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Vaticano: lideranças indígenas voltam a pautar a Amazônia, ameaçada pela crise ambiental

Créditos de biodiversidade, etnoturismo e agrofloresta. São temáticas colocadas em pauta por brasileiros na Cúpula sobre a Crise Climática promovida na semana passada no Vaticano. Lideranças indígenas como o cacique Raoni e Almir Suruí participaram do evento representando o Brasil e enaltecendo a preocupação com os povos originários da Amazônia.

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Andressa Collet – Vatican News
O Vaticano sediou por três dias uma conferência internacional para reiterar a urgência de ações concretas para combater a crise climática global. De 15 a 17 de maio, as Pontifícias Academias das Ciências  e das Ciências Sociais receberam pesquisadores, líderes religiosos e administrativos para o evento, como representantes indígenas do Brasil. Entre eles, o cacique Raoni, líder da comunidade Kayapó e há décadas envolvido na defesa da Amazônia – que inclusive encontrou o Papa Francisco na última quinta-feira (16/05). No grupo também estava Almir Narayamoga Suruí, representante do povo Paiter Suruí, que foi entrevistado por Silvonei José, do Vatican News.

Almir é líder do território indígena Sete de Setembro

O líder brasileiro faz parte de um comitê internacional, formado por representantes da França e do Reino Unido, que está analisando o tema dos créditos de biodiversidade, um tipo de incentivo financeiro para conservação, restauração e uso sustentável de recursos naturais, como a própria valorização da cultura indígena. Segundo Almir, essa participação “potencializa a participação dos povos indígenas nas decisões internacionais e nacionais sobre o tema das mudanças climáticas, do meio ambiente e de outros que interferem a vida da humanidade”. A oportunidade é sinal de abertura a um maior diálogo com os povos originários, já que “a questão indígena nunca foi prioridade para ninguém. Nós sempre somos os últimos dos últimos”, desabafou Almir.
De Rondônia para o Vaticano
Ele é líder do território indígena Sete de Setembro, de 248 mil hectares de floresta e 1700 pessoas, que fica no município de Cacoal, em Rondônia. A região, segundo Almir, trabalha com sistema de agrofloresta produzindo café, cacau e castanha. Além disso, estão procurando parceiros para construir um complexo de etnoturismo que ofereça aos visitantes uma possibilidade de conhecer de perto a vida, os costumes e a cultura local, além do uso responsável das plantações, para gerar uma fonte de renda para as aldeias, para que consigam se sustentar financeiramente com esse tipo de turismo. “Estamos lutando dessa maneira para que a gente possa mudar a forma de desenvolver a Amazônia economicamente”, reinterou o líder indígena.
“A gente tem tentado mostrar que é possível você desenvolver economicamente sem destruir todo o meio ambiente. A partir de um programa de desenvolvimento sustentável, com agrofloresta, potencializando o produto da floresta, economicamente. Ali também estamos tentando construir uma estrutura que possibilita desenvolver a Amazônia de forma planejada, com responsabilidade e consciência econômica, combatendo as mudanças climáticas, combatendo o desmatamento ilegal, combatendo outros fatores que podem acontecer com os problemas de mudanças climáticas que todo mundo está sofrendo hoje.”

“Nada é intocável, mas a gente precisa saber que é necessário respeitar os critérios da terra, da floresta que gera para nós.”

As mudanças que protejam o meio ambiente são fundamentais para que a humanidade não venha a sofrer ainda mais com a crise climática global:
“Quando a terra não terá força para produzir, o que a humanidade vai comer? Se secar a água, o que nós vamos beber? O que adianta ter muito dinheiro para comprar o que se faltar comida? Então, agora é a hora de a gente se unir, criar estratégias, como que nós podemos trabalhar juntos, trazer o equilíbrio do meio ambiente e preparar a nossa juventude para que ela possa ter a capacidade e a consciência de lutar e garantir para o seu próprio futuro e novas gerações.”

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