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Von Braun: da sabedoria indígena, uma contribuição extraordinária à área da saúde

À margem de um encontro no Vaticano sobre os povos indígenas, o presidente da Pontifícia Academia das Ciências enfatiza que a visão de mundo desses grupos étnicos, ao contrário da população global urbanizada, está intimamente ligada à sua relação com a natureza: muitos não sabem que, para as principais doenças, cerca de 50% dos nossos medicamentos são derivados desse conhecimento das propriedades curativas das plantas.

Deborah Castellano Lubov – Vatican News
Os povos indígenas têm uma riqueza de sabedoria para proteger o mundo que, com a ajuda da ciência, pode enfrentar as crises que afligem o planeta. Em particular, esses povos deram uma contribuição extraordinária no campo da saúde. Foi o que afirmou Joachim von Braun, presidente da Pontifícia Academia das Ciências em entrevista ao Vatican News, à margem do encontro sobre os povos indígenas no Vaticano.
O título do workshop promovido pela Pontifícia Academia das Ciências na semana passada foi “O Conhecimento dos Povos Indígenas e as Ciências” (“La conoscenza delle popolazioni indigene e le scienze. Combinare conoscenza e scienza su vulnerabilità e soluzioni per la resilienza”). Na última quinta-feira (14), houve uma audiência com o Papa Francisco, que pediu que o conhecimento e a ciência dos povos indígenas fossem levados em conta no enfrentamento dos desafios impostos pelas mudanças climáticas, perda de biodiversidade e ameaças à segurança alimentar e à saúde.
Dr. Joachim von Braun, esse workshop reuniu líderes indígenas e de organizações internacionais para discutir a ligação entre a sabedoria dos povos indígenas e a ciência. Como os dois estão relacionados e quais são os pontos de convergência?
O conhecimento dos povos indígenas foi gerado ao longo de muitas gerações. A humanidade aprendeu por meio da experiência, da tentativa e erro e do questionamento de soluções e oportunidades. Essa abordagem realmente vincula o conhecimento indígena à ciência. Os cientistas também são movidos pela curiosidade, pela dúvida e pela busca de soluções para os problemas da humanidade. A diferença entre as duas sabedorias é que a ciência trabalha em um ambiente baseado na teoria experimental, e não na experiência. Colocá-las lado a lado oferece grandes oportunidades para abordar as questões de biodiversidade, saúde e agricultura.
Durante a audiência com o Papa Francisco, o Pontífice disse que é necessária uma conversão ecológica. Como esse workshop contribui para essa meta com a ajuda dos povos indígenas?
A visão de mundo dos povos indígenas, diferentemente da visão da população global urbanizada, está intimamente ligada à sua relação com a natureza, especialmente no que trata ao respeito pela natureza e pelos processos naturais. Portanto, aprender com a sabedoria indígena também é útil para a comunidade científica. Nós, da Pontifícia Academia das Ciências, defendemos que não há conflito entre fé e ciência. O mesmo se aplica às comunidades de povos indígenas. Temos pontos em comum. Ambos precisamos nos concentrar na redução do consumismo. Nossos hábitos de consumo em todo o mundo estão levando a mudanças climáticas, perda de biodiversidade e destruição da natureza. Portanto, a ciência e o conhecimento indígenas devem questionar os aspectos de produção e consumo de nossos estilos de vida.
O que o impressionou nas vozes indígenas ouvidas durante esse workshop?
O conhecimento dos povos indígenas no campo da saúde prestou um enorme serviço à humanidade. Muitas pessoas não sabem que cerca de 50% dos nossos medicamentos são derivados do conhecimento dos povos indígenas sobre as propriedades curativas das plantas para as principais doenças. Muitos de nós já sabiam disso, mas o público em geral não. Infelizmente, os povos indígenas ainda não desfrutam de direitos iguais. Especialmente os jovens e as mulheres das comunidades indígenas sofrem com a falta de direitos e oportunidades. Percebemos que sistemas educacionais inovadores, que abordam essas questões, podem fazer uma grande diferença. Os sistemas educacionais que atendem aos jovens dos povos indígenas e aos jovens do mundo em geral, com base na sabedoria da natureza, podem ajudá-los a entender e implementar a sustentabilidade do futuro.
Há algo mais que você gostaria de acrescentar?
O conhecimento dos povos indígenas não se limita à Terra, mas olha para o céu. Foram expressas sérias preocupações que precisam ser abordadas. A observação do céu está sendo cada vez mais prejudicada pela poluição luminosa e por dezenas e dezenas de milhares de satélites.

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