o Papa Francisco

O conhecido cineasta esteve presente, na Sala Paulo VI, na Audiência Geral de quarta-feira. Primeiro encontrou pessoalmente o Pontífice. Vários encontros ao longo dos anos, começando pelo de 2018 no Augustinianum com um grupo de jovens e idosos, que alimentaram uma relação baseada na confiança e na troca de ideias sobre o trabalho, a família e a fé.
Salvatore Cernuzio – Vatican News
O cineasta ítalo-americano, Martin Scorsese, estava entre os participantes da Audiência Geral, desta quarta-feira (31/01), com o Papa Francisco, na Sala Paulo VI.
Aos 81 anos, ele é um dos maiores e mais importantes cineastas da história do cinema. Martin Scorsese cumprimentou pessoalmente o Papa Francisco na sala adjacente à Sala Paulo VI, entregando-lhe também um livro de fotografias.
O próximo filme sobre Jesus
Um novo encontro entre “dois homens de gênio e experiência” – como definidos num post no X pelo padre Antonio Spadaro, subsecretário do Dicastério para a Cultura e a Educação – que se une aos muitos realizados nos últimos anos no Vaticano e que permitiram uma confidencialidade feita de perguntas pessoais, sobre família, trabalho e fé. Scorsese está atualmente trabalhando em um filme sobre Jesus. Ele mesmo anunciou isso meses atrás, e recentemente deu detalhes sobre o filme que durará apenas 80 minutos, será ambientado no presente e se concentrará na pregação de Cristo. A inspiração, disse o diretor à imprensa americana, veio do Papa Francisco e de seu apelo ao mundo da arte: “Respondi da única maneira que sei: imaginando e escrevendo um roteiro para um filme sobre Jesus”, explicou Scorsese.
Um diálogo a partir de Dostoiévski
O diálogo com o Papa começou a partir da paixão partilhada por Dostoiévski, autor várias vezes citado pelo Pontífice em catequeses, discursos e entrevistas, cujos romances serviram de pano de fundo para a obra de Scorsese que, numa entrevista à La Civiltà Cattolica por ocasião da lançamento do filme Silêncio sobre missionários mártires no Japão, disse ter sido interpelado pela espiritualidade, ou seja, pela pergunta sobre o que somos nós, seres humanos, de como a fé pode de alguma forma ajudar os homens e mulheres do nosso tempo em situações nas experiências  às vezes malsucedidas e dolorosas da vida.
Perguntas no Augustinianum em 2018
Em 2018, Scorsese fez uma pergunta ao Papa, unindo-se ao coro de perguntas de alguns jovens e idosos ao Pontífice durante o encontro no Instituto Patrístico Augustinianum, em Roma, “Compartilhando a sabedoria do tempo” (Sharing the Wisdom of Time). Contando sua experiência pessoal, na rua, em meio à violência e ao sofrimento, ele perguntou como a fé de um jovem ou de uma jovem pode sobreviver no “furacão” que muitas vezes é a vida, como viver bem quando se experimenta o mal, a crueldade. O Papa respondeu com uma palavra: “A sabedoria do choro, o dom do choro”. “Diante dessa violência, dessa crueldade, dessa destruição da dignidade humana, o choro é humano e cristão. Pedir a graça das lágrimas, porque o choro amolece o coração, abre o coração. Chorar é fonte de inspiração. Jesus, nos momentos mais difíceis de sua vida, chorou. No momento em que viu o fracasso de seu povo, Ele chorou sobre Jerusalém. Chorar. Não tenham medo de chorar por essas coisas: somos humanos”. Francisco, então, pediu o compartilhamento de experiências entre gerações, falando em “dialeto” e com “empatia”, transmitindo valores e mostrando proximidade que “faz milagres”. “A não-violência, a mansidão, a ternura: essas virtudes humanas que parecem pequenas, mas que são capazes de superar os conflitos mais difíceis, mais feios”, afirmou o Papa naquele encontro.
Os outros encontros
O fio da conversa foi reatado em 21 de outubro de 2019, quando os dois se encontraram novamente e o Papa Francisco quis se atualizar sobre a saúde da esposa do diretor, Helen, que estava doente. Em 2021, o Papa e Scorsese se encontraram, mas apenas virtualmente, em “Histórias de uma geração com o Papa Francisco”, a série da Netflix estreada no Festival de Cinema de Roma que apresentava o Pontífice em diálogo com o padre Spadaro sobre quatro temas chaves, como amor, sonhos, luta e trabalho. As reflexões e memórias do Papa enriqueceram as histórias de outros, incluindo Scorsese que, entrevistado por sua filha Francesca, se expôs, contando também a obsessão por filmes que o levou a transcurar o crescimento de seus filhos confiados à esposa. Em maio de 2023, um novo encontro entre os dois realizou-se no Vaticano, por ocasião da conferência promovida pela La Civiltà Cattolica e pela Universidade de Georgetown, que reuniu poetas, escritores, roteiristas e diretores de cinema de várias partes do mundo em torno do tema da imaginação poética e da inspiração católica. Hoje, portanto, uma nova e breve saudação para reafirmar a estima recíproca.
“Quando penso no Papa penso na compaixão”
Martin Scorsese, entrevistado pelo diretor do L’Osservatore Romano, Andrea Monda, disse em 2020 sobre o Papa: “Quando penso no Papa Francisco, devo dizer que a primeira palavra que me vem à mente é compaixão. Você lê as palavras do Santo Padre e fica cara a cara com ele e percebe que ele é um homem que vê o fundamento espiritual da Igreja. A Igreja Católica é uma instituição vasta, é uma tradição, é uma companhia, uma organização enorme. Mas na sua essência não se trata de assuntos humanos ou mundanos, mas de espírito. Esta é a pedra, o fundamento: a prática e o seguimento vivo do exemplo de Cristo. O Papa Francisco repete isso e pede que o reconheçamos. Acho extraordinário que este homem seja o nosso Papa, é uma bênção. E considero uma bênção tê-lo conhecido”.

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