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O Papa aos siro-malabarenses: preservar a unidade, onde há desobediência há cisma

Francisco recebeu em audiência os representantes da antiga Igreja na Índia, duramente testada pelas divisões internas sobre a forma litúrgica. O Pontífice advertiu contra a mundanidade “que leva à rigidez” e contra a tentação de concentrar-se num detalhe, “em detrimento do bem comum da Igreja”. “O orgulho, as recriminações e a inveja não vêm do Senhor e não conduzem à paz. Desrespeitar a Eucaristia é incompatível com a fé cristã”.
Mariangela Jaguraba – Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (13/05), na Sala do Consistório, no Vaticano, os fiéis da Igreja Siro-malabar nascida da pregação de São Tomé, atualmente a maior da Índia, que na arquieparquia de Ernakulam-Angamaly tem vivido anos de oposição e fraturas, por vezes resultando em episódios de violência, por causa de uma disputa interna sobre em que direção a missa deve ser celebrada pelos sacerdotes, ou seja, voltados para a comunidade ou para o altar.
Em seu discurso, o Pontífice enfatizou a lealdade antiga da Igreja Siro-malabar, “enraizada no testemunho, até ao martírio, de São Tomé, Apóstolo da Índia”.
Vocês são guardiões e herdeiros da pregação apostólica. Vocês enfrentaram muitos desafios ao longo de sua longa e conturbada história, que no passado também viu irmãos na fé cometerem ações infelizes contra vocês, insensíveis às peculiaridades de sua florescente Igreja. Contudo, vocês permaneceram fiéis ao Sucessor de Pedro. Estou feliz hoje em recebê-los e confirmá-los na gloriosa herança que receberam e que levam adiante. Vocês são obedientes, e onde há obediência há Ecclesia; onde há desobediência há cisma. Vocês são obedientes, esta é a sua glória: a obediência. Mesmo com o sofrimento, mas sigam em frente.
Francisco recordou que a “história, singular e preciosa” da Igreja Siro-malabar “é um patrimônio único para todo o povo santo de Deus”. O Pontífice aproveitou a ocasião “para recordar que as tradições orientais são tesouros imprescindíveis na Igreja”. “Especialmente num tempo como o nosso, que corta as raízes e mede tudo, até mesmo a atitude religiosa, no útil e no imediato, o Oriente cristão permite-nos recorrer a fontes de espiritualidade antigas e sempre novas. Estas fontes frescas trazem vitalidade à Igreja e por isso é bonito para mim, como Bispo de Roma, incentivá-los, fiéis católicos siro-malabarenses, onde quer que estejam, a cultivar o sentido de pertença à sua Igreja sui iuris, para que seu grande patrimônio litúrgico, teológico, espiritual e cultural possa brilhar ainda mais”, sublinhou o Papa.
Francisco os exortou a “preservar a unidade”. “Não é uma exortação piedosa, mas um dever, e é especialmente assim quando se trata de sacerdotes que prometeram obediência e dos quais o povo fiel espera o exemplo da caridade e mansidão. Trabalhemos com determinação para salvaguardar a comunhão e rezemos incansavelmente para que os nossos irmãos, tentados pela mundanidade que leva à rigidez e à divisão, possam perceber que fazem parte de uma família maior, que os ama e os espera”, ressaltou.
A seguir, o Papa disse:
Nos momentos de dificuldade e de crise, não se deixem vencer pelo desânimo ou pela sensação de desamparo diante dos problemas. Irmãos e irmãs, não percam a esperança, não se cansem de ser pacientes, não se fechem em preconceitos que alimentam a animosidade. Pensemos nos grandes horizontes da missão que o Senhor nos confia, a missão de sermos sinal da sua presença de amor no mundo, e não um escândalo para quem não acredita.
“Ao tomar cada decisão”, disse ainda Francisco, “pensemos nos pobres e nos distantes, nas periferias, nos que estão na Índia e na diáspora. Pensemos nos que sofrem e esperam sinais de esperança e de consolação. Sei que a vida de muitos cristãos em muitos lugares é difícil, mas a diferença cristã consiste em responder ao mal com o bem, em trabalhar incansavelmente com todos os fiéis para o bem de todos os homens”.
O Papa agradeceu o compromisso da Igreja siro-malabar “nos campos da formação familiar e da catequese”. “Apoio seu trabalho pastoral com os jovens e as vocações. Estou perto de vocês na oração e os trago em meu coração todos os dias”, disse ele.  
Aos fiéis da comunidade siro-malabar de Roma, descendentes do apóstolo Tomé na cidade de Pedro e Paulo, Francisco disse que eles têm um papel especial: “Desta Igreja, que preside a comunhão universal da caridade, vocês são chamados a rezar e a cooperar de modo especial pela unidade na sua Igreja, não só em Kerala, mas em toda a Índia e em todo o mundo. Kerala que é uma mina de vocações: rezem para que continue sendo”, concluiu.

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