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Moçambique. Refugiados ao Card. Tagle: “Ao Papa pedimos orações para que a guerra acabe”

“Eminência, o que eu gostaria de lhe pedir para dizer ao Papa Francisco é que reze, reze para que esta guerra acabe e para que possamos regressar a casa”: foi o pedido feito por um refugiado do Centro de reassentamento de Corrane, na província de Nampula (norte de Moçambique), a convite do Cardeal Luis Antonio Tagle, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, durante uma recente visita do Cardeal.
Cidade do Vaticano
“No sábado, 27 de janeiro, saímos de Nampula para chegar ao campo de reassentamento, a 50 km de distância. Na nossa cabeça, 50 km são praticáveis numa hora no nosso contexto, enquanto que ali, devido às estradas extremamente degradadas, cheias de buracos e, graças a Deus, acessíveis porque não choveu, conseguimos chegar em três horas”. A Ir. Mariagrazia Salmaso, responsável pelo Departamento Missionário da diocese de Vittorio Veneto, em conversa com a Agência Fides, contou a recente experiência partilhada com o Cardeal Tagle, depois de presidir à ordenação episcopal do Padre Osório Citora Afonso, Missionário da Consolata (I.M.C.), como Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Maputo. Estiveram também presentes, entre outros, o Arcebispo de Maputo, Dom João Carlos Hatoa Nunes, e o Arcebispo de Nampula, Dom Inácio Saúre, I.M.C.
“Durante a visita ao campo de refugiados”, prossegue a responsável de Vittorio Veneto, “houve um momento formal durante o qual o governador local e o responsável da Caritas, após a apresentação de todos os presentes, fizeram o ponto da situação do campo. “As pessoas silenciosas escutavam, havia também um tradutor em português, porque muitos só falam Makua, a língua da região. Havia pessoas ligadas ao mundo da Igreja, mas também havia muitas que não estavam. Havia sobretudo muitas mulheres, crianças e também um bom número de homens que nos tinham acompanhado.”
“Quando o pró-prefeito convidou os presentes a exprimir os seus pensamentos”, acrescentou, “sobretudo as mulheres tiveram dificuldades, porque não estão habituadas a exprimir-se publicamente. Fizeram-no através de um cântico que nos comoveu profundamente. Percebeu-se muito cansaço, muito sofrimento, uma necessidade de humanidade. O cardeal trouxe-lhes o exemplo de Maria, José e Jesus, que também eram refugiados e tiveram de deixar Nazaré, e exortou-os a não desistir e a confiar em Deus que os ama e está próximo deles, apesar das grandes dificuldades da sua vida quotidiana”.
“O Cardeal Tagle, num espírito de total partilha, exprimiu então o desejo de que alguém apresentasse o seu pensamento. Perguntou se alguém desejava intervir. Um jovem local, num tom muito enérgico, mas ao mesmo tempo sofredor, recordou as dificuldades que estão a viver. Desde a falta de acesso à alimentação, à falta de sementes para o cultivo, à impossibilidade de educação devido à falta de infraestruturas, ao isolamento provocado pela distância do centro da cidade, que muitas vezes permanece inacessível.
Em particular, o jovem salientou o grave problema da saúde. Existe um pequeno centro de saúde, mas falta-lhe um frigorífico onde se possam guardar as vacinas, porque não há eletricidade. O momento mais comovente, para além desta carga, desta energia, quase raiva, manifestada, foi quando o cardeal pediu que fosse transmitido um pedido ao Santo Padre. Foi então que o jovem exprimiu no seu pedido de rezar insistentemente para que a guerra acabe e para que eles possam regressar às suas casas de origem, o direito fundamental de não emigrar, tão expresso na encíclica Fratelli tutti. Um direito que quase ultrapassa o dos bens de primeira necessidade. O desejo de regressar a casa, porque quem é refugiado não pode criar raízes e ter uma perspectiva de vida. Há pessoas que estão longe de Cabo Delgado há mais de quatro anos, pensem nos jovens, muitos são menores não acompanhados, muitos são deficientes. E é uma condição muito difícil que nos tocou realmente. Outras pessoas também falaram, mais ou menos reiterando as mesmas necessidades, incluindo uma mulher.”O Campo de Corrane foi criado devido aos conflitos que surgiram na região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Foi em outubro de 2017 que os militares começaram a matar, a destruir infra-estruturas públicas religiosas, a retirar bens à população, obrigando as pessoas a fugir. “Está registado e estimado um movimento de quase 1,3 milhões de pessoas”, acrescentou a responsável de Vittorio Veneto. Alguns refugiaram-se em cidades vizinhas, muitos foram mais longe e chegaram a Nampula. Destes, apenas cerca de 352 mil regressaram, os outros continuam em movimento ou estão em campos de refugiados”. O campo estabilizou-se no ano 2020 acolhendo pessoas, das quais pelo menos 1.500 famílias bem como mais ou menos 5 mil indivíduos, vivem com necessidades humanitárias básicas, alimentação e outras.”A província de Nampula tem registado um fluxo contínuo, até porque está próxima de Nacala, abaixo de Cabo Delgado. “Os dados que nos foram fornecidos por um relatório exibido durante a reunião informavam que, em novembro de 2023, havia 77.237 pessoas registadas no Centro, das quais 53% eram mulheres e 47% eram homens. Corrane foi criado pelo governo local, que tentou criar infraestruturas, mas igualmente valioso é o apoio da Caritas local, que, graças à ajuda humanitária de vários estados, conseguiu apoiar esta população. Ajudam os indigentes, oferecendo-lhes material de cultivo e géneros alimentícios. Alguns dos presentes disseram-nos que há oito meses que não chegavam kits alimentares e que, atualmente, vivem uma situação realmente difícil”.
Mariagrazia sublinhou ainda que ficou particularmente impressionada com a atividade pedagógico-educativa da Caritas, que consiste em tentar tornar as pessoas o mais responsáveis possível para se envolverem na ajuda ao próximo, encorajando uma estabilização mais responsável.
“No final do encontro, o Cardeal Tagle abençoou as pessoas e, depois de um almoço paroquial, regressámos a Nampula. Os missionários locais disseram-nos informalmente que tinha sido criada também uma cadeia de ajuda entre as várias Congregações, mas que estava um pouco descurada por falta de meios. Muitos missionários, Combonianos e outros, visitam também o campo a partir de Nampula para levar sobretudo apoio espiritual às mulheres, crianças e pessoas necessitadas”.

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