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Schevchuk: “Não se esqueçam de nós. A solidariedade salva vidas”

A gratidão pelas ajudas e a solidariedade, a “pastoral do luto” desenvolvida pelo clero local, a força alimentada pela fé em meio à morte quotidiana. Falando à Rádio Vaticana, os sentimentos do chefe da Igreja Greco-Católica,após dois anos de guerra.
Svitlana Dukhovych – Cidade do Vaticano
“Pedimos ao Senhor a paz para o nosso povo, pedimos que esta guerra termine o mais rápido possível, pedimos ao Senhor que nos proteja do sofrimento, da morte. Mas é importante termos conciência de que o Senhor está mais pronto a dar do que nós a pedir. Isto nos dá esperança.”
Falando aos meios de comunicação do Vaticano, o arcebispo-mor de KyivHalyč, Sviatoslav Shevchuk, assim descreve o anseio pela paz que reside no coração do povo ucraniano. Um anseio acompanhado pela oração diária, assim como diária também o é, depois de dois anos, o som de sirenes e explosões que devastam o país.
Beatitude, já há dois anos muitas pessoas na Ucrânia acordam quase diariamente ao som de sirenes e explosões. Outros leem as notícias com preocupação. Os pensamentos de muitos vão para seus entes queridos que estão no front ou em lugares muito perigosos. A quem se dirige seu pensamento logo ao acordar quais são suas primeiras orações?
A primeira oração da manhã quando acordo é a oração de ação de graças. Porque verdadeiramente, quando a cada manhã te acorda e percebes que estás vivo, já tens um motivo profundo para agradecer ao Senhor, agradecer-lhe o dom do novo dia, o dom da vida que deves transformar no dom de ti mesmo a Deus, à sua greja, ao seu povo. Ultimamente o sentido dessa oração de agradecimento o encontro nestas palavras do profeta Isaías: «Então, às tuas invocações, o Senhor responderá, e a teus gritos dirá: “Eis-me aqui!”» (cf. Is 58, 9). É verdadeiramente algo que me toca e que dá sentido às outras orações, porque é uma palavra de esperança: diz que o Senhor está mais disposto a dar do que nós a pedir. Obviamente, pedimos ao Senhor a paz para o nossa gente, pedimos que esta guerra termine o mais rapidamente possível, pedimos ao Senhor que nos proteja do sofrimento, da morte. Mas antes de iniciar esta oração com os nossos pedidos, é importante estar conscientes de que o Senhor está mais pronto a dar do que nós a pedir. Isto nos dá esperança.
A guerra traz morte, sofrimento, causa ódio e cria graves problemas sociais. Como a Igreja tenta combater tudo isso?
Devo dizer que nestes dois anos de invasão em grande escala – mas na realidade são dez anos de guerra – a nossa Igreja desenvolveu um certo tipo de pastoral que posso chamar de pastoral do luto, porque devemos acompanhar as pessoas que choram, as pessoas que sofrem, as pessoas que vivem o luto pela perda dos familiares, da sua casa, do seu mundo. É um desafio porque é muito fácil ser pastores de gente feliz. Talvez hoje a cultura ocidental precise, por assim dizer, de uma “pastoral do prazer”, de uma “pastoral da comodidade”, de uma pastoral do mundo do consumo. O Santo Padre diz muitas vezes que esta pastoral pretende alertar o homem moderno contra esta cultura do descarte que procura o prazer cada vez mais intenso com menos responsabilidade. Mas em contextos de guerra nos deparamos vom um desafio completamente diferente: todos os dias vivemos a tragédia da destruição do nosso país, das nossas cidades, a cada dia vemos a morte com os nossos olhos e infelizmente ainda não temos uma clara perspectiva de quando tudo isso terminará. Por isso estamos perante uma situação de profunda dor entre o nosso povo e muitas vezes sentimo-nos impotentes face a tudo isto. O que podemos fazer? Às vezes é dada prioridade à presença, em vez de fazer algo: estar presente ao lado das pessoas que choram, tentando mostrar que o Senhor está conosco. Encontrar palavras adequadas para a mãe que está de luto pela morte do filho, encontrar palavras para abordar um jovem que perdeu as pernas e não sabe viver ou uma criança que viu com os próprios olhos a morte da mãe. O que você pode dizer a esta pobre criança que não sabe lidar não só com o relacionamento com outras pessoas, mas também consigo mesmo? Esta pastoral do luto é um desafio, mas é também uma pastoral da esperança, porque vemos que a fé cristã nos chama a levar a esperança da ressurreição no meio do luto das pessoas. Este é o contexto da nossa vida, da vida da Igreja e do anúncio do Evangelho nesta grande tragédia da guerra na Ucrânia.
Gostaria também de perguntar de onde vocês tiram forças – o senhor pessoalmente, os sacerdotes, as pessoas consagradas – para acompanhar as pessoas neste período obscuro?
Devo confessar honestamente que é um mistério. Nós não sabemos. Somente quando diriges o olhar para esse tempo de guerra que já passou – dois anos – consegues interpretar e entender de onde tirou tua força. Talvez seja a mesma experiência da presença de Deus que Moisés viveu no Sinai quando o Senhor lhe disse: não podes ver o meu rosto e permanecer vivo (cf. Ex 33, 20). Só podemos reconhecer esta presença que nos inspira, que recarrega as nossas forças olhando para as costas do Senhor que passa, que passou pela sua dor. Devo dizer que há alguns momentos em que nos sentimos recarregados: obviamente é a oração e os sacramentos da Igreja. Hoje podemos reafirmar esta famosa frase dos cristãos dos primeiros séculos: “Sine dominico non possumus”, ou seja, sem a celebração da Eucaristia não podemos viver nem trabalhar. Depois também a confissão frequente: há uma grande redescoberta do Sacramento da Reconciliação que cura as nossas feridas espirituais, mas também as da psique humana. Porque vivemos todos os dias em perigo iminente de morte. Por exemplo, não sei se daqui a uma hora ainda estarei vivo: esta é a nossa realidade. Portanto, devemos estar sempre prontos para morrer e nos apresentar diante da face de nosso Senhor.
Depois há também um terceiro momento que afeta a nossa atividade: obviamente, depois de cada bombardeamento, a cada ataque de mísseis percebemos o medo, sofremos novas feridas psicológicas, mas é importante transformar esta energia do medo em ação. Muitas pessoas relataram que após cada ataque com mísseis notam um aumento na atividade. Essa energia que explode dentro de ti ao ouvir o estrondo das explosões e o tremor de sua casa deve ser transformada em uma ação de solidariedade, de serviço: fazer o bem ajuda a curar, transformando tua dor em solidariedade com quem chora, transforma teu luto em caridade cristã. Esta transformação do “ser” em “agir”, mas em ação positiva e construtiva, é algo que nos dá esperança. Talvez estas três realidades possam ser percebidas como um segredo da nossa resistência, o segredo da esperança cristã do povo ucraniano hoje.
Então, será que o povo ucraniano continua a ter esperança, apesar de ter todos os motivos para estar desesperado?
Devo dizer que estamos feridos, mas não desesperados. Como diz São Paulo, Somos abatidos, mas não somos destruídos (cf. 2 Cor 4, 9). Todos os dias experimentamos a morte de nosso Senhor Jesus Cristo em nossa carne, para experimentar sua ressurreição. As pessoas que acreditam na vida eterna, as pessoas que acreditam no Cristo ressuscitado, encontram esperança. E devo dizer que a esperança não é um sentimento vão, de confiar cegamente naquilo que não se conhece. Não, esta não é uma esperança cristã. O sentido da esperança cristã é a vida do Ressuscitado: certamente ressuscitaremos. Já carregamos essa esperança em nossas vidas hoje, mas ela só será plenamente revelada na vida futura. Portanto, a esperança cristã é uma virtude que envolve a vontade, o teu modo de pensar, a tua razão e os teus sentimentos. Portanto, é a esperança cristã que nos abre novas perspectivas. Na Ucrânia podemos ouvir frequentemente a frase latina “Contra spem Spero” (Espero contra toda esperança), que também se tornou o título de um poema da famosa poetisa ucraniana Lesja Ukrainka (1871-1913): esperamos de uma forma cristã contra uma simplesmente desespero humano. Portanto, o olhar cristão pode ver nestas condições uma luz de fé que talvez os não-crentes não possam perceber.
O Sínodo dos bispos greco-católicos na Ucrânia, que se reuniu no início de fevereiro, teve como tema principal a pastoral da família. Quais são os principais desafios nesta área e o que vocês estão tentando fazer como Igreja?
Hoje, o plano pastoral da nossa Igreja, que concordamos a nível do Sínodo, pode resumir-se na perspectiva de curar as feridas do povo. Uma das prioridades desta atenção pastoral é a pastoral das famílias em situação de luto. É importante compreender como acompanhar a família e fizemos uma análise aprofundada da situação de vida da família ucraniana. Em primeiro lugar, compreendemos que a maioria das famílias ucranianas vive, infelizmente, uma situação de separação forçada. A maioria dos homens hoje luta. Isto significa que estas famílias vivem sem a presença diária do pai. Depois temos a emigração massiva: cerca de 14 milhões de ucranianos foram forçados a abandonar as suas casas. A grande maioria mudou-se dentro do país, especialmente das regiões orientais para as partes central e ocidental. Depois, quase 6 milhões de pessoas deixaram a Ucrânia. Alguns regressaram, outros continuaram em direção a outros países. Significa que estas famílias estão separadas porque os homens não podem sair da Ucrânia. A grande maioria, 80%, dos refugiados de guerra ucranianos na Europa são mulheres jovens com os seus filhos. É a grande tragédia da separação. As estatísticas oficiais dizem-nos que em 2023 foram registados mais de 170 mil casamentos na Ucrânia, o número mais baixo da história do país independente. Em alguns anos, foram registrados 600 mil novos casamentos. Mas há outra estatística que nos assustou bastante: além dos poucos casamentos, ocorreram também 120 mil divórcios. Enfrentando este grande desafio, o Estado ucraniano oferece hoje o casamento registado no prazo de um dia, ou seja, as pessoas podem candidatar-se on-line e num dia a sua união civil será registada junto do governo. Isto, por um lado, parece facilitar este registo do casamento civil, mas por outro banaliza o próprio conceito de família. Se em um dia você consegue se cadastrar, significa que no dia seguinte você pode se divorciar e algo importante será encarado de ânimo leve, sem profundo envolvimento e responsabilidade. Há também outra situação que nos faz refletir. Antes da guerra, os grandes desafios consistiam em dois tipos de famílias: as famílias disfuncionais, ou seja, aquelas em crise, que estavam à beira do divórcio e que a Igreja tinha de acompanhar para fortalecer este vínculo familiar, e as famílias dos emigrantes, quando a mãe, a mulher ia procurar trabalho na Itália, Grécia e outros países europeus e o marido ficava em casa com os filhos. Trazer a mãe de volta à família é verdadeiramente um desafio: como reintegrar estas pessoas na sociedade ucraniana, na sua própria família. Mas agora temos quatro novos desafios para a pastoral da família. Em primeiro lugar, temos famílias que perderam um familiar, famílias jovens, por exemplo, uma jovem esposa que perdeu o marido e não consegue explicar aos filhos quando o pai regressará. Estas jovens viúvas na Ucrânia hoje são chamadas de “tulipas negras”. É realmente uma tragédia e devemos acompanhar estas famílias. A outra tragédia é a das famílias daqueles que ficaram gravemente feridos na guerra. Hoje, segundo estatísticas oficiais, na Ucrânia temos 200 mil pessoas, ex-militares e civis, gravemente feridas. E a família arca com todo o ônus do acompanhamento e assistência social e médica do acidentado. Muitas vezes estas famílias são abandonadas pelo Estado que não consegue oferecer uma assistência social adequada. Estas pessoas gravemente feridas que necessitam de cuidados médicos específicos muitas vezes nem sequer têm comida suficiente. Estima-se que entre estes 200 mil feridos, 50 mil perderam pernas ou braços, sobretudo jovens, e necessitam de reabilitação e cuidados específicos. Acompanhar essas pessoas não significa apenas cuidar do corpo, elas precisam de atendimento psicológico profissional, mas isso não funciona sem acompanhamento espiritual. E como podemos acompanhar espiritualmente uma jovem de 23 anos que perdeu os braços? É realmente um grande desafio. Depois temos outras famílias que receberam a notícia de que um de seus parentes está desaparecido no front e não há notícias dele. Oficialmente 35 mil pessoas estão registradas como desaparecidas. Não podes imaginar o inferno que passam a mãe e o pai que não têm notícias do filho ou a esposa que vive sem notícias do marido! Imagine uma mulher de 25 anos com dois filhos dizendo: “Não sei pelo que rezar, porque não sei se meu marido está vivo ou morto. Sou viúva ou não? Como posso organizar minha vida?”. Isso se torna uma tortura, porque a criança pergunta todos os dias, todas as manhãs: “Quando meu pai vai voltar?”. E aquela mulher não sabe o que responder, não sabe como dizer ao filho se o pai dele está vivo ou morto. Cada vez que se anuncia uma nova troca de presos e quando aparecem pessoas anteriormente registadas como desaparecidas, estas esperanças são reavivadas, mas ao lado da esperança também se reavivam a dor, a desilusão e o sofrimento profundo. Depois temos também outra categoria que são as famílias dos prisioneiros de guerra e acompanhá-los é um desafio muito difícil. Devo dizer que em cada paróquia que visito, deparo-me com intermináveis ​​listas de familiares prisioneiros de guerra. Recolho continuamente estes nomes, olho para estes rostos de jovens e os transmito ao Santo Padre. De vez em quando escrevo uma carta com uma nova lista de prisioneiros de guerra. Estou profundamente grato ao Santo Padre pelo seu empenho na libertação dos prisioneiros de guerra. Sabemos onde estão alguns, outros não. Rezamos para que um dia eles sejam libertados e voltem para casa. Esta é a imagem do sofrimento da família ucraniana hoje, foi assim que a guerra afetou o coração da sociedade ucraniana, ou seja, a família. Outra dimensão da vida da sociedade ucraniana são as crianças. Estamos assistindo a um declínio dramático nos nascimentos na Ucrânia. Segundo estatísticas estatais, 210 mil crianças nasceram na Ucrânia em 2023. Para o ano de 2024 são esperados apenas 180 mil nascimentos. Um terço do que normalmente acontecia na Ucrânia. Oficialmente, o governo ucraniano afirma que 527 crianças foram mortas e 1.224 ficaram feridas com graus variados de gravidade. Obviamente, um grande crime contra a dignidade da criança é a deportação pelo governo russo de crianças ucranianas de áreas ocupadas pela Rússia e que foram, portanto, separadas dos seus pais. As autoridades ucranianas afirmam ter identificado e verificado informações sobre quase 20 mil crianças que foram deportadas para a Rússia durante a guerra em grande escala. O número total de crianças que, segundo fontes russas, foram trazidas, de diversas formas, dos territórios ocupados para a Rússia é de aproximadamente 700 mil. O governo ucraniano afirma que, em 24 de janeiro de 2024, 388 crianças foram devolvida à Ucrânia, o que é um número relativamente pequeno. Estamos gratos pelo fato de o Tribunal Internacional estar estudando este fenômeno e já o definir como um crime contra a humanidade. Mas devemos rezar por estas crianças porque estão entre as mais fracas e vulneráveis ​​e durante a guerra aqueles que mais sofrem, aqueles que recebem as feridas mais devastadoras são os mais fracos. Este fenômeno das crianças da guerra na Ucrânia é mais um desastre humanitário que nós hoje, como Igreja, devemos enfrentar, devemos dar voz a estas crianças silenciadas, ajudar os pais a encontrar os seus filhos e também acompanhá-los. Conheci algumas crianças que foram deportadas pelos russos e depois, por meio de vários mecanismos internacionais, incluindo a missão do cardeal Matteo Zuppi, foram devolvidas às suas famílias. Estas crianças necessitam realmente de cuidados específicos, merecem uma grande atenção, um acompanhamento pastoral muito particular, porque na sua tenra idade experimentaram todas as possíveis crueldades humanas que nós, adultos, nem sequer podemos imaginar e algumas delas foram exploradas sexualmente. Este é um grito de dor vindo da Ucrânia que o mundo inteiro deve ser capaz de perceber e ouvir.
Qual é a sua mensagem aos católicos de todo o mundo, dois anos após o início da invasão em grande escala?
Vamos fazer de tudo para acabar com esta guerra sem sentido! Devemos procurar todos os meios para conter o agressor, porque a guerra traz sempre consigo a morte, a tragédia, a destruição da pessoa humana e de toda a sociedade. Gostaria que hoje os nossos irmãos e irmãs na Europa e em todo o mundo compreendessem que a guerra na Ucrânia não é a “guerra ucraniana”, isto é, não é simplesmente um fenômeno que pode ser encerrado dentro das fronteiras do nosso sofredor país: é uma realidade que invade o mundo, é como um vulcão que entrou em erupção em território ucraniano, mas o seu fumo e a sua lava vão mais longe. Esta guerra irá, mais cedo ou mais tarde, afetar todos, não só o soldado no front e a sua família, mas também todos os que vivem perto ou longe das fronteiras da Ucrânia, da sociedade europeia e até da sociedade mundial. Por isso pedimos solidariedade. Não se esqueçam de nós porque se formos esquecidos e abandonados, este terremoto que hoje vivemos na Ucrânia abalará o mundo inteiro. Temos a esperança de que a solidariedade salve verdadeiramente vidas, a solidariedade pode ajudar-nos a encontrar soluções que talvez ainda não tenhamos identificado hoje. Não se esqueçam da Ucrânia, não nos abandonem no nosso luto e na nossa dor.

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O Papa: muitos conflitos abertos, não ceder à lógica das armas

Francisco divulgou uma carta por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma a Maria Salus Populi Romani durante a fúria da II Guerra Mundial. O Pontífice pede que o aniversário seja uma oportunidade para “meditar em torno do terrível flagelo da guerra”. Olhando para a Ucrânia, Oriente Médio, Sudão e Mianmar, exorta a ouvir os “gritos de terror e de sofrimento” que questionam a consciência de todos e a “trabalhar pela paz na Europa e no mundo”.
Mariangela Jaguraba- Vatican News
O Papa Francisco enviou uma carta ao vice-gerente da Diocese de Roma, dom Baldassarre Reina, por ocasião dos 80 anos do voto de Pio XII e da cidade de Roma ao ícone de Nossa Senhora conhecido como “Salus Populi Romani” durante a II Guerra Mundial.
O Pontífice une-se espiritualmente a toda a comunidade diocesana que celebra pela primeira vez a memória litúrgica da Salus Populi Romani, e recorda o voto que o povo de Roma e seu Pastor, Papa Pio XII, fez a Nossa Senhora em 4 de junho de 1944 para implorar a salvação da cidade, quando o confronto direto entre o exército alemão e os aliados anglo-americanos estava prestes a acontecer”, escreve o Papa no texto.
“A devoção ao antigo ícone conservado na Basílica de Santa Maria Maior está viva há séculos no coração dos romanos, que recorriam a ele para fazer súplicas e invocações, especialmente durante pragas, desastres naturais e guerras”, escreve ainda Francisco. “Os eventos marcantes da vida religiosa e civil de Roma eram registrados em frente a essa imagem. Portanto, não é de surpreender que o povo romano desejou confiar-se mais uma vez a Maria Salus Populi Romani enquanto a Urbe vivia o pesadelo da devastação nazista”, ressalta ainda o Papa.

Pio XII com os cidadãos romanos após o bombardeio do bairro de São Lourenço

Não ceder à lógica das armas
De acordo com Francisco, “oitenta anos depois, a lembrança desse acontecimento tão cheio de significado quer ser uma ocasião para rezar por aqueles que perderam a vida na II Guerra Mundial e para fazer uma meditação renovada sobre o tremendo flagelo da guerra”.
Muitos conflitos em diferentes partes do mundo ainda estão abertos hoje. Penso em particular na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel, no Sudão e Mianmar, onde as armas ainda fazem barulho e mais sangue humano continua sendo derramado.

“Esses são dramas que afetam inúmeras vítimas inocentes, cujos gritos de terror e sofrimento questionam a consciência de todos: não podemos e não devemos ceder à lógica das armas!”

O apelo de Paulo VI à ONU
O Pontífice recorda que “vinte anos após o fim da II Guerra Mundial, em 1965, o Papa São Paulo VI, falando na ONU, perguntou: ‘Será que o mundo chegará a mudar a mentalidade particularista e bélica que até agora teceu grande parte de sua história?'” Segundo Francisco, “essa pergunta, que ainda aguarda uma resposta, estimula todos a trabalhar concretamente pela paz na Europa e em todo o mundo”.

“A paz é um dom de Deus que também deve encontrar hoje corações dispostos a acolhê-lo e trabalhar para serem construtores da reconciliação e testemunhas da esperança.”

Ser construtor de paz
Francisco espera “que as iniciativas promovidas para comemorar o voto popular à Mãe de Deus, nos quatro lugares que foram protagonistas daquele acontecimento, possam reavivar nos romanos a intenção de serem construtores de uma verdadeira paz em todos os lugares, relançando a fraternidade como condição essencial para recompor conflitos e hostilidade”. “Pode ser construtor de paz”, ressalta o Papa, “quem a possui dentro de si e, com coragem e mansidão, se compromete em criar vínculos, em estabelecer relações entre as pessoas, em apaziguar as tensões na família, no trabalho, na escola, entre os amigos”.
O Pontífice conclui a carta, pedindo a Nossa Senhora Medianeira para que “obtenha para toda a humanidade o dom da concórdia e da paz” e confia “todos os habitantes de Roma, especialmente os idosos, os doentes, as pessoas sozinhas e em dificuldade, à intercessão materna da Salus Populi Romani”.

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Indonésia. Ilha de Flores ainda é uma “terra prometida” de vocações

“Em junho e julho estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”, conta Pe. Galvani
Vatican News

 

Em 1924 os vigários e prefeitos apostólicos encontraram-se pela primeira vez, para definir uma orientação comum sobre diversas questões da vida da Igreja e sobre a relação com as …

“Nesta época de final de ano letivo, estamos obtendo bons resultados vocacionais. Nós, Camilianos, tentamos nos manter em forma tanto quanto possível com muitas pequenas coisas boas para fazer, não apenas no campo vocacional, mas também com nossas iniciativas sociais e de caridade.”
É o que conta à agência missionária Fides o padre Luigi Galvani, pioneiro na Diocese de Maumere, na Indonésia, onde os Missionários Camilianos estão presentes em três dioceses com 4 seminários, dois centros sociais onde coordenam um programa de nutrição para 160 crianças pobres, apoio à distância para cerca de 20 estudantes merecedores, um projeto de “casas especiais” para libertar os doentes mentais de situações de opressão e, por fim, um modesto projeto de produção de água mineral e do sorvete “São Camilo”.
Ordenações diaconais entre os vários institutos missionários
“Em junho e julho – explica ele – estão programadas várias ordenações diaconais entre os vários institutos missionários. No domingo, 2 de junho, 48 foram ordenados diáconos Verbitas, que serão seguidos por outros 8 diáconos Carmelitas no dia 7 de junho, e 27 interdiocesanos (Dioceses de Maumere, Ende, Ruteng, Larantuka e Denpasar) no domingo, 9 de junho. A esses se seguirão as ordenações de cinco diáconos Camilianos no próximo dia 14 de julho, na festa de nosso fundador, São Camilo de Lellis”.
A mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio

Em algumas áreas do país, que o Papa visitará em setembro, membros do clero local e de ordens religiosas masculinas e femininas moram por alguns dias em famílias católicas, …

“Nos próximos meses, haverá também as profissões religiosas de numerosos noviços e noviças dos vários institutos masculinos e femininos presentes na Diocese de Maumere, que, no momento, atingiram o número de 62 comunidades religiosas”.
“Todos esses resultados vocacionais encorajadores – conclui o missionário – certamente recompensam o empenho dos vários promotores, mas também são um testemunho da fé e do espírito missionário de centenas e centenas de famílias na ilha de Flores, que continua sendo a mais católica das 17.000 ilhas do arquipélago indonésio. Talvez seja também por isso que Flores é chamada de “terra prometida” de vocações.
(com Fides)

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África Central, quando uma Porta Santa se abriu para o mundo

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015, foi aberto em um lugar sem precedentes, longe do coração cristão do mundo, a Basílica de São Pedro, mas dentro do coração do Papa Francisco, em Bangui. O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo da capital da África Central, revive aquele dia memorável e o significado benéfico que a visita do Pontífice produziu ao longo do tempo.
Maria Milvia Morciano e Jean Charles Putzolu – Vatican News
É tarde e a noite se prepara lentamente para chegar, tingindo o céu de rosa e dourado. A porta da Catedral de Notre-Dame em Bangui se abre, empurrada por duas mãos firmes. A figura de Francisco está de pé, vigorosa. Muitos anos se passaram desde aquele 29 de novembro de 2015, o primeiro dia do Advento e a data de início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que foi inaugurado, antecipadamente, em um lugar igualmente extraordinário, na capital da África Central. Pela primeira vez na história, a abertura da Porta Santa não se realiza na Basílica de São Pedro, no túmulo do Apóstolo, no centro do mundo cristão, mas em um lugar remoto, para muitos desconhecido.
Capital espiritual
A África Central é um dos países mais sangrentos e divididos do mundo. O Papa o escolheu justamente por esse motivo, para levar misericórdia e uma mensagem de paz a uma “terra que está sofrendo há vários anos com a guerra e o ódio, a incompreensão e a falta de paz. Mas nessa terra sofrida há também todos os países que estão passando através da cruz da guerra. Bangui se torna a capital espiritual da oração pela misericórdia do Pai. Todos nós pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana, por todo o mundo, pelos países que estão sofrendo com a guerra, pedimos paz!”, disse o Papa na praça da igreja, depois de sair de um papamóvel, desprovido de qualquer proteção contra possíveis perigos, onde o imã também concordou em se sentar.
Um gesto universal compreendido por todos
Uma tradição antiga é transferida para um país jovem. O significado de abrir a Porta Santa e cruzar o limiar está enraizado em um simbolismo ancestral que, em Bangui, se ramifica e dá novos frutos. Ele está revestido de futuro. O gesto do Papa Francisco foi revolucionário porque, em um lugar fechado, cheio de barreiras, ele abre uma porta para a esperança, convida as pessoas a entrarem para encontrar misericórdia e paz, para encontrar Cristo e serem transformadas. Ele traduz de forma cristã uma metáfora compreensível para todos, em qualquer lugar do mundo, de qualquer tradição, religião, experiência e história. Todos entendem que se trata de um rito de passagem fundamental e sagrado.
A linha de fronteira, o limes latim, ponto final, fechamento, é transformada em limen, limiar, abertura. Talvez não seja coincidência o fato de duas palavras opostas conterem a mesma raiz, mas é interessante lembrar o fato de que, na linguagem eclesiástica, a “visitatio ad limina apostolorum” é a visita dos peregrinos aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, que remonta aos primeiros séculos da Igreja, mais tarde estendida aos bispos. Tudo fala de Jubileu.
Portas Santas em toda parte
Naquele ano de Misericórdia, muitas Portas Santas foram abertas em todo o mundo, quase um sistema solar composto por milhares de estrelas brilhantes espalhadas pela Terra, mesmo nos lugares mais remotos. Foi uma grande oportunidade, um presente dado a todos, mesmo àqueles que, por vários motivos, não podiam se locomover e viajar. Foi um jubileu extraordinário que pôde ser vivenciado em todas as igrejas locais, permitindo que aqueles que quisessem vivenciar plenamente o evento, fazer a peregrinação e atravessar a Porta da Misericórdia em sua própria diocese.
Uma esperança que vem de Roma
O cardeal Dieudonné Nzapalainga, então arcebispo de Bangui, é um dos intérpretes nodais de seu país. Sua história é de fé e de uma árdua “luta pela paz”, lembrando o título de seu livro na versão italiana, publicado pela Livraria Editora Vaticana em 2022. O cardeal centro-africano compartilhou com a mídia vaticana, aos microfones de Jean Charles Putzolu, a memória daqueles dias e as consequências benéficas da visita do Papa à África Central.
Gostaria de levá-los de volta ao dia 29 de novembro de 2015, o primeiro domingo do Advento, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Foi em Bangui, na República Centro-Africana, portanto, em seu país: uma tradição muito antiga chegando a um país jovem. Em sua opinião, qual foi o significado desse gesto para todos os centro-africanos?
É um gesto único na história não apenas da Igreja universal, mas também da nossa Igreja.
Porque nós, centro-africanos, diante da violência, do sofrimento e da morte, encontrando-nos vivendo em um estado de absurdo, sentimos a esperança que veio de Roma por meio do homem de Deus, o Papa, que veio para aplacar, para trazer paz, tranquilidade e perdão, para trazer reconciliação, convidando nós, centro-africanos, a abrir as portas de nossos corações, cheios de ódio, rancor e vingança, para que pudéssemos nos enfrentar. É por isso que ele mesmo disse para depormos nossas armas: “leve a justiça, leve o amor”. Acredito que seu gesto será sempre lembrado aqui na República Centro-Africana. Muçulmanos, protestantes, católicos, todos nós somos unânimes em dizer que sua chegada foi salutar.
E o Papa de fato chegou. Ela se lembrou dessa mensagem, desse chamado para depor as armas. Havia uma enorme tensão até quase dois dias antes de sua chegada a Bangui. Houve mais tensão desde então? Essa mensagem foi ouvida? A mensagem do Papa foi ouvida e atendida? As armas ficaram em silêncio?
Acho que a mensagem foi ouvida. Passamos seis meses desde a partida do Papa como se estivéssemos em um país normal, algo impensável até dois dias antes de sua chegada. Sua chegada aliviou a pressão. Vimos muçulmanos saindo de seus enclaves para se juntarem a seus irmãos e irmãs católicos no estádio, para participar da grande celebração. As pessoas iam e vinham. O Km 5 [marco 5] era considerado um local onde havia muitas armas e, portanto, não se podia entrar. Mas fui até lá com os cristãos para acompanhar o Papa, dizendo aos muçulmanos: “vamos caminhar juntos!”
O Papa veio de Roma para a República Centro-Africana, os cristãos de Bangui deixaram nossos bairros para ir ao encontro de nossos irmãos, caminhando pela paz. Bem, nós marchamos e continuamos a fazê-lo desde aquele dia. Um líder rebelde nos disse que deveríamos conversar sobre espiritualidade com os imãs. Os imãs organizaram uma grande reunião para pedir aos líderes rebeldes que depusessem suas armas e muita coisa mudou desde então. Isso também foi resultado da visita do Papa.
Os imãs realizaram um grande encontro para pedir aos líderes rebeldes que deponham as armas e isso mudou muito. Esse também foi o resultado da visita do Papa, que nos deu um empurrão, nos fez recomeçar e agora estamos vendo os resultados. Hoje as armas não circulam mais como antes.
Em sua opinião, quais foram os outros frutos desse evento?
Foram os encontros entre jovens muçulmanos e jovens cristãos. Encontros bastante regulares entre mulheres muçulmanas e mulheres cristãs, e entre nós, líderes. Há pouco tempo, em março, uma mesquita a 250 quilômetros daqui foi vandalizada. O imã, o pastor protestante e eu falamos ao coração de nossos fiéis para desarmá-los e convidá-los a cooperar, respeitar, valorizar e respeitar o local. Esse, em minha opinião, é o fruto dessa passagem. Agora também pedimos que a justiça seja feita. Isso significa que aqueles que perderam suas casas devem poder recuperá-las, o que significa que aqueles que moram na casa do vizinho há muito tempo devem ter a gentileza de sair. E nós, líderes religiosos, trabalhamos com o coração. Há alguns que saem para deixar a casa para os proprietários sem passar pelos tribunais ou pelo Estado. Portanto, acho que isso também é proveitoso. Agora os corações estão dispostos e podemos conversar, podemos imaginar um futuro comum.
Quando o senhor diz que eles saem de casa, é porque eles realmente a devolvem ao seu legítimo proprietário, certo?
Exatamente isso.
Em um nível mais pessoal, Vossa Eminência, quais são suas lembranças mais fortes e talvez mais vívidas daquele período?
A lembrança mais vívida é a de entrar no quilômetro 5 dois dias antes: era impossível atravessar o posto de controle. Eu estava lá. Vi com meus próprios olhos: o Papa escolheu ir em um veículo não blindado, mas em campo aberto. Todos sabiam que havia muitas armas no local. Francisco teve a coragem de ir até lá e vimos que o imã também concordou em ir no papamóvel. Essa é a imagem mais forte. Quando saí para ir ao estádio, vi muçulmanos saindo em massa, arriscando suas vidas. Foi sua fé que os levou a sair. Um imã nos disse: ‘O Papa não veio para vocês, cristãos, mas para nós, muçulmanos. Estávamos no enclave, estávamos na escravidão. Ele nos libertou!”
Eminência, uma última pergunta: o senhor se tornou inseparável do Imã… entre cristãos e muçulmanos e também com os protestantes. Vocês realizam iniciativas juntos quase diariamente. Esse é outro fruto. É claro que é o resultado de seu trabalho, mas também é o resultado da visita do Papa…
A visita do papa nos confortou, incentivou e apoiou nesse trabalho. E fomos nós três que pedimos a ele que viesse à República Centro-Africana. Acho que todos nós somos gratos a ele. Esse é o fruto de sua passagem.
O Jubileu de 2025. Como estão se preparando para ele?
O Jubileu de 2025 é um momento importante para a Igreja. Bem, já estão sendo criados grupos aqui para refletir, orar, reunir-se e também para ver como, localmente, viveremos esse momento. Este ano celebraremos 130 anos de evangelização na República Centro-Africana e, ao mesmo tempo, estaremos caminhando para 2025, que está logo ali, e estamos trabalhando em ambos. Portanto, acho que há muito entusiasmo. Eu estava com um grupo de jovens que se encontrava na igreja em massa e dissemos uns aos outros: este é um momento importante porque é um momento de graça, mas também é um momento complicado e elevado. Não podemos deixar passar esse momento favorável.

O cardeal Dieudonné Nzapalainga

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