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Toussaint Louverture – Uma referência emancipadora

A 7 de abril de 1803, morria numa prisão francesa, Toussaint Louverture, líder da Revolução Haitiana e da criação da primeira República de negros libertada por eles próprios. Uma ousadia que lhes custou um elevado preço. No contexto que o Haiti está a viver atualmente, evocamos com o ensaísta, Filinto Elísio e o filósofo, Severino Elias Ngoenha o percurso do país ao longo destes 221 anos e as responsabilidades exógenas e endógenas pela situação a que se chegou.
Dulce Araújo – Vatican News 
A emissão semanal do Programa Português (África) da Rádio Vaticano, “África em Clave Cultural: personagens e eventos” evocou no dia 11 de abril de 2024 a figura de Toussaint Louverture, o maior líder da Revolução Haitiana, com o intento de proporcionar elementos que possam ajudar a compreender as causas profundas da situação em que o Haiti se encontra atualmente. 

Na sua habitual crónica, o poeta, ensaísta e editor  (Rosa de Porcelana Editora) Filinto Elísio traça o perfil desse grande líder, nascido escravo nas Caraíbas, mas que se libertou, venceu exércitos europeus e lutou para que os ideais de liberdade que animavam então o mundo beneficiassem todos os seres humanos, sem distinção alguma, indo assim, mesmo para além – explica o filósofo Severino Elias Ngoenha – da ideia de liberdade propagada pela Revolução Francesa e pela Revolução Americana. 

O filósofo, Severino Elias Ngoenha

Na sua lúcida análise das causas e consequência da aspiração de Toussaint Louverture à liberdade para todos, Ngoenha evidência a dificuldade de universalizar certos ideias por parte daqueles que as proclamam.  Essa dificuldade ou falta de vontade de estender esses direitos a todos, leva os haitianos, guiados por Toutsaint Louverture, a pegar em armas para conquistar esses direitos. 
Mas a ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder desemboca no restabelecimento da escravatura e, mais uma vez, os negros são obrigados a pegar em armas e a proclamar a própria independência.  
De boa fé, Toussaint Louverture chega a acordo com Napoleão que acabará, todavia, por traí-lo e emprisioná-lo em França, onde viria a morrer.
O preço económico que a França exigiu do Haiti como indemnização aos esclavagistas é, ao lado das várias invasões estrangeiras, um dos importantes fatores endógenos que – sublinha Nguenha – determinam a situação do Haiti hoje. Isto, sem excluir fatores endógenos como as diversas ditaduras por que o país tem passado.
Severino Elias Ngoenha põe ainda em relevo a ligação entre o Haiti e a África e compara o Haiti à Palestina, ambos postos em situação de não poder desabrochar dignamente pela comunidade internacional.

O quadro histórico traçado por Severino Elias Ngoenha leva a pensar que o Haiti está num beco sem saída. Em que se deve, então, basear então para encontrar o caminho do progresso, da elevação da sua cultura e da dignidade do seu povo?
Respondendo a este quesito, Severino põe em evidência a necessidade de uma séria intervenção da comunidade internacional, a necessidade de os africanos apoiarem esse povo, pois Haiti é, de certo modo, a génese da libertação da África.

Significa isso que Haiti por si só, não tem capacidade para sair da situação em que se encontra?
Ao responder a esta pergunta, Ngoenha recorda que todos os países em situações de emergência recorrem à ajuda de outros. Não há nenhum mal, nem vergonha nisso.

Finalmente, a concluir, este estudioso de Filosofia da História põe em realce o significado profundo de Toussaint Louverture e do Haiti para a África e afro-diaspóricos de hoje: ter a consciência de que confiar em pessoas, cuja lealdade não se conhece, subir para barcos de outros, pode ser perigoso. 

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