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Santa Verônica e Nosso Senhor dos Raros

Curada após o encontro com Cristo, a hemorroíssa dos Evangelhos nos revela a face de Nosso Senhor dos Raros.
Fábio Tucci Farah (*)
Na última Sexta-feira Santa, o padre Sandro Portela anunciou que os fiéis da Catedral de São Carlos Borromeu, no interior de São Paulo (Brasil), teriam o privilégio de adorar um fragmento da verdadeira Cruz. Durante a procissão, fui abordado por uma paroquiana com o filho: “Ele estuda em uma escola católica e quer muito ver o Véu de Verônica. Fica na Itália, né?” Naquela mesma noite, o canto lamurioso de Verônica foi entoado três vezes durante o cortejo do Senhor morto. Na piedosa encenação, os fiéis testemunhavam o rosto de Cristo surgir no desenrolar de um tecido.
Verônica. A piedosa mulher que havia enxugado o rosto de Nosso Senhor a caminho do Calvário tem lugar cativo em incontáveis igrejas católicas ao redor do mundo, estampando a VI estação da Via crucis desde o decreto do papa Clemente XII, em 1731. Apesar da chancela do sucessor de Pedro, o episódio não é mencionado nos Evangelhos canônicos e Santa Verônica sequer é nominada.
Desde que comecei a investigar a história das Sagradas Relíquias, passei a olhar com certa desconfiança para aquela piedosa mulher. E a enxergá-la menos como personagem histórica e mais como a história velada do Sagrado Vulto de Cristo impresso na Santa Síndone e disfarçado em retrato, na corte do rei Abgar, em Edessa. Para burlar a proibição do contato com objetos fúnebres, teria surgido a história do rosto de Cristo impresso em um véu durante a agonia da paixão, ou seja, ainda em vida. Em Edessa, a Santa Síndone ficaria dobrada com apenas o rosto visível. A Verônica, cujo nome seria derivado de verdadeiro ícone (1), teria sido criada para explicar a existência desse retrato de Cristo, dessa imagem milagrosa. Mas perderia o sentido com a revelação do “retrato” como mortalha – atualmente custodiada na Catedral de Turim – ainda no século VIII, em Constantinopla (2).
Apesar disso, o suposto Véu de Verônica tornou-se uma das relíquias mais afamadas da Idade Média, um dos maiores tesouros de Roma mencionado até no épico A Divina Comédia de Dante Alighieri (3). A santa que havia legado o rosto de Cristo aos cristãos, porém, não gozava de prestígio no âmbito eclesiástico e chegou a ser excluída do Breviário e do Missal ambrosiano por São Carlos Borromeu, patrono da catedral onde se iniciaram estas reflexões em uma Sexta-feira Santa. Na Vigília Pascal, na mesma catedral, quando me virei para acompanhar a benção da água batismal, pelo bispo Dom Luiz Carlos Dias, meus olhos se cruzaram com a suposta santa apócrifa, na VI estação da Via crucis. Naquele momento, confesso pela primeira vez, não estava diante de uma figura alegórica, mas de uma santa real. Uma santa que desejava me contar a sua história, em um canto nada lamurioso.
A primeira pista sobre sua identidade estava no apócrifo Evangelho de Nicodemos, supostamente escrito no século II (4). Embora não sejam divinamente inspirados e apresentem inúmeros elementos fantasiosos, alguns apócrifos já foram citados por santos e deixaram uma marca indelével no patrimônio cultural da Igreja, a exemplo dos nomes dos reis magos, do nome do soldado romano que perfurou o torso de Nosso Senhor na Cruz e da comovente imagem de Cristo no leito de morte de São José. Segundo o Evangelho de Nicodemos:
E certa mulher chamada Berenice (Verônica) começou a gritar de longe, dizendo: “Encontrando-me doente com hemorragia, toquei na extremidade de seu manto e a hemorragia que eu vinha tendo por doze anos consecutivos, parou”. Os judeus disseram: “Existe um preceito que proíbe apresentar mulher como testemunha” (5).  
O apócrifo identifica a mulher curada após tocar sorrateiramente na orla do manto de Cristo. Ela se chamava Berenice. Em algumas transcrições, Bernike, e, em copta, Birunìqat, o equivalente ao grego Verônica (6). Segundo o texto, ela se tornou seguidora de Nosso Senhor após o milagre da cura e disposta a ser sua testemunha até as últimas consequências. Aquele milagre não escapara da pena de três evangelistas. Embora a miraculada seja uma figura anônima, os sinóticos registraram a cura da hemorroíssa, como ela se tornou conhecida, exaltando o encontro da fé humana com a divina Misericórdia. Antes de Jesus Cristo cruzar o seu caminho, ela era considerada impura e impedida de participar do culto divino no judaísmo. Segundo o Evangelho de São Marcos:
Ora, certa mulher que havia doze anos tinha um fluxo de sangue e que muito sofrera nas mãos de vários médicos, tendo gasto tudo o que possuía sem nenhum resultado, cada vez piorando mais, ouvira falar de Jesus. Aproximou-se dele, por detrás, no meio da multidão, e tocou seu manto. Porque dizia: “Se ao menos tocar suas roupas, serei salva”. E logo estancou a hemorragia. E ela sentiu no corpo que estava curada de sua enfermidade. Imediatamente, Jesus, tendo consciência da força que dele saíra, virou-se para a multidão e disse: “Quem me tocou?” (Mc 5, 25-30)
Então a mulher amedrontada e trêmula, sabendo o que lhe havia sucedido, foi e caiu-lhe aos pés e contou-lhe toda a verdade. E ele disse-lhe: “Minha filha, a tua fé te salvou; vai em paz e fique curada desse teu mal”. (Mc 5, 33-34)
Entre os séculos VIII e IX, a coletânea apócrifa Ciclo de Pilatos descreveu detalhadamente alguns milagres atribuídos a Jesus Cristo em uma alegada correspondência oficial de Pôncio Pilatos a César Augusto (7). Embora repleto de elementos fantasiosos, o texto ajuda a enxergar a situação dramática da hemorroíssa no imaginário da época. Ela sofria de uma doença rara naquele tempo, doença que a tornava semelhante a um “cadáver”. Ou seja, morta aos olhos do mundo.     
Havia uma outra mulher com problemas hemorrágicos, cujas articulações e veias estavam esgotadas pelo fluxo de sangue, a tal ponto que já nem sequer se podia dizer que tinha um corpo humano. Mais se assemelhava a um cadáver. Havia ficado até sem voz. Tal era a gravidade de seu estado que nenhum médico do território encontrou uma forma de curá-la ou sequer de lhe dar uma esperança de vida. Jesus passava por ali em segredo e a mulher, retirando forças da sombra dele, tocou, por detrás, na fimbria de sua túnica. Imediatamente sentiu uma força que preenchia seus vazios e, como se nunca tivesse estado doente, começou a correr agilmente em direção à sua cidade… (8)
Neste mesmo apócrifo, a mulher que tinha recebido o lenço com as feições de Jesus Cristo é batizada de Veronice, forma latinizada do nome grego. A associação de Verônica com a hemorroíssa foi perpetuada em diversas culturas e registrada pela Enciclopédia Católica (9). Mas a hemorroíssa não havia desaparecido nas brumas do tempo após protagonizar a bela cena nos Evangelhos? Segundo Eusébio de Cesárea, pai da história da Igreja, não. Em sua História Eclesiástica, o prelado revela o destino daquela mulher outrora impura, em uma clara mensagem: o encontro pessoal com Cristo havia transformado a mulher marginalizada em uma intrépida testemunha do Messias. E em uma exortação a todos os seguidores do Caminho: Jamais continuamos os mesmos após o encontro com Nosso Senhor. Segundo o registro de Eusébio:
Aqui está a sua casa e resta um admirável documento como recordação do benefício que ela obteve do Redentor. Em cima de uma pedra alta, em frente à porta da casa, outrora moradia da hemorroíssa, ergue-se uma estátua de bronze de uma mulher que se ajoelha, com as mãos no gesto de quem implora; à sua frente, ergue-se uma outra imagem do mesmo material reproduzindo um homem em pé que, envolvido em um manto, estende a mão para a mulher; aos seus pés cresce uma planta de espécie desconhecida, que se eleva até a bainha do poncho de bronze. Ela é um remédio eficientíssimo para todos os tipos de doença. Afirma-se que essa estátua represente Jesus. Manteve-se até os dias de hoje; nós a vimos com os nossos olhos, na nossa estada naquela cidade. (10)
 
Parece bastante plausível que a hemorroíssa tenha se tornado uma seguidora de Jesus. E tenha acompanhado os últimos passos de seu salvador a caminho do Calvário. Embora Verônica, concordo, seja possivelmente um nome fictício. Da mesma forma que “Longino” provavelmente também seja. Talvez ela tenha terminado seus dias em Cesareia de Filipe, anunciando a Boa Nova do Reino a partir da casa que se tornou um memorial ao milagre. Ou tenha ido a Roma com Volusiano, emissário que havia confiscado a relíquia com o rosto de Jesus, e, na Cidade Eterna, dado seu testemunho diante do imperador Tibério César. A partir do século XII, a pictura Domini vera era um dos tesouros custodiados na Basílica de São Pedro. O alegado Véu de Verônica ainda existente ali é apresentado aos fiéis, uma vez por ano, no quinto domingo da Quaresma. Segundo alguns pesquisadores, no entanto, a relíquia original teria desaparecido durante o saque de Roma, em 1527. Em 1999, o padre e professor Heinrich Pfeiffer anunciou ter descoberto o verdadeiro véu em um mosteiro capuchinho localizado em Manoppello, onde a relíquia segue sendo venerada por milhares de fiéis, entre eles, o papa Bento XVI, em 2006 (11).
Já a discípula de Nosso Senhor teria seguido outro caminho. Segundo uma antiga tradição, ela teria terminado a peregrinação por esse mundo em Soulac, na França. Suas alegadas relíquias foram trasladadas no século IX e teriam sido encontradas na Basílica de Saint-Seurin, no século XIX. Independentemente da veracidade dessas tradições, o que o Senhor gostaria de nos dizer com a história dessas duas mulheres? Ou melhor, da hemorroíssa, que poderia ser Berenice, que poderia ser Verônica. Entendi essa mensagem quando meu olhar se cruzou com a santa, na VI estação da Via crucis, na Catedral de São Carlos.
A hemorroíssa e o véu com o sangue de Cristo
Os evangelistas descreveram o que se passava na intimidade da hemorroíssa ao se aproximar do Senhor (12). Certamente, ela se tornou uma testemunha viva do poder de Jesus na comunidade cristã primitiva. Consigo imaginá-la descrevendo a experiência que havia transformado sua vida. A iniciativa primeira cabe ao Senhor. Ele vem até nós, vem até cada um de nós. E nos exige uma resposta. Ele teria atraído a hemorroíssa para restaurá-la. No apócrifo, sua sombra teria dado forças a ela, que se deixou arrastar até os seus pés. Cristo a chamou e ela respondeu ao chamado.
Embora houvesse uma multidão ao redor de Nosso Senhor, a fé da hemorroíssa venceu os obstáculos. O caminho até Jesus Cristo está sempre aberto aos que creem, aos que desejam ser alcançados – e salvos – por Ele. A mulher alcança Cristo e Ele se entrega a ela e a cura. Aquela mulher era marginalizada pelos doutores da Lei. Como observou São Paulo, porém, Deus não faz assepsia de pessoas. Sua Misericórdia alcança todos, sobretudo os enfermos, os pobrezinhos, os desprezados… Os que se assemelham a “cadáveres” aos olhos do mundo.
Quem se deixa encontrar por Nosso Senhor, recebe a sua força, a força do Alto. Com Cristo, a nossa cruz, por mais pesada que seja, se torna leve. Segundo Eusébio, o encontro com Cristo foi transformador. A história da hemorroíssa teria, sim, uma continuação além dos Evangelhos. Na Via crucis, posso enxergar a mesma mulher, mas não a hemorroíssa anônima. Enxergo uma mulher proeminente na comunidade cristã primitiva, uma mulher conhecida por seu nome, não por uma doença excludente. E aqui, Nosso Senhor nos entrega a resposta definitiva aos que ouvem o seu chamado, aos que O buscam.
Na história pregressa, a mulher havia tocado Nosso Senhor e sido tocada por Ele. A caminho do Calvário, ela O segue na Via Dolorosa e se entrega em suas mãos ao lhe estender o véu. Segundo São Paulo, “a mulher deve trazer o sinal da submissão sobre sua cabeça, por causa dos anjos (1Cor 11, 7-10).” Ele se referia ao véu. Se antes a mulher se jogou aos pés de Cristo em busca desesperada de cura, a caminho da Cruz ela se submeteu plenamente à autoridade daquele que reconhecia verdadeiramente como Senhor e Salvador.
E Cristo respondeu a fé lhe devolvendo o véu com seu Sangue, que não a cura apenas de uma doença física, mas a prepara para o Reino! E nesse véu, segundo a tradição, Ele deixou impressa a marca de seu divino rosto. Um sinal de que os cristãos devem carregar em si mesmos a imagem do Cristo, o Caminho que nos conduz à Casa do Pai.
A caminho do Calvário, Verônica não pegou Cristo “desprevenido”. Ele a esperava e a reconhecia. Como reconhece cada ovelha de seu rebanho. Na Cruz, o Senhor nos oferece a verdadeira vida. Ele nos dá o que há de mais precioso. Mas espera algo em troca. E o que Ele espera conseguimos enxergar na vida da hemorroíssa que se tornou santa Verônica. Devemos completar em nossa carne o que falta à Paixão de Cristo, pela Igreja (13). Em Cristo, somos chamados a participar da redenção da humanidade. E nosso sangue, nosso sofrimento, passa a testemunhar a presença real de Nosso Senhor em nossas vidas. Nosso sangue mostra a face de Cristo! E, com Ele, nos tornamos Luz do Mundo e Sal da Terra. 
A face de Nosso Senhor dos Raros
A reflexão sobre Santa Verônica arrastou os meus olhos a Nosso Senhor. E me revelou uma face da divina Misericórdia, uma face que acolhe de maneira especial os 300 milhões de portadores de doenças raras no mundo. Não tenho dúvidas, esse presente dos céus chegou a mim graças ao encontro com Cristo por meio do padre Márlon Múcio, portador de uma doença rara e fundador da Casa de Saúde Nossa Senhora dos Raros, a primeira do país a se dedicar às hemorroíssas de nosso tempo. Por essa devoção, Nosso Senhor deseja alcançar cada um dos raros de forma única e se entregar a eles, oferecendo-lhes a verdadeira cura. E os convidando a manifestarem em suas vidas a sua divina face.
Trazida à luz pelo artista sacro Sérgio Prata, Cristo está com o corpo para frente, como se caminhasse, mas com o torso virado para o expectador da cena, para nós. Na borda inferior do manto, manchas de sangue revelam marcas de dedos, no ponto em que teria sido tocado pela hemorroíssa. Além de recordar o toque da mulher sofredora, as marcas recordam que o Senhor caminha entre nós, mas detém os passos diante dos sofredores deste mundo que O buscam – e lhes confia o seu rosto.
Em uma das mãos, Cristo leva um ramo de mirra florida – uma planta medicinal, em referência à estátua na casa de Santa Verônica descrita por Eusébio. Mas o ramo também simboliza sua morte e seu Corpo como o verdadeiro remédio para todos os nossos males. A outra mão de Cristo está estendida na direção do expectador da cena, como Ele a estendeu na direção da hemorroíssa. Próximo à marca de sangue no manto e na mão estendida, há pequenos halos de luz, como efusões da auréola sobre a sua cabeça – a força que vem de Deus e nos ergue de nossas misérias.
Oração a Nosso Senhor dos Raros (14)
Ó Nosso Senhor dos Raros, viestes ao mundo para revelar a face misericordiosa do Pai e, em sua Encarnação, fostes ao encontro dos raros e lhes oferecestes a cura do corpo e da alma. Estendei a vossa mão sobre mim, vos suplico. Curai as chagas do meu coração e ajudai-me a carregar o peso da enfermidade que castiga o meu corpo. Ofereço o meu sofrimento – unido ao vosso – para a santificação das almas que vagam adoecidas por esta terra árida (e outras intenções pessoais).
Ó Nosso Senhor dos Raros, não ignorastes o toque suplicante da mulher enferma em seu manto e lhe destes força para viver dignamente, testemunhando a maravilha de se dobrar aos vossos pés. Que eu possa ser erguido por vossa força e as minhas feridas se tornem sinais luminosos de vossa presença redentora entre os homens.
Ó Nosso Senhor dos Raros, fazei de mim um templo digno. Que junto a vós eu encontre diariamente a verdadeira vida e vença os obstáculos do caminho (se desejar, dizer as dificuldades enfrentadas no momento). Possa eu, Senhor, fortalecido pelo Pão Vivo descido do céu, andar com passos firmes em direção à Casa do Pai, onde reservastes um lugar especial aos sofredores deste mundo. Amém!
Imagem: Sérgio Prata.
Notas(1) Gaeta, Saverio. O enigma do rosto de Jesus: a impressionante história do Véu de Verônica. São Paulo: Prumo, 2011, p. 122.(2) Evaristo, Carlos & Farah, Fábio Tucci. Relíquias Sagradas: Dos tempos bíblicos à era digital. São Paulo: Paulus, 2020, p. 154.(3) “Como quem da Croácia se destina/ A ver Santo Sudário em romaria,/Por fama antiga da feição divina;/ Devota a contemplar se não sacia, Dizendo em si: “Jesus! Meu Deus piedoso!/ Tal o semblante vosso parecia” Canto XXXI (35,36). A Divina Comédia. Tradução: J.P. Xavier Pinheiro. São Paulo: Martin Claret, 2021, p. 861.
(4) Gaeta, O enigma do rosto de Jesus p. 118.
(5) Evangelho de Nicodemus. In: Apócrifos e pseudo-epígrafos da Bíblia. São Paulo: Editora Cristã Novo Século, 2004, p. 537.(6) Gaeta, O enigma do rosto de Jesus p. 118.(7) Ibidem, p. 119.
(8) Ciclo Pilatos. In: Apócrifos e pseudo-epígrafos da Bíblia. São Paulo: Editora Cristã Novo Século, 2004, p. 714.(9) Dégert, Antoine. “St. Veronica”. The Catholic Encyclopedia, v.15. Nova York: Robert Appleton Company, 1912. Disponível em: Acesso em: 10 de março de 2024.
(10) Gaeta, O enigma do rosto de Jesus pp. 118-119.(11) Antes de entrar no Santuário da Sagrada Face, o papa Bento XVI se dirigiu aos fiéis. O discurso pode ser conferido no sítio: https://www.vatican.va/content/benedict-vi/pt/speeches/2006/september/documents/hf_ben-xvi_spe_20060901_manoppello.html. Acesso em: 10 de março de 2024.
(12) Cf. Marcos 5,25-29; Cf. Mateus 9,20-22; Cf. Lucas 8,43-48.
(13) Cf. Colossenses 1,24.(14) Oração composta pelo autor do artigo com aprovação eclesiástica de Dom Luiz Carlos Dias, bispo da Diocese de São Carlos, concedida em 8 de maio de 2024. 
(*) Fábio Tucci Farah é embaixador da Casa de Saúde Nossa Senhora dos Raros e perito em relíquias sagradas da Arquidiocese de São Paulo.

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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